O ex-assessor de Jair Bolsonaro Filipe Martins informou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que não teve contato com a minuta golpista – ele é acusado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de entregar ao ex-presidente o documento em dezembro de 2022. Também disse que tinha divergências com o delator Mauro Cid quanto ao assessoramento de Bolsonaro, que não viajou para os Estados Unidos com a família do ex-presidente, que se considera “um preso político” e que houve pressão para ele ser delator.
O réu prestou depoimento nesta quinta-feira (24/7) conduzido pelo juiz auxiliar Rafael Henrique Tamai, do gabinete do ministro Alexandre de Moraes, relator da AP 2693.
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Filipe Martins é apontado pela PGR como um dos principais personagens da trama golpista De acordo com a denúncia, ele era assessor internacional de Jair Bolsonaro e teria apresentado a minuta golpista ao ex-presidente. Também teria auxiliado Bolsonaro a mostrar a minuta aos ex-comandantes das Forças Armadas em uma reunião em 7 de dezembro de 2022. Martins nega participação em reunião e a elaboração do documento. “Essa afirmação [sobre a minuta] se dá com base apenas na fala do delator”, afirmou. “Me tornei réu por uma minuta fantasma e que não existe.”
Durante o interrogatório, Filipe Martins caracterizou Mauro Cid como uma “pessoa excessivamente solícita e que se imiscuía em todas as áreas”. O ex-assessor também contou que Cid tinha formação na área de relações internacionais, “o que acabava fazendo com que tivesse algumas divergências em relação ao assessoramento do presidente, que era função, a princípio, minha, não dele”, disse. “Mas que acabava levando ali a alguns momentos de divergências, enfim, nada muito grave”.
Filipe Martins colocou em xeque a delação de Cid e disse que o colaborador procurou “bodes expiatórios”. “O próprio relator, ministro Alexandre Moraes, em diversas ocasiões, trouxe o Mauro Cid para prestar esclarecimento, chegando a dizer, inclusive, que havia indícios de que, por relações pessoais ou relações de subordinação e hierarquia, ele poderia estar protegendo pessoas”, disse.
“E eu tenho a firme convicção de que da mesma forma que ele poderia, talvez, estar protegendo pessoas, ele poderia estar selecionando bodes expiatórios, que é o que me parece que ele tentou fazer, me colocando numa reunião que todas as demais testemunhas dizem que eu não estava, que todos os elementos técnicos mostram que eu não estava”, complementou.
O ex-assessor também disse que, ao ser preso, “começa a ver todo tipo de pressão dessa natureza [para ser delator]”, com matérias na imprensa, como, por exemplo, dizendo que ele seria o próximo delator.
Gabinete de crise
Questionado pelo juiz o motivo pelo qual o nome dele constava entre os integrantes da estrutura organizacional de um gabinete institucional de gestão de crise pós-golpe, Filipe Martins disse que pode ser um homônimo e fez analogia com jogo de futebol de videogame para responder à questão.
“O senhor me permite, eu jogo Fifa no videogame e ali, evidentemente, eu escolho o Cristiano Ronaldo, escolho o Messi, escolho o Neymar. Isso não significa que eu tenha nem o cacife para contratar essas pessoas para jogar no meu time e nem em relação com essas pessoas”, disse. “Então, ao que me parece, o que se pode inferir a partir do que consta na imprensa, é que aquilo ali era uma lista meramente aspiracional ou até mesmo algo ali de natureza especulativa”.
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Filipe Martins também afirmou que teve um passaporte diplomático extraviado em 2021 e foi com esse documento que teria sido registrada uma entrada dele nos Estados Unidos. “Esse passaporte diplomático não existia mais desde 2021, que é justamente o passaporte que ressurge depois, enquanto eu estava preso em abril de 2024 no registro de entrada que, como o senhor sabe, está sendo investigado nos Estados Unidos”.
O ex-assessor de Bolsonaro reclamou da prisão preventiva a qual foi submetido, da restrição às entrevistas e disse que ficou preso por uma lista falsa de embarque para os Estados Unidos. O delegado da Polícia Federal (PF) Fábio Shor, responsável pelo indiciamento de Martins disse, na segunda-feira (21/7), que o pedido de prisão preventiva de Filipe Martins não foi motivado pela sua suposta ida aos Estados Unidos, mas sim pela tentativa de atrapalhar as investigações. Hoje, Filipe Martins está em liberdade provisória.