Em entrevista exclusiva ao JOTA nesta quarta-feira (26/11), o deputado federal Kim Kataguiri (SP) detalhou a estratégia de expansão nacional do Partido Missão, nova sigla criada pelo MBL para disputar espaço no tabuleiro político de 2026. O plano inclui lançar chapas nos 26 estados e no Distrito Federal, consolidar uma rede de lideranças estaduais e apresentar um candidato próprio à Presidência da República, numa tentativa de reposicionar o movimento como alternativa à direita tradicional.
Ao analisar o cenário eleitoral, Kataguiri criticou simultaneamente o ex-presidente Jair Bolsonaro e a articulação em torno do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, além de atacar o programa econômico e as políticas sociais do governo Lula, defendendo uma agenda de privatizações e revisão estrutural do orçamento.
O deputado diz que a nova legenda nasce para garantir coerência ideológica e independência. “A gente nunca mais vai depender de ninguém para disputar as eleições que a gente quer disputar”, afirmou.
O deputado criticou o que chama de “partidos sem ideologia e sem programa”, criados apenas para dividir poder e negociar orçamento. O Missão, segundo ele, busca ocupar o espaço deixado por legendas tradicionais e funcionar como um veículo político próprio do MBL.
Para o futuro, o parlamentar avalia dois caminhos: “Ou disputo a reeleição ou disputo o governo do estado de São Paulo. O que for melhor para o projeto, eu faço”.
Kataguiri critica Tarcísio, Bolsonaro e a ‘chapa do sobrenome’
O parlamentar critica a estratégia do centro-direita de apostar na candidatura de Tarcísio à Presidência. “Me preocupa muito uma aliança do Centrão para eleger o Tarcísio, porque ele assumiria devendo até as calças antes de mandar o primeiro projeto”, afirmou.
Entretanto, Kataguiri diz duvidar que Tarcísio aceite a missão se precisar enfrentar o ex-presidente. “Ele não tem coragem de discordar nem 10% do Bolsonaro. Se o Bolsonaro não der 100% de garantia, ele não vai ser candidato”.
O deputado também critica a insistência da família Bolsonaro em manter um nome próprio na disputa presidencial. Sobre Flávio Bolsonaro, afirma que o senador enfrentaria um volume de desgaste insustentável.
A respeito de Michelle Bolsonaro, considera improvável que seu nome avance, afirmando que a família não tem unidade para sustentá-la.
Críticas a programas sociais
Em meio ‘a forte críticas ao Bolsa Família, o parlamentar defende manter o programa, mas com condicionantes rígidas.“Quem tem capacidade de trabalhar vai ser colocado para trabalhar. Quem não quiser trabalhar vai perder o benefício.”
Para ele, o governo deveria oferecer diretamente empregos aos beneficiários aptos, e critica o acúmulo de programas sociais focados em itens específicos.
Os programas Pé-de-Meia, Gás do Povo e Luz para Todos são citados como exemplos de políticas que não deveriam existir. “Eu não vejo lógica em existir. É política social que beneficia lobby, não a população”, afirmou.
Petrobras, Caixa e Banco do Brasil ‘não funcionam’
O parlamentar defende privatizar quase todas as estatais, com raras exceções — entre elas, a Embrapa, citada como um caso de gestão eficiente.
No entanto, para ele, empresas estratégicas ainda mantidas sob controle público não entregam resultados: “A Petrobras não funciona, precisa ser privatizada. A Caixa não funciona, precisa ser privatizada. O Banco do Brasil não funciona, precisa ser privatizado”.
Segundo ele, uma agenda agressiva de privatizações, somada à reforma orçamentária, permitiria reduzir a taxa de juros para “até 9%”.
Taxa das blusinhas
Ao comentar a cobrança para compras internacionais de pequeno valor, Kim Kataguiri disse que articula no Congresso um requerimento de urgência para derrubar a chamada taxa das blusinhas. Para ele, o governo Lula não reviu a política por convicção, mas por frustração arrecadatória. “A caneta do governo é mais poderosa do que a minha. Se eles voltarem atrás, foi só porque não arrecadaram o que esperavam”.
Na avaliação do deputado, a taxação prejudica consumidores e pequenos revendedores e se tornou símbolo da falta de sensibilidade do governo com o varejo digital.