Bandeira dos EUA no 7 de setembro é suprema humilhação para o Brasil

O discípulo ficou nu. Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo e filiado ao Republicanos, não apenas pagou uma fatura política ao tentar emparedar o Supremo Tribunal Federal, mas deixou explícita sua adesão ao golpismo de seu padrinho político, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Aos que acreditavam que o tarcisismo seria uma saída democrática para o conservadorismo brasileiro, resta o realismo de que, à direita, hoje domina o desrespeito à ordem constitucional e a submissão aos desmandos de uma potência estrangeira.

Sim, meus caros. Chegou o dia em que nossa bandeira ficou vermelha, não de vergonha, senão devido ao fato de que autointitulados patriotas desenrolaram no dia da data magna da nação o pavilhão estadunidense em plena avenida Paulista. Mais que uma sinalização de apoio estrangeiro a uma causa política, o gesto que exibiu as faixas vermelhas e brancas com estrelas em fundo azul indica a continuidade de um processo golpista iniciado em 2018, agora com o apoio da Casa Branca.

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Escreve-se que o julgamento de Bolsonaro violaria os princípios do Estado democrático de Direito enquanto se esquece por conveniência que o capitão só chegou ao poder por força de um golpe. Não estou falando do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016, ocorrido dentro dos marcos constitucionais ainda que parte significativa da esquerda o negue, mas do famoso recado do então comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, ao STF na véspera do julgamento do habeas corpus de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), então preso na sede da Polícia Federal em Curitiba.

Em 3 de abril de 2018, Villas Bôas publicou no então Twitter, agora X, o seguinte texto: “Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais? Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à Democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais”.

O tempo mostrou que não a esquerda, mas os militares que se associaram a Bolsonaro é que estavam preocupados com si e o país. A presidência do capitão foi possibilitada em grande parte por essa faca no pescoço imposta aos juízes da Suprema Corte haja vista que Lula liderava as pesquisas em 2018.

Hoje, a caserna parece ter deixado seus ímpetos golpistas no passado. Quem busca salvar a própria pele é o ex-presidente e seu clã, mesmo que às custas de crimes de lesa-pátria e mentiras que têm o claro intuito de desacreditar as instituições com vistas a tomar o poder pela força em 2026 ou antes se possível for.

O fiador dessa nova velha aventura autoritária chama-se Donald Trump. Quem precisa de apoio militar brasileiro se estão disponíveis ao custo de muita subserviência as ferramentas de interdependência econômica armada das quais apenas Washington dispõe? Para quem não tem amor algum à pátria, o preço a pagar por tal estratégia é zero.

Portanto, mais que os militares — aparentemente legalistas em sua maioria —, o núcleo golpista que se sobressai na atualidade é aquele composto por civis, liderados por péssimos ex-fardados como Bolsonaro (na prática expulso do Exército sob a acusação de planejar detonar bombas em instalações militares no Rio de Janeiro) e Tarcísio – que deixou a carreira militar após servir na missão de paz do Haiti, em circunstâncias pouco exploradas pela mídia. Esta já aderiu em peso à pretensa candidatura de quem se revelou um aprendiz de autocrata à sombra da bandeira americana desenrolada na Paulista.

Além do bolsonarismo, o chamado tarcisismo combina, conforme já explorado nesta coluna, elementos do malufismo, como a imagem do líder tocador de obras e a mão dura contra o crime, e do tucanismo, principalmente um suposto comprometimento com decisões técnicas na formulação e implementação de políticas públicas.

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Desses três polos, desde as diatribes de Tarcísio na Paulista sobressai no movimento encabeçado pelo governador paulista o bolsonarismo e, portanto, seu antipatriotismo e boçalidade no trato com a coisa pública, inclusive a manutenção da soberania nacional.

Mais que uma estratégia para ganhar votos, a radicalização de Tarcísio é um método de fazer política. Já provamos quatro anos disso no poder entre 2019 e 2022. Se responsáveis fossem, as elites do país deveriam abandonar o governador desde já, pois, seja ele ou Bolsonaro ou qualquer um que tolere e promova o golpismo e a intervenção estrangeira, não é digno de ocupar nenhum cargo público, muito menos o de presidente da República. Figuras assim, estejam fardadas ou não, já golpearam a democracia várias vezes. Continuam a fazê-lo e quiçá sejam bem-sucedidos se o silêncio dos que se fazem de inocentes continuar ensurdecedor.

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