Desde que Zohran Mamdani venceu as eleições para prefeito de Nova York, é comum ouvir questionamentos sobre se ele seria um outsider. De acordo com os critérios conceituais, não é possível enquadrá-lo nessa categoria, mas como o termo vem sendo utilizado de forma indiscriminada, é comum que persistam dificuldades de aplicação e a casos reais.
Segundo estudiosos do tema, os outsiders são classificados de acordo com a sua localização em relação ao sistema político. Um exemplo é aquele candidato que concorre fora dos partidos tradicionais: seja independente, por um partido recém-criado apenas como veículo eleitoral ou por partidos antigos, mas marginais, sem expressão no sistema partidário. Não é o caso de Mamdani, eleito pelo Partido Democrata, uma das duas principais estruturas do bipartidarismo americano.
Um outro tipo de outsider é o candidato sem experiência política prévia. Alguém que nunca serviu em cargos eletivos ou nomeados, e cuja visibilidade pública foi obtida fora da arena política. Também não se aplica ao caso, uma vez que Mamdani exerceu um mandato na Assembleia do Estado de Nova York, coordenou campanhas eleitorais e teve atuação em organizações estudantis, como a cofundação do grupo Estudantes por Justiça na Palestina, durante sua graduação.
Por que, então, ele é frequentemente confundido com um outsider?
Mandami não se parece com um típico político do establishment de seu país. Ele é um jovem de 34 anos, muçulmano, nascido em Uganda, filho de pais imigrantes, que se mudou para os EUA aos sete anos e se declara um Democrata Socialista. Com apenas quatro anos de experiência como deputado, ele fez questão de mostrar que era o oposto de seu principal adversário, Andrew Cuomo, político veterano do Partido Democrata, de 67 anos, com mais de três décadas de carreira, ex-governador de Nova York e figura de destaque em diferentes governos do partido.
Embora o conceito de político outsider seja fundamentado na localização partidária e na experiência política, muitos candidatos recebem o rótulo por causa de seu discurso antiestablishment político. Trata-se de uma retórica que opõe “povo” e “classe política” e que também fundamenta parte da literatura sobre populismo. Há muitos estudos que mostram como o sentimento anti-establishment tem crescido no eleitorado estadunidense, tanto entre grupos de direita quanto de esquerda.
Mamdani soube se apresentar como distante do “establishment” político, mesmo sendo deputado e concorrendo por um partido tradicional. Em seu vídeo viral de lançamento de campanha, ele defende que a vida naquela cidade não precisa ser tão difícil, mas políticos como seus adversários querem que seja assim, porque eles só se importam consigo mesmos e seus doadores de campanha, e não com a classe trabalhadora.
Sua campanha foi centrada no custo de vida dos nova-iorquinos, com três propostas claras: congelamento do preço dos aluguéis, creche universal e transporte público mais rápido e gratuito. Esse tipo de discurso o aproxima dos problemas cotidianos das pessoas e reforça a percepção de que ele está mais próximo delas do que da classe política.
“Life in this city doesn’t need to be this hard, but politicians like Eric Adams and Andrew Cuomo want it to be this way. They care about their donors; they care about themselves.” Em tradução livre: “A vida nesta cidade não precisa ser tão difícil, mas políticos como Eric Adams e Andrew Cuomo querem que seja assim. Eles se importam com seus doadores; eles se importam consigo mesmos”.
Muitos observadores atribuem seu sucesso eleitoral à estratégia comunicacional das redes digitais, com identidade visual forte e muitos vídeos virais, mas seu principal trunfo foi ser percebido como autêntico e sincero pelos seus eleitores.
Classificar políticos como outsiders apenas pelo discurso é metodologicamente incorreto, embora essa dimensão raramente esteja ausente entre outsiders reais. No caso de Mamdani, porém, a imagem de outsider não se deve apenas à retórica.
Sua curta trajetória política lhe permitiu diferenciar-se da política tradicional sem, contudo, colocar-se fora dela. Ele não é um outsider, mas um político relativamente novato que desafiou atores consolidados e venceu. Essa trajetória não deve ser confundida com outsiderismo, pois se situa dentro, e não fora, do campo político.