A candidatura de Flávio Bolsonaro é tida como fato consumado apenas por seu círculo mais íntimo. A sombra de Tarcísio de Freitas (Republicanos), preferido do centrão e da Faria Lima, tende a acompanhá-lo até abril de 2026, quando governadores devem se desincompatibilizar dos cargos caso decidam concorrer à Presidência. Até lá, tudo o que Flávio precisa é não derreter nas pesquisas de intenção de voto, mantendo-se em um patamar suficiente para chegar ao segundo turno.
Alçado pelo pai para a disputa ao Palácio do Planalto, Flávio enfrenta resistências dentro do próprio campo político. Sua candidatura não desperta entusiasmo entre aliados no centrão. O clima com a ex-primeira-dama Michelle tampouco é dos melhores. E até ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) ainda nutrem a expectativa de ver o governador de São Paulo na disputa contra Lula.
Nesse contexto, o principal fator de risco para o senador é seu enorme “telhado de vidro”. Flávio já teve o nome vinculado a “rachadinhas” na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, à utilização de uma loja de chocolates para lavagem de dinheiro e ao uso de dinheiro vivo para comprar uma mansão de R$ 6 milhões em Brasília. Se esses escândalos, ou outros ainda não revelados, passarem a dominar o noticiário, pode ser o fim da linha para ele.
Resistência começa “dentro de casa”
A resistência a Flávio Bolsonaro na direita e na centro-direita é grande e começa “dentro de casa”. As pesquisas feitas até aqui mostram que Michelle é mais competitiva do que Flávio, com forte apelo entre o público evangélico e as mulheres. Ela chegou a sonhar ser candidata, apesar da preferência já declarada por Bolsonaro de vê-la disputando uma vaga ao Senado. E, segundo fontes, não digeriu bem a escolha feita pelo marido.
O anúncio da pré-candidatura ocorreu após um atrito público entre madrasta e enteado, envolvendo a aliança costurada por Flávio e Valdemar Costa Neto com Ciro Gomes (PSDB) no Ceará. Ao criticar duramente o acordo, Michelle se colocou como principal porta-voz do bolsonarismo raiz. Mas, com Flávio pré-candidato, acabou relegada a segundo plano no noticiário e nas articulações políticas.
Aliados de Michelle ainda contam com a possibilidade de vê-la no papel de vice em uma chapa encabeçada por Tarcísio. Algo que, dizem fontes ligadas ao governador de São Paulo, ele próprio não quer.
Centrão fora da barca
Já está claro até para o entorno de Flávio que, diferentemente do que ocorreria com Tarcísio, ele não será capaz de unir as diversas siglas do grupo em torno de si.
Ministro da Casa Civil de Bolsonaro e presidente nacional do PP, o senador Ciro Nogueira (PI) afirmou sobre apoiar Flávio, de quem se diz amigo, que “política não se faz só por amizade”. E acrescentou que a escolha sobre quem será o candidato da direita na eleição não deveria ser apenas do PL.
O Republicanos, de Tarcísio, dificilmente fará aliança com Flávio. Já o União Brasil segue com a candidatura de Ronaldo Caiado, governador de Goiás. O PSD de Gilberto Kassab tende a lançar um de seus governadores ao Planalto — os nomes mais citados são Eduardo Leite (RS) e Ratinho Jr. (PR).
Assim, resta a Flávio trabalhar por uma aliança com essas siglas no segundo turno. Algo que já começou a costurar.
Planalto na torcida
Em meio ao tiroteio no campo adversário, quem mais torce para que a candidatura de Flávio prospere é o Palácio do Planalto.
Lula é hoje, em qualquer cenário, favorito para vencer a eleição. Mas o grau de seu favoritismo varia de acordo com quem estiver do outro lado. Com o primogênito de Bolsonaro na cabeça de chapa, a expectativa de recondução do petista cresce de maneira vertiginosa em comparação a Tarcísio.
Segundo o agregador de pesquisas do JOTA, elaborado pelo analista de dados Daniel Marcelino, a probabilidade de Lula se reeleger neste momento é de 70%, levando-se em conta todos os cenários possíveis. Com Tarcísio como principal oponente, a cifra cai para 60%. Caso o adversário seja Flávio Bolsonaro, a chance de reeleição sobe para 95%.