Em novembro de 2025, o Brasil sediou a COP 30, conferência da ONU sobre mudanças climáticas que reuniu líderes globais em Belém, no coração da Amazônia. Mais do que um encontro político, o evento é um marco para discutir o futuro do planeta em um contexto em que a ameaça climática deixou de ser algo distante para se tornar um problema concreto de saúde pública.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 2030 e 2050, estima-se que as mudanças climáticas causarão 250 mil mortes adicionais por ano devido a desnutrição, malária, diarreia e estresse térmico¹. Outras estimativas, no entanto, são ainda mais alarmantes: sem ações imediatas, esse número pode chegar a 14,5 milhões de mortes adicionais, especialmente em regiões mais vulneráveis, em que, na última década, as mortes causadas por eventos climáticos extremos foram 15 vezes maiores do que nas regiões menos afetadas.²
Além da inestimável perda de vidas, o impacto econômico das mudanças climáticas na saúde também é alarmante. Projeções indicam que, entre 2025 e 2050, o setor de saúde e de cuidados médicos pode registrar até 200 bilhões de dólares em perdas de produtividade de trabalhadores, além de um custo adicional estimado em 1,1 trilhão de dólares em tratamentos relacionados às mudanças climáticas. Esse cenário desafia os sistemas de saúde porque amplia a demanda por atendimentos em períodos críticos, pressiona os serviços de diagnóstico, emergência e internação e exige um preparo urgente e robusto, bem como uma restruturação funcional, das redes pública e privada.
O ponto mais sensível é que essa pressão recai de forma desigual sobre as populações mais vulneráveis, o que reforça a necessidade de políticas de justiça climática que assegurem equidade no acesso à saúde. Isso exige uma mudança de paradigma: é preciso migrar de um modelo predominantemente reativo para um modelo cada vez mais preventivo. O caminho está em fortalecer parcerias público-privadas, investir em políticas de prevenção e acelerar a adoção de tecnologias que antecipem riscos, monitorem pacientes em tempo real e reduzam a sobrecarga hospitalar.
Na área de diagnóstico por imagem, por exemplo, inovações em ressonância magnética estão reduzindo o consumo energético e o uso de recursos naturais escassos. Os sistemas mais modernos contam com tecnologia Zero Helium Boil-Off, que elimina a perda de hélio — recurso finito e essencial para o funcionamento desses equipamentos — e consomem até 40% menos energia que gerações anteriores. Há também programas de economia circular, que recondicionam e atualizam equipamentos, evitando o descarte prematuro e ampliando o acesso a tecnologias de ponta em diferentes contextos hospitalares.
O diagnóstico laboratorial segue o mesmo caminho. Analisadores automatizados de amostras de exames, com foco em eficiência de recursos, já permitem reduzir em até 36% o consumo de água dos laboratórios, com impacto direto na sustentabilidade de operações hospitalares de alta complexidade. Mesmo com aumento na produtividade de exames, observa-se redução expressiva de energia e água — estabelecendo um novo padrão de eficiência no setor.
A sustentabilidade também precisa ser vista como instrumento de inclusão e acesso. No Brasil, o Programa Nacional de Expansão da Radioterapia (PER-SUS), realizado pelo Ministério da Saúde em parceria com a Varian – empresa do grupo Siemens Healthineers, ampliou significativamente o tratamento oncológico no Sistema Único de Saúde (SUS). Com capacidade para atender até 55 mil pacientes até 2026, o programa reduziu filas de espera e, ao descentralizar o atendimento, diminuiu deslocamentos de pacientes, o que também representa menor emissão de CO₂.
Outro exemplo inspirador é a iniciativa Open Care 5G, realizada em parceria com o Hospital das Clínicas e outras instituições, que leva diagnóstico por imagem avançado a comunidades ribeirinhas na Amazônia. Por meio da conectividade 5G, exames são realizados remotamente, com transmissão em tempo real para especialistas de grandes centros. Além de reduzir deslocamentos, a tecnologia acelera o diagnóstico e o início do tratamento, impactando diretamente a qualidade de vida e a eficiência dos cuidados médicos.
Essas experiências mostram que a saúde tem papel central na agenda de sustentabilidade global. Não apenas como setor impactado, mas como motor essencial da solução. Ao reduzir seu impacto ambiental, ampliar o acesso e adotar práticas éticas e responsáveis, o setor contribui para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e para um modelo de cuidado mais equitativo e resiliente.
Proteger o planeta é também proteger vidas. A sustentabilidade não pode mais ser vista como opcional — ela é um valor inegociável e deve estar na essência das decisões que moldam o futuro da humanidade.
Referências:
1 Ministério da Saúde. Mudanças Climáticas para Profissionais da Saúde. Disponível em: guia-mudancas-climaticas-para-profissionais-da-saude.pdf. Acesso em 23 de outubro de 2025.
2 World Economic Forum. Building Economic Resilience to the Health Impacts of Climate Change – Insight Report, September 2025.