Uma reunião histórica em Santiago de Compostela

Há dois milênios, os discípulos de Santiago carregaram o corpo de seu mestre desde Jerusalém, em uma longa jornada de mais de 4.000 quilômetros pelo Mediterrâneo, que culminou no local que hoje conhecemos como Santiago de Compostela. Sobre seu corpo foi erguida uma capela que, ao longo dos séculos, se tornou a Catedral de Santiago, um lugar emblemático para peregrinos de todos os cantos do mundo.

Nesta semana, uma delegação de autoridades da América Latina e do Caribe pousará em Santiago de Compostela carregando, como os peregrinos, grandes desafios, expectativas e sonhos. As delegações latino-americanas e caribenhas chegam com um plano de ação bem definido: impulsionar as relações econômicas, comerciais e de cooperação com a União Europeia (UE) e gerar novas sinergias para enfrentar juntas grandes desafios globais como as mudanças climáticas, a transformação digital, a segurança alimentar e a redução da pobreza.

Este caminho de diálogo começou em Santiago do Chile, em março passado, e chegaremos a Santiago de Compostela neste 15 de setembro para celebrar um encontro histórico, organizado pelo governo da Espanha e pelo CAF – Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe, que reunirá pela primeira vez os 33 ministros da economia e finanças da região com seus 27 homólogos da UE, a fim de estabelecer uma agenda de investimentos europeus em setores-chave do desenvolvimento latino-americano, em conformidade com a Agenda 2030.

Nestes meses, acompanhamos nossos países e promovemos a consolidação de um bloco latino-americano em várias instâncias internacionais. A mais recente delas foi a Cúpula de Bancos Públicos de Desenvolvimento Finance in Common, realizada em Cartagena na semana passada. Vários tópicos discutidos serão novamente abordados, incluindo a necessidade de canalizar os Direitos Especiais de Saque (DEG), bem como as trocas de dívida por proteção ambiental como mecanismos para aumentar a capacidade de resposta à atual crise climática.

Os pontos de partida da Europa e da América Latina são diferentes. Mas se conseguirmos compreender isso, poderemos chegar rapidamente a soluções. Em Santiago de Compostela, precisamos encontrar respostas conjuntas para a adaptação e mitigação das mudanças climáticas e a proteção do capital natural. Também teremos que criar novos instrumentos que incentivem o crescimento econômico e, ao mesmo tempo, reduzam a pobreza e as emissões, preservando a biodiversidade para proteger a vida no planeta.

Esta é uma oportunidade única para aprofundar uma relação mutuamente benéfica. É uma oportunidade para restaurar a Mata Atlântica na América do Sul, falar sobre a Pampa, os Andes, a Mesoamérica, o Trifinio, a bacia do Caribe. Precisamos que a região seja vista como um espaço integral e não como pedaços de um continente. Por exemplo, queremos que empresas italianas, alemãs, francesas ou espanholas possam vir fabricar baterias na região, em vez de simplesmente comprar o lítio como matéria-prima. Queremos que elas se associem a governos e empresas latino-americanas para desenvolver novas tecnologias, assim como fizeram na China com a produção de ferrovias.

Este novo entendimento das relações entre a UE e a região está refletido na agenda de investimentos da Global Gateway, a plataforma global de investimentos e cooperação do bloco europeu. Até agora, a UE identificou 136 projetos, e o CAF participará de pelo menos 70 deles em nível nacional e regional. Por exemplo, levaremos conectividade a 85% dos colombianos até 2026, ajudaremos a produzir hidrogênio verde no Chile e no Uruguai, e impulsionaremos soluções de eletromobilidade em Bogotá, San José, Quito e São Paulo. A boa notícia é que temos uma metodologia e um compromisso por parte dos bancos públicos de desenvolvimento para fortalecer e dar forma a essas iniciativas.

Ao implementar esses projetos, teremos uma região muito mais verde, sustentável e preparada para as mudanças climáticas, bem como mais produtiva e com um melhor uso da tecnologia. Para isso, precisamos da capacidade de articulação dos bancos de desenvolvimento para garantir que esses projetos cheguem efetivamente ao seu destino, superem os ciclos políticos dos países e evitem serem perdidos pelo caminho.

Nesse sentido, o papel dos bancos multilaterais de desenvolvimento é fundamental para concretizar a nova agenda de investimentos europeus. Os bancos de desenvolvimento regionais, subregionais e nacionais precisam trabalhar de forma mais harmoniosa, compartilhar mais informações e conhecimento. Não podemos nos ver separadamente, mas como um sistema. Um exemplo de que trabalhando em conjunto se obtêm bons resultados foi a Mesa Empresarial UE-LAC organizada pela Comissão Europeia, o BID e o CAF, que resultou em investimentos de 45 bilhões de euros da UE para a região.

Os latino-americanos e caribenhos esperam resultados concretos de reuniões como a de Santiago de Compostela. Portanto, precisamos ser ambiciosos para cumprir nossa parte neste projeto de desenvolvimento e sustentabilidade da América Latina e do Caribe. Nesta semana, tudo está pronto para que as delegações latino-americanas e caribenhas deixem sua marca no caminho latino-americano de Santiago.

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