Bolsonaro diz que conversou com ministros do STF e fala em temor pelas sanções

O ex-presidente Jair Bolsonaro contou ao filho Eduardo Bolsonaro que tinha conversado com ministros do Supremo Tribunal e que “todos ou quase todos” demonstraram preocupação com sanções, referindo-se às medidas que viriam a ser adotadas pelos Estados Unidos contra autoridades brasileiras. O diálogo está no relatório da Polícia Federal sobre a articulação de Eduardo e Jair fora do país com o objetivo de coagir os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) no andamento da ação penal sobre a tentativa de golpe de estado no Brasil, em 2022, em que o Bolsonaro é réu.

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De acordo com a PF, o diálogo ocorreu no dia 27 de junho de 2025. Na mesma conversa, Eduardo Bolsonaro envia arquivos de mídia que não foram recuperados pela investigação e pergunta se poderia compartilhar. Em resposta, Jair Bolsonaro rejeita a ideia e diz para Eduardo que “esqueça qualquer crítica ao Gilmar”, possivelmente se referindo ao ministro Gilmar Mendes, do STF. Por fim, o ex-presidente pede que a conversa continue por meio de ligação telefônica.

Outro ministro que aparece nos diálogos é André Mendonça. Em uma das mensagens, Eduardo comemora a relatoria de Mendonça no mandado de segurança impetrado pelo advogado do réu Filipe Martins, Jeffrey Chiquini, questionando a atuação do ministro Alexandre de Moraes, na ação sobre a tentativa de golpe, como por exemplo, o cerceamento à defesa. Mendonça é um dos ministros indicados pelo ex-presidente.

As demais mensagens encaminhadas por Eduardo ao pai informam que, por meio do mandado de segurança, haveria a “oportunidade de mudar a relatoria da trama golpista” e que o ministro André Mendonça poderia “ficar prevento das questões que irão para o plenário”. Mas que, para tanto, precisavam que “o Mendonça desse essa liminar”. A Polícia não conseguiu recuperar o áudio enviado por Bolsonaro comentando a nova ação no STF. Em seguida, Bolsonaro pede para o filho ligar para ele”.

Na visão da PF, o contexto dos diálogos demonstra que os investigados atuaram em ação coordenada com a defesa de outro réu da ação sobre a trama golpista, com intuito de causar tumulto processual, em clara tentativa “de subverter a lógica jurisdicional do julgamento da Suprema Corte”. A PF ressalta que “não foi identificado por esta investigação nenhum indício que demonstre ciência ou conhecimento por parte do Exmo. Senhor Ministro sorteado para julgamento do recurso quanto à pretensão dos investigados”.

Sanções a Moraes

De acordo com as investigações, em 15 de julho de 2025, Eduardo e Jair voltaram a falar sobre as sanções dos Estados Unidos contra Jair Bolsonaro, com a finalidade de coagir o Poder Judiciário brasileiro, na tentativa de alcançar o objetivo de impedir uma eventual condenação criminal do ex-presidente.

Eduardo inicia o diálogo com pai afirmando que não seria um bom dia para que o ex-presidente concedesse uma entrevista ao jornal Poder 360, pois segundo o deputado haveria “muita coisa acontecendo”. O investigado afirma que provavelmente iria até a Casa Branca no dia seguinte e afirma: “se vc disser algo sobre EUA que não se encaixar com o que estamos fazendo aqui, pode enterrar algumas ações”.

Em seguida, o parlamentar, demonstrando ciência do que viria a acontecer, afirma que a “Magnitsky no Moraes está muito muito próxima” e que se o pai desse uma entrevista naquele dia, ocorreria a aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes e que esta aplicação “cairia na conta” do ex-presidente, podendo levar o ministro a “abrir mais um inquérito” contra sua pessoa.

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O relatório da PF também destaca a relação de Jair Bolsonaro com Martin de Luca, advogado norte-americano que representou a Trump Media e o Rumble em ações na justiça americana contra Alexandre de Moraes. Em julho, após acertar o texto com Silas Malafaia, Bolsonaro envia mensagem para De Luca sobre o tarifaço. O advogado, então, encaminha uma publicação do seu perfil do Instagram com a descrição “INVERTIDA! Advogado do Rumble e Trump Media rebate colunista do UOL.”

As conversas mostram sintonia entre os dois.De Luca, por exemplo, envia ao ex-presidente a íntegra da petição suplementar apresentada pela Rumvle em ação movida contra Moraes, no mesmo dia em que realizou o protocolo do documento junto a Justiça Americana. Eles também combinavam publicações nas redes sociais contra o ministro. Em uma das mensagens ao advogado, Bolsonaro diz ““Martin, peço que você me oriente também, me desculpa aqui tá, minha modéstia, como proceder (…)”.

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