De líder dos sem-teto a ministro? relembre trajetória de Boulos, cotado para ocupar cargo no Planalto

A nomeação do deputado federal Guilherme Boulos (Psol-SP) como ministro da Secretaria-Geral da Presidência pode, finalmente, ocorrer nos próximos dias. O presidente Lula (PT) indicou a auxiliares que a substituição do atual chefe da SGP, Márcio Macêdo, pelo parlamentar deve ser feita logo após o seu retorno dos Estados Unidos, conforme revelou a Folha de S. Paulo.

O psolista é cotado para o cargo há algum tempo e foi figura presente nos vários ensaios do governo para uma reforma ministerial. Desta vez, segundo disse um deputado petista ao JOTA, a troca deve “ser para valer”, mas, confidenciou, Boulos espera ver seu nome no Diário Oficial da União para crer.

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Boulos ganhou projeção nacional na militância do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e deve chegar ao governo cerca de um ano antes das eleições. O deputado é uma das figuras centrais do cenário atual da esquerda brasileira, sendo considerado um possível sucessor de Lula. Sua trajetória é divida entre a articulação política em São Paulo, onde tentou se eleger prefeito duas vezes, e a atuação no Congresso Nacional – mais recentemente, alvo de críticas da oposição pela posição favorável ao arquivamento do caso de rachadinha do deputado André Janones (Avante-MG).

Na última semana, o deputado foi voz ativa nas manifestações contra a chamada PEC da Blindagem, proposta de emenda à Constituição que amplia a proteção de parlamentares na justiça, arquivada nesta quarta-feira (24/9) no Senado. A habilidade do engajamento político o coloca como um nome de relevância na próxima campanha eleitoral de Lula ao assumir, justamente, a secretaria responsável por articular as relações políticas do governo com os diferentes segmentos da sociedade civil.

Militância desde os 15 e quatro eleições na conta

Aos 43 anos, Boulos está no seu primeiro mandato como deputado federal. Foi eleito em 2022 com mais de 1 milhão de votos, sendo o mais votado do estado. Na Câmara, entre 2023 e 2024, assumiu a liderança da bancada do PSol, partido que integra desde 2018.

O histórico de militância do parlamentar começou na década de 1990. Aos 15 anos, ele ingressou no movimento estudantil. No início dos anos 2000, passou a integrar o MTST. Em 2003, teve papel de destaque na coordenação da invasão a um terreno da Volkswagem, em São Bernardo do Campo e se tornou conhecido.

O primeiro cargo eletivo foi disputado somente em 2018, quando concorreu à Presidência da República. Sua vice era Sônia Guajajara, hoje, ministra dos Povos Indígenas. Na eleição seguinte, em 2020, concorreu à prefeitura de São Paulo, chegando ao segundo turno contra Bruno Covas (PSDB).

Já eleito deputado, Boulos voltou a disputar São Paulo, em 2024. Desta vez, em aliança com o PT, tendo a ex-prefeita Marta Suplicy como candidata a vice. Ele protagonizou a eleição de primeiro turno mais acirrada da história da capital e foi ao segundo turno contra Ricardo Nunes (MDB) com uma diferença de apenas 0,41 ponto percentual, cerca de 25 mil votos. O deputado, no entanto, foi derrotado pelo atual prefeito paulista.

Rachadinha de Janones

No ano passado, Boulos foi alvo de críticas por parecer favorável a Janones em caso de desvio de salários de assessores ocorrido entre 2019 e 2020. O deputado era relator de processo contra o parlamentar mineiro no Conselho de Ética da Câmara em que era acusado da prática de rachadinha em seu gabinete. Boulos apresentou parecer favorável ao arquivamento do caso. A justificativa foi a aplicação de uma cláusula regimental que impede a punição de atos praticados em legislaturas anteriores ao mandato em curso. A posição de Boulos foi amplamente utilizada por adversários na disputa eleitoral em São Paulo e tema frequente em sabatinas.

À época, o deputado se defendeu dizendo: ”Eu sempre disse e reafirmo: ‘rachadinha’ é crime. Quem comete, seja o Flávio Bolsonaro ou qualquer outro, tem que responder na Justiça. E, se a Justiça comprovar que a pessoa é culpada, tem que ser punido. Isso vale para o Janones, para o Flávio Bolsonaro, para quem for. Agora, não era isso que estava em jogo no Conselho de Ética”, declarou em entrevista de junho de 2024.

O que faz o Secretário-geral da Presidência?

A SGP funciona no Palácio do Planalto, junto à Casa Civil, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e às secretarias de Comunicação Social (Secom) e Relações Institucionais (SRI) e o Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

A pasta, comandada por Márcio Macêdo desde o início do terceiro mandato de Lula, tem a função de coordenar as relações do governo com a sociedade civil e a juventude e formular políticas públicas voltadas para esses grupos. Cabe ainda à secretaria liderar debates sobre plebiscitos e referendos, fomentar instrumentos de consulta popular, incentivar processos de participação social e articular agendas com movimentos sociais.

A SGP também é responsável por estabelecer diretrizes para a gestão de parcerias entre o governo federal e organizações da sociedade civil, promover ações de educação popular e de fortalecimento de mecanismos democráticos de diálogo.

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