O Brasil nunca teve medo de apostar alto em tecnologia. Apoiou a Embraer e se tornou líder mundial em aviação. Foi pioneiro em biocombustíveis e transformou o mercado de energia global. O avanço da inteligência artificial significa que o país está em um momento histórico e pode escolher entre construir a infraestrutura necessária para tomar uma posição de liderança na Era da Inteligência ou deixar que outros moldem esse futuro.
Na OpenAI, acreditamos que a IA não é apenas mais uma tecnologia; ela está se tornando o próximo pilar da vida moderna e deveria ser acessível a todos. Se o Brasil aproveitar este momento, pode expandir oportunidades e fomentar a mobilidade econômica. Se não, a tecnologia e seus benefícios poderão se concentrar nas mãos de poucos privilegiados e a promessa da IA será algo que o Brasil importará, não algo que desenvolverá.
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É difícil superestimar a urgência do momento. Ao redor do mundo, países estão competindo ferozmente para atrair investimentos em IA de larga escala em data centers, redes de energia e outras infraestruturas necessárias para rodar ferramentas como o ChatGPT. Decisões comerciais sobre onde construir a próxima geração de data centers estão sendo tomadas agora, e países pelo globo – incluindo o Brasil – têm apenas uma janela limitada de tempo para desenvolver estratégias e atrair estes investimentos.
Há razões para o otimismo: o Brasil está adotando e adaptando a IA mais rápido que qualquer outro país. Pesquisa do Datafolha e do Observatório Fundação Itaú indicam que 93% dos brasileiros usam alguma forma de IA e 43% já estão experimentando com ferramentas generativas, como ChatGPT. Nossos próprios dados mostram o Brasil como um dos três países com mais usuários ativos semanais e o segundo no mundo em desenvolvedores usando a Interface de Programação de Aplicações (API) da OpenAI. Ao todo, 50 milhões de brasileiros estão usando nossas ferramentas para aprender, pensar, criar, produzir e construir coisas novas.
O que realmente chama a atenção é que 60% da base de usuários tem menos de 35 anos, sendo 27% de 18 a 24 e 33% de 25 a 34 anos. São esses estudantes e jovens profissionais, para quem a IA já foi plenamente incorporada, que podem impulsionar o ecossistema brasileiro de inteligência artificial – considerando que a infraestrutura necessária seja construída para apoiá-los.
Nosso papel neste debate é compartilhar o que aprendemos enquanto um dos maiores clientes de data centers no mundo. Através do nosso programa OpenAI for Countries (OpenAI para Países), ajudamos nações a assegurar o acesso à infraestrutura e ferramentas de IA enquanto desenvolvemos capacidade, talentos e parcerias de pesquisa localmente. Este trabalho é fundamental para nossa missão como uma organização sem fins lucrativos: garantir que os benefícios da IA sejam amplamente compartilhados, e que pessoas em todos os lugares possam usar esta tecnologia para resolver problemas complexos e melhorar suas vidas.
Parcerias podem ajudar, mas o verdadeiro teste é a ambição nacional. Infraestrutura é destino e cada geração é definida por aquilo que constrói. As ferrovias do século 19 e as redes de energia do século 20 estabeleceram os pilares para o crescimento sustentável ao redor do mundo. Na era da IA, as fundações equivalentes são chips avançados, data centers e redes energéticas resilientes e sustentáveis. Elas decidirão onde novas indústrias criarão raízes, quais economias criarão empregos e quais linguagens e culturas estarão incorporadas aos sistemas de IA usados por bilhões de pessoas.
O Brasil parte de uma posição de força. Com aproximadamente 90% de eletricidade renovável e uma malha nacional unificada, o país tem o poder estável e abundante que a infraestrutura moderna de IA demanda. De acordo com a Associação Brasileira de Data Centers, o Brasil tem um excedente de energia renovável – um desafio que pode ser revertido em oportunidade, se direcionado para data centers de IA.
O país também possui talento técnico e uma comunidade vibrante de desenvolvedores, o que significa que está em uma posição única para liderar a América Latina, e além, na construção da nova geração de sistemas de IA.
O governo federal brasileiro já deu um primeiro passo vital através do Plano Brasileiro de IA, destinando R$ 23 bilhões para áreas como infraestrutura, pesquisa e treinamento, juntamente com a recentemente sancionada Medida Provisória que institui o ReData, um pilar para o fortalecimento da capacidade nacional de IA.
Projetos de infraestrutura em outros países já demonstram o quanto o país ganhará se investir com sabedoria e desenvolver novas legislações de maneira ponderada.
Ao redor do mundo, nações estão se movendo rapidamente para assegurar seu lugar na próxima era tecnológica ao aderir à Stargate, iniciativa de infraestrutura da OpenAI. Nos Estados Unidos, o primeiro projeto Stargate no Texas está criando empregos e impulsionando a economia local enquanto constrói novas e significativas capacidades de IA. Na Europa, a Noruega está canalizando suas vantagens de energia natural em uma plataforma para liderança continental em IA. No Oriente Médio, os Emirados Árabes Unidos estão fazendo um esforço ambicioso para construir um dos maiores clusters de IA do mundo.
O Brasil poderia seguir o exemplo destes países e expandir sua própria infraestrutura de IA. Mas esta é apenas metade da equação: também é preciso regulação que promova inovação e proteja as pessoas.
O Congresso Nacional atualmente está pautando o PL 2338/2023, um projeto de lei abrangente sobre IA. Nós compartilhamos os objetivos gerais da legislação, de segurança e avanço responsável. Mas da forma como está redigida atualmente, a proposta arrisca impor requerimentos de conformidade desproporcionais. Esse desequilíbrio pode dificultar para que startups brasileiras consigam crescer e para o Brasil capturar os benefícios plenos da IA.
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Ainda mais crítico, o PL criaria barreiras de criação e uso de IA para os brasileiros, adicionando novas pesadas penalidades para ambos, criadores e usuários. Se menos pessoas puderem experimentar e inovar, as empresas terão menos razões para investir em grandes data centers que fomentem a IA – e o Brasil pode perder os empregos e projetos que viriam com eles.
Construir mais infraestrutura de IA não é apenas sobre os empregos ou o posicionamento do Brasil no palco global, ainda que ambos importem. É também sobre garantir que os modelos de IA reflitam as facetas brasileiras do português, dos costumes e das realidades vividas.
A escolha vai além da tecnologia. Trata-se de prosperidade, soberania e autodeterminação. Em reuniões, escuto comumente que brasileiros querem que a IA seja melhor na língua portuguesa – para que se torne uma tecnologia que realmente fala com o sotaque brasileiro. Ao investir na sua própria infraestrutura de IA, o Brasil poderá desempenhar seu papel enquanto produtor de inteligência artificial, não apenas um consumidor dela.