Ana Toni: NDCs avançam com planos setoriais, mas ainda há lacuna para meta de 1,5°C

A menos de dois meses da COP30, em Belém, a diretora executiva da cúpula no Brasil, Ana Toni, avalia que houve um aumento significativo da qualidade das metas de ambição climática para 2025 entregues até agora pelos países. “Pela primeira vez, a gente está vendo todas as NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) terem planos setoriais e de investimento para cada um dos setores”, afirmou nesta quarta-feira (30/9) em evento do JOTA.

No entanto, apesar de uma maior solidez na estratégia, as contribuições apresentadas ainda não garantem a limitação do aquecimento a 1,5ºC, ponto central do Acordo de Paris. “Infelizmente, acho que a gente vai chegar, sim, na COP 30, com uma lacuna grande em relação ao objetivo”, afirmou.

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As NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) são os planos nacionais previstos no Acordo de Paris para formalizar compromissos de redução de emissões e ações climáticas. Até agora, apenas 54 países (de um total de 193 signatários da ONU) entregaram suas metas. A expectativa de Toni é que esse número chegue a cerca de 110 até a conferência. Entre os que ainda não apresentaram seus compromissos estão grandes emissores como União Europeia e Índia.

Apesar do cenário, Toni considera que houve progresso em relação ao que foi decidido há uma década no Acordo de Paris. “O cenário é desafiador, mas isso quer dizer que estamos falhando? Não, quer dizer que o ciclo do Acordo de Paris está funcionando, o que a gente agora tem que fazer é acelerar a implementação. Vamos ver como é que os países, o grupo de países como um todo, querem responder a isso”, afirmou.

Segundo a diretora, o governo brasileiro, sob a presidência de Lula, tem atuado na articulação diplomática para pressionar chefes de Estado a apresentarem suas metas e seguirá com esse esforço não apenas até a COP de Belém, mas durante todo o período em que o Brasil estiver à frente da presidência da cúpula, até novembro de 2026.

Ana Toni participou do Diálogos da COP30, iniciativa do JOTA com patrocínio da Bayer e do Sistema Transporte, que discute as oportunidades para a próxima cúpula do clima.

Fortalecimento global pós-Trump

A diretora minimizou o impacto do discurso do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na Organização das Nações Unidas, há uma semana, no qual ele classificou como ‘piada’ as energias renováveis. “A gente viu um discurso muito ruim da perspectiva climática do presidente Trump, mas foi só dele. Não vimos nenhum outro país saindo do Acordo de Paris. Ao contrário, foram países anunciando as suas NDCs ou anunciando que vão apresentar as suas NDCs até a COP30″, disse.

“Houve um fortalecimento da agenda global mostrando que se um governo federal, porque não são os Estados Unidos, é o governo federal dos Estados Unidos, resolveu sair dessa agenda, o resto dos governos subnacionais, muitos deles, do setor privado americano, está junto”, completou.

A escolha de Belém como sede da COP30, alvo de questionamentos sobre infraestrutura e custos, também foi defendida por Toni. Segundo a diretora, mais de 95 países já confirmaram suas acomodações, e outros 73 estão em negociação. “A gente já tem o quórum necessário para fazer uma COP exitosa”, declarou.

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