O futebol sul-americano vive um novo ciclo de hegemonia, com o Brasil ocupando o centro do protagonismo. A classificação de Flamengo e Palmeiras para a final de 2025 confirma mais uma decisão entre clubes nacionais na Copa Libertadores, reafirmando o domínio brasileiro no continente.
Essa superioridade não é obra do acaso, mas o resultado de um processo consistente de amadurecimento institucional, fortalecimento jurídico e profissionalização da gestão esportiva.
Desde 2017, quando o Grêmio derrotou o Lanús e trouxe o título de volta ao país, os números comprovam essa supremacia. Em nove finais disputadas, houve doze presenças de clubes brasileiros contra cinco de argentinos, e cinco decisões foram totalmente nacionais. A única exceção ocorreu em 2018, quando o River Plate venceu o Boca Juniors, tornando-se o último campeão não brasileiro. Desde então, a “Glória Eterna” tem falado português.
Nesse contexto, o domínio brasileiro vai além da mera qualidade técnica dos elencos. É o reflexo de um conjunto de transformações estruturais, legais, econômicas e gerenciais que fortaleceram o futebol nacional. A Lei Pelé (Lei 9.615/1998) foi o primeiro marco desse processo, ao reconhecer o atleta como profissional, instituir práticas de gestão e incentivar a livre iniciativa no esporte. Já o Estatuto do Torcedor (Lei 10.671/2003) reforçou a transparência e a responsabilidade, ao assegurar os direitos do consumidor esportivo.
Esses diplomas legais, ao promoverem a integração entre transparência, governança e sustentabilidade, criaram o terreno fértil para o fortalecimento institucional dos clubes brasileiros. A Lei da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) (Lei 14.193/2021) inaugurou uma nova era ao permitir a entrada de investimentos privados e introduzir modelos de governança corporativa.
Em 2023, a Lei Geral do Esporte (Lei 14.597/2023) consolidou normas antes dispersas e integrou princípios de governança, integridade e sustentabilidade financeira, ampliando o alcance das políticas públicas voltadas ao esporte.
Essa profissionalização reduziu a improvisação administrativa e permitiu a elaboração de planos estratégicos de longo prazo, capazes de atrair investidores, ampliar receitas e aumentar a previsibilidade orçamentária.
Além disso, os clubes passaram a adotar métricas de desempenho e relatórios de transparência, fortalecendo sua credibilidade junto ao mercado e aos torcedores. Essa modernização gerencial constitui um dos pilares centrais da competitividade brasileira no futebol sul-americano.
Outros instrumentos também reforçaram a profissionalização do ecossistema: a Lei de Incentivo ao Esporte (Lei 11.438/2006), que estimula projetos esportivos por meio de renúncia fiscal; a Lei 13.756/2018, que destina receitas de loterias ao esporte e introduz a aposta de quota fixa; a Lei do Mandante (Lei 14.205/2021), que redesenhou o direito de arena e trouxe previsibilidade às receitas de mídia; e a Lei 14.790/2023, que regulamenta as apostas de quota fixa, ampliando a integridade e a arrecadação do setor. Em conjunto, esses marcos aumentam o profissionalismo na gestão do futebol nacional e reforçam a previsibilidade financeira das competições.
A análise dessas transformações pode ser visualizada em resultados concretos. O Brasil, que por décadas esteve atrás da Argentina em número de títulos da Libertadores, já alcançou 24 conquistas, ficando a um passo de igualar as vinte e cinco dos times argentinos (o qual ocorrerá, uma vez que teremos mais uma final totalmente brasileira), evidenciando, na atualidade, o tamanho da sua força e primazia dentro do futebol sul-americano.
Mais do que um reflexo da qualidade técnica, essa posição resulta de uma profunda transformação institucional, sustentada por um modelo de governança que combina ambiente jurídico consolidado, planejamento, economia mais estável profissionalismo administrativo e clubes cada vez mais estruturados.
O futebol nacional mostra que, com regras claras, transparência e estabilidade econômica, é possível unir desempenho esportivo e sustentabilidade a longo prazo, evidenciando não apenas o talento em campo, mas o amadurecimento institucional fora dele.
Resta saber se os times dos demais nove países do continente sul-americano conseguirão reequilibrar as forças ou se a América do Sul testemunhará uma era prolongada de supremacia brasileira na “Glória Eterna”, marcada não apenas pelo talento em campo, mas pela consolidação institucional e econômica decorrente de um amadurecimento normativo e gerencial do futebol do Brasil.
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