RS aposta em integração e sufocamento financeiro para frear crime organizado, diz secretário de Segurança

O estado do Rio Grande do Sul tem centrado sua estratégia de enfrentamento ao crime organizado na integração entre instituições de segurança e no sufocamento financeiro das facções, afirmou o secretário de Segurança Pública, coronel Mario Ikeda. Em entrevista ao JOTA nesta segunda-feira (24/11), durante evento realizado em São Paulo — do qual participou de forma remota — ele explicou que o estado avançou ao combinar governança rígida, compartilhamento de dados e investigações focadas em descapitalizar organizações criminosas, pilares do programa RS Seguro.

A entrevista integra o projeto Economia Legal, que discute os impactos da insegurança pública para os negócios e o desenvolvimento econômico. O projeto tem patrocínio do Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR), do Instituto Combustível Legal (ICL) e da Philip Morris Brasil.

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Ikeda representou o governador Eduardo Leite no evento, após o chefe do Executivo cancelar a participação devido às fortes tempestades que atingiram a região de Erechim. “Ele teve que voltar ao Rio Grande do Sul às pressas em virtude de um grande temporal”, disse o secretário. Segundo ele, mesmo com a ausência do governador, o estado considerou importante apresentar a estratégia de segurança pública adotada desde 2019.

Integração como base da governança

O secretário explicou que o RS Seguro se apoia em três eixos principais — integração, inteligência e investimento qualificado — e que esses elementos só funcionam porque há uma governança rígida que envolve Polícia Militar, Polícia Civil, Ministério Público, Judiciário, PRF e PF. “Nós estamos superando [a desconfiança] através da integração e do compartilhamento dos dados”, afirmou.

Ele relatou que, inicialmente, o estado concentrou esforços em 23 municípios responsáveis por 72% das mortes violentas e mais de 90% dos roubos. Com a plataforma Gestão Estatística em Segurança Pública (GESeg), que permite acompanhar diariamente indicadores de criminalidade, as ações foram ampliadas para os 497 municípios gaúchos. Segundo Ikeda, esse modelo permitiu reduzir 49% dos atos letais intencionais e 54% dos homicídios.

Ataque ao crime organizado

Sobre o enfrentamento das facções, Ikeda afirmou que o estado atua em duas frentes principais: a redução de homicídios — considerados o principal termômetro da disputa entre organizações criminosas — e a descapitalização das estruturas financeiras das facções.

Delegacias de lavagem de dinheiro operam dentro do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) e do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), com foco em identificar lideranças e bloquear recursos ilícitos. Segundo Ikeda, “é através da investigação e da asfixia financeira que buscamos impedir o crescimento das organizações criminosas”.

O secretário também mencionou a identificação de lideranças, o isolamento de chefes de facção em celas individuais e operações diárias de saturação em áreas de conflito como medidas para limitar a expansão territorial das organizações.

Investimentos e expansão do efetivo

Ikeda destacou que o RS só conseguiu consolidar essa estratégia após reorganizar suas contas e executar reformas estruturais. A partir disso, o governo avançou em investimentos. De acordo com ele:

todas as viaturas policiais passaram a ser blindadas;
todos os policiais receberam arma e colete individual;
o sistema prisional recebeu R$ 1,4 bilhão, com a construção de 76 celas individuais para líderes de facções;
a Secretaria de Segurança Pública recebeu R$ 1,2 bilhão;
o efetivo policial voltou a crescer após décadas de redução.

PL das Facções e PEC da Segurança Pública

Ao comentar propostas em debate no Congresso, Ikeda afirmou que o PL das Facções traz avanços importantes ao endurecer penas e permitir que valores apreendidos possam financiar estruturas de segurança. “Fica nítido que o Brasil não tolera as organizações criminosas”, disse.

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Em relação à PEC da Segurança Pública, o secretário reforçou a necessidade de maior atuação da União no controle de fronteiras, especialmente no combate ao tráfico de drogas e armas. Sobre o controle de fronteira, o secretário diz que é “extremamente importante que o governo [federal] assuma a sua responsabilidade.”

Ikeda encerrou ao afirmar que a integração entre instituições é o que viabiliza resultados consistentes e sustentáveis. “Compartilhando dados, tendo metas e objetivos comuns, é que chegamos na integração plena”, afirmou. Segundo ele, o RS tem registrado “os melhores anos da série histórica” na redução de homicídios.

Veja como foi o evento sobre o impacto do crime na economia

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