A indefinição quanto ao futuro eleitoral do governador Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos-SP) está fazendo com que Gilberto Kassab, secretário estadual de Governo e presidente nacional do PSD, se movimente em busca de alternativas que aumentam sua relevância no cenário político nacional e, consequentemente, seu poder de negociação.
Kassab vem emitindo sinais de que não pretende permanecer completamente a reboque do atual governador e, segundo seus interlocutores mais próximos, teme ser abandonado ou mesmo “traído” por Tarcísio após ter sido decisivo para sua vitória na disputa do Palácio dos Bandeirantes contra Rodrigo Garcia, então no PSDB, e Fernando Haddad (PT), em 2022.
Para 2026, o cenário é outro. Kassab planeja voltar a ter um mandato (o último foi o de prefeito de São Paulo entre 2006 e 2012) e não depender apenas de uma eventual nomeação ou do jogo de forças políticas no entorno do governador. O secretário sente que não conta com o “entusiasmo” do Bandeirantes em relação a seus projetos.
A relação entre o secretário e Tarcísio, que já não vinha bem, agora ficou ainda mais tensa após Kassab ter afirmado que deixará a secretaria até abril próximo. O anúncio foi entendido no mundo político como um recado claro do presidente nacional do PSD de que pretende participar ativamente das próximas eleições, seja como principal articulador e referência nacional do PSD, seja como candidato a um mandato que lhe garanta independência. Por isso, ele se apressou em anunciar que se desincompatibilizará da secretaria de Governo.
Kassab e Tarcísio foram se afastando politicamente desde o início do atual mandato. Em sentido inverso, o governador se aproximou de Felício Ramuth (PSD), seu vice, como mostrou o JOTA. Dentro do Bandeirantes, o secretário de Governo tem como contraponto seu colega da Casa Civil, Arthur Lima, que possui grande afinidade com Tarcísio e praticamente assumiu as articulações políticas com a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), por exemplo.
Para evitar uma divisão no campo da centro-direita em São Paulo, aliados do governador e do secretário passaram a costurar soluções que contemplem, ao menos em parte, os projetos políticos de Kassab sem contrariar as determinações e ambições de Tarcísio.
Cenários
Se Tarcísio concorrer à reeleição, Gilberto Kassab gostaria de ser seu vice ou entrar na disputa pelo Senado com total apoio do governador. Caso Tarcísio concorra ao Planalto, o secretário almeja, principalmente, ser o indicado dele como único nome para o Palácio dos Bandeirantes.
No entanto, segundo apurou o JOTA, os planos do governador e de seus aliados mais fiéis são outros: se ele disputar a reeleição, Ramuth deverá ser mantido onde está; se Tarcísio sair para presidente, Ramuth assume e concorre à reeleição.
Como nenhum desses cenários contempla Kassab para o Executivo, aliados do governador e do secretário articulam uma solução heterodoxa, que inclui a saída de Ramuth do PSD para disputar o governo por outro partido e ter Kassab como vice pelo PSD.
Por esse arranjo, o atual secretário de Governo, em caso de vitória da chapa, se tornaria a opção natural para o Bandeirantes em 2030 porque Ramuth não poderia mais ser reeleito. Desde que decidiu apoiar Tarcísio em 2022, Kassab vem acalentando essa possibilidade de ser vice a partir de 2027. O presidente nacional do PSD teria, inclusive, indicado o aliado Ramuth para a vaga para guardar lugar a ele no projeto eleitoral do partido em São Paulo.
Com o fortalecimento do vice, no entanto, a ideia agora é que Ramuth possa se transferir para o Republicanos, partido do governador, ou mesmo para o PL. No entanto, se a decisão eleitoral do governador for permanecer em São Paulo, Kassab terá de negociar com Tarcísio a substituição de Ramuth ou enfrentar o vice na convenção estadual do PSD para ser o indicado do partido na chapa da reeleição, possibilidade considerada “traumática” dentro do atual campo da centro-direita em São Paulo.
Para o Senado, Progressistas, MDB, PL e União Brasil, partidos que formam com o PSD e o Republicanos, a frente de apoio a Tarcísio em São Paulo, por ora não abrem mão de lançar candidatos como condição de permanência no projeto político do atual governador, seja ele qual for.
Em termos práticos, é pequena a chance de Kassab ficar com uma das duas vagas ao Senado na chapa se Ramuth permanecer no PSD. O MDB articula, por exemplo, lançar o deputado federal Baleia Rossi, e o Progressistas também quer ver o deputado federal Guilherme Derrite na vaga. O maior problema, porém, é convencer o PL a abrir mão de uma das vagas, que seria destinada a Eduardo Bolsonaro. Valdemar da Costa Neto, presidente do partido, articula uma substituição ao filho do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Âmbito nacional
Diante das dificuldades desse grupo de contemplar Kassab na costura estadual, líderes do PT avaliam que o presidente do PSD poderá divergir da orientação de Tarcísio no âmbito nacional caso o governador decida permanecer em São Paulo.
De olho nessas movimentações, o Planalto e o PT avaliam ser grande a possibilidade de Kassab, diferentemente de Tarcísio de Freitas, não subir em um palanque nacional que tenha um representante da família Bolsonaro. Nesse cenário, o presidente do PSD deve lançar Ratinho Jr. (PSD-PR) ou Eduardo Leite (PSD-RS) à Presidência, o que, ao menos em tese, pode favorecer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) porque divide o campo da centro-direita do eleitorado.
Em um eventual segundo turno entre Lula e Flávio Bolsonaro, por exemplo, o PSD pode declarar “neutralidade” e liberar seus filiados e candidatos a seguirem o caminho que acharem mais conveniente em cada estado. Há ainda, na avaliação do PT, a chance de Ratinho Jr., principalmente, ser candidato a vice de Lula, uma manobra arrojada, mas não de todo impossível. Entre os petistas, há até quem defenda o próprio Kassab como vice de Lula se esse movimento inviabilizar o centro e a direita.