O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, disse que os minerais estratégicos serão tema importante das discussões da conferência do clima neste ano, que será realizada em Belém (PA). O embaixador frisou que o Brasil foca em impulsionar a cadeia de valor dos minerais e deve aproveitar boas relações regionais e sua posição internacional para impulsionar a agenda.
“É uma agenda razoavelmente nova, mas que já tem sido dito de maneira muito clara que o Brasil não quer, de novo, apenas produzir e exportar sem nenhum tipo de enriquecimento de toda essa cadeia”, afirmou durante o evento Diálogos da COP30, promovido pelo JOTA em Brasília, nesta segunda-feira (18/8).
Conheça o JOTA PRO Poder, plataforma de monitoramento que oferece transparência e previsibilidade para empresas
Segundo o embaixador, o tema será uma “grande oportunidade” para o país e o governo deve preparar uma legislação “bem pensada” sobre o assunto. Corrêa do Lago também comentou sobre a dimensão geopolítica da distribuição dos minérios, que estão presentes em um número reduzido de países. A China é um dos principais depósitos no mundo, mas há também grande concentração na América Latina. De acordo com o embaixador, “o Brasil não quer se descolar dos vizinhos” e a agenda terá que ser “boa para toda a região”.
Assista à íntegra da entrevista:
Além do âmbito regional, para o embaixador, a capacidade de diálogo do Brasil em um aspecto internacional mais amplo deve beneficiar o país na agenda. “Somos um dos poucos países com relações abertas com praticamente todos os demais”, avaliou. “Essa nossa dimensão de boa relação com os demais países, acho que vai ter um efeito extremamente positivo no desenvolvimento da legislação e das cadeias produtivas e é muito importante conservar essa nossa capacidade”, declarou.
Corrêa do Lago participou do Diálogos da COP30, evento do JOTA centrado nas preparações para a conferência da Organização das Nações Unidas (ONU). Também participaram subsecretário de Sustentabilidade do Ministério dos Transportes, Cloves Benevides; a secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Tatiana Rosito; e o secretário nacional de Mudança do Clima, Aloísio Lopes Pereira de Melo.
Há expectativa de avanço em relação às discussões sobre combustíveis sustentáveis de aviação (SAFs), considerados uma das principais soluções para reduzir emissões em um dos setores mais difíceis de descarbonizar, na conferência em Belém. Segundo o presidente da COP30, o maior entrave para ampliar a produção e o uso desses combustíveis está relacionado à forma como se contabiliza o carbono emitido e evitado em sua cadeia produtivo e reflete também a geopolítica do setor. Países que não possuem condições de produzir seus próprios biocombustíveis tendem a resistir a regras mais favoráveis, dificultando a expansão dessa alternativa.
Apesar disso, ele vê na COP30 a oportunidade de ampliar a coalizão de países interessados, destacando que a agenda pode beneficiar não só o Brasil, mas também outras grandes economias agrícolas, como a Índia, maior produtora de açúcar do mundo.
O embaixador também chamou atenção para a necessidade de olhar a transição energética a partir da lógica econômica. Ele destacou que os SAFs oferecem não apenas uma resposta climática, mas também uma oportunidade de geração de renda e competitividade para países produtores. “A solução é boa do ponto de vista do clima e do ponto de vista econômico, mas não agrada a todos. Por isso, precisamos ser mais convincentes que o outro lado”, disse.
Questionado sobre o que tornaria a COP30 bem sucedida, o presidente da edição brasileira da cúpula que disse que o evento terá que ter “muitos sucessos”, mas destacou o fortalecimento do multilateralismo, que, segundo ele, “anda razoavelmente maltratado”.