Um novo ciclo para a defesa nacional e para as compras públicas brasileiras

A publicação recente do Decreto 12.725 aprovando nova versão da Política Nacional de Defesa (PND), da Estratégia Nacional de Defesa (END) e do Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN), inaugura um novo ciclo para a Defesa Nacional. Trata-se de um momento singular, em que o planejamento estratégico de longo prazo se combina com instrumentos fiscais planejados para assegurar a continuidade e a efetividade dos projetos das Forças Armadas.

Previstos na Lei Complementar 97/1999, os três documentos constituem o eixo central da formulação da política de Defesa no Brasil. A PND e a END orientam todos os segmentos do Estado brasileiro quanto às ações necessárias para atingir os Objetivos Nacionais de Defesa, conferindo coesão e clareza às prioridades estratégicas do país. O LBDN, por sua vez, opera como um instrumento de diplomacia e transparência, apresentando às nações amigas as capacidades militares brasileiras e promovendo confiança mútua, estabilidade regional e cooperação internacional.

Conheça o JOTA PRO Poder, plataforma de monitoramento que oferece transparência e previsibilidade para empresas

Este ciclo, contudo, distingue-se dos anteriores por incorporar uma inovação importante: a ampliação da capacidade de investimento em Defesa por meio da publicação concomitante da Lei Complementar 221/2025, sancionada na mesma data do Decreto 12.725. A norma destina até R$ 30 bilhões, ao longo dos próximos seis anos, para projetos estratégicos de defesa, com uma excepcionalidade fiscal que permite executar até R$ 5 bilhões anuais fora do limite de despesas previsto no arcabouço fiscal.

Segundo os relatórios que embasaram o processo legislativo de aprovação da norma, o mecanismo foi concebido para garantir estabilidade, previsibilidade e continuidade a programas de longa maturação, preservando-os de contingenciamentos que historicamente travaram a execução contratual em setores sensíveis.

A nova PND reafirma a necessidade de modernização das Forças Armadas, de ampliação da capacidade de dissuasão e de fortalecimento dos setores nuclear, cibernético e espacial, áreas que exigem investimentos contínuos e parcerias tecnológicas robustas. A END detalha capacidades desejadas e projetos estruturantes que dependem de ciclos plurianuais de contratação, desde sistemas de vigilância de fronteiras até plataformas navais, aeronáuticas e terrestres, passando por satélites, radares e sistemas de comando e controle.

Com a LC 221, o Brasil deve passar a ter condições reais de executar tais projetos. A excepcionalidade fiscal viabiliza encomendas tecnológicas, contratos de desenvolvimento conjunto, aquisições complexas e programas integrados de P&D em parceria com universidades, institutos tecnológicos e empresas da BID. Para setores como o industrial, espacial e de tecnologia da informação, abre-se uma janela concreta de expansão, estimulando inovação, geração de empregos qualificados e qualificação da cadeia produtiva.

Também merece destaque o fato de que, no campo internacional, a atualização do LBDN reforça a imagem do Brasil como país comprometido com transparência, cooperação e estabilidade regional, ampliando a confiança de parceiros estratégicos e abrindo espaço para novas parcerias tecnológicas e oportunidades de exportação de produtos de defesa.

Somadas, essas iniciativas prometem colocar o país diante de um ciclo virtuoso de investimentos, com potencial para impulsionar novas contratações públicas em áreas estratégicas, dinamizar a BID e reforçar a capacidade de defesa do Brasil.

A partir de 2026, quando se inicia a execução plena do regime fiscal criado pela LC 221, a expectativa é de aceleração dos projetos já em carteira e de inclusão de novas iniciativas, especialmente nas áreas de vigilância e sensoriamento remoto, mobilidade estratégica, defesa antiaérea e monitoramento de infraestruturas críticas.

Assine gratuitamente a newsletter Últimas Notícias do JOTA e receba as principais notícias jurídicas e políticas do dia no seu email

Mais do que um reforço orçamentário, o que se observa é a construção de uma política de Estado robusta, que alia visão estratégica, segurança jurídica, capacidade de contratação e indução ao desenvolvimento econômico.

Ao alinhar planejamento, recursos e execução, o Brasil estimula a inovação e posiciona a Defesa Nacional como vetor de crescimento e competitividade. O desafio agora é consolidar essa agenda, assegurando governança, eficiência e integração entre Forças Armadas, indústria, academia e demais órgãos do Estado.

Generated by Feedzy