Os cortes de geração de energia renovável cresceram 230% de janeiro a agosto de 2025, em comparação com o mesmo período do ano passado, acarretando prejuízos de R$ 3,2 bilhões para o setor. É o que mostra um estudo da consultoria Volt Robotics elaborado a partir de dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
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Segundo a pesquisa, os cortes somaram 51 megawatts-médios de janeiro a agosto de 2022. Esse número cresceu para 150 MWmédios no mesmo período de 2023 e depois saltou para 3.256 MWmédios em 2025.
Desde janeiro deste ano, foram descartados 17,2% de toda a geração solar e eólica que poderia ser produzida no país, o que equivale a todo o consumo do estado do Paraná durante um mês.
Conhecidos como curtailment, os cortes de geração são determinados pelo ONS. Com a expansão estimulada das usinas eólicas e solares nos últimos anos, essas unidades passaram a sofrer cortes devido, principalmente, à falta de demanda por excesso de geração de energia elétrica em determinados horários do dia.
Os cortes acontecem principalmente durante o dia, quando a incidência solar é maior e a demanda por energia elétrica, menor. O curtailment também aumenta aos finais de semana devido à falta de demanda.
“Durante as manhãs, fica uma geração muito concentrada. E é nessa hora que o ONS vê que não tem espaço para alocar toda a geração disponível, e aí ele vai cortando as usinas, principalmente as eólicas e solares”, afirma o CEO da Volt, Donato Filho, em entrevista ao JOTA.
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“O que faz mudar tanto? Primeiro, o crescimento da oferta de energia no período da manhã, por conta da geração solar, principalmente a geração distribuída, e critérios mais restritivos por parte do operador.”
Desde que o ONS passou a divulgar os dados sobre cortes de geração em outubro de 2021, os prejuízos acumulados para usinas eólicas e solares chegam a R$ 5,8 bilhões. Empresas do setor judicializaram esse passivo por entenderem que os cortes não são de sua responsabilidade.
Nesta terça-feira (23/9), o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, defendeu que há espaço de compensação às empresas nos casos de falta de estrutura e planejamento, mas que a falta de demanda é risco do investidor.
Apenas no último mês de agosto, o corte médio de geração eólica e solar foi de 5.800 MWmédios, o maior já registrado. Para efeito de comparação, a geração da parte brasileira de Itaipu, a maior usina hidrelétrica do país, somou 4.050 MWmédios no período.
Os cortes de geração atingem as usinas de forma desigual. Os estados mais afetados são Minas Gerais, Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco.
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O excesso de oferta de energia é apenas um dos fatores que contribuem para o curtailment. Em agosto, 57% dos cortes ocorreram devido à falta de demanda, enquanto 38% se deveram a razões de confiabilidade do sistema de transmissão e 5% foram causados por indisponibilidade da rede elétrica.
Nesse sentido, o estudo da Volt aponta que uma das medidas para melhorar a confiabilidade do sistema elétrico é a aceleração das obras com vista ao aumento da capacidade de transmissão da região Nordeste para o Sudeste.
Outra medida defendida pela consultoria é a adoção de tarifas flexíveis por horário, de forma a incentivar o consumo durante os períodos de maior incidência de cortes. A MP 1300 previa essa possibilidade, mas o trecho acabou sendo suprimido pelo Congresso devido a resistências do setor de geração distribuída.
“Isso seria muito bom para fomentar consumo nos fins de semana e consumo sempre durante as manhãs, das 8 até as 14 horas, onde hoje em dia a gente tem sobra de energia. Então a tarifa tinha que ser mais baixa para incentivar o consumo”, afirma Donato Filho.
De acordo com a consultoria, uma das formas de diminuir o impacto da Micro e Minigeração Distribuída (MMGD) na rede de transmissão seria estimular a instalação de baterias químicas para armazenar o excesso de energia gerada por meio de placas fotovoltaicas instaladas nos telhados das unidades consumidoras.
“Quando a gente pensa em instalar uma bateria na rede, você tem que fazer uma obra, você tem que fazer muita coisa para aquela bateria entrar em operação. No caso das baterias acopladas aos microgeradores, não há necessidade de transformador e outros equipamentos. Então elas ajudariam a resolver o problema de forma muito rápida”, diz o CEO da Volt.
Na última sexta-feira (19/9), representantes da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) se reuniram com integrantes do ONS para discutir soluções para o curtailment. Uma das opções analisadas é a inclusão nos cortes de unidades maiores de geração distribuída, conhecida como GD-III.