COP30 mira ‘financiamento climático realista’ e mantém Belém como sede, ‘sem plano B’

O presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, afirmou que o relatório a ser apresentado na conferência do clima, em Belém, trará um pacote de “soluções financeiras complexas” para viabilizar a mobilização de US$ 1,3 trilhão anuais até 2035. A proposta, afirmou, estará ancorada no pragmatismo. “Tendo, na medida do possível, o realismo à nossa frente”, disse o embaixador nesta quarta-feira (6/8), durante audiência pública na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados.

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O embaixador também reforçou que não há qualquer perspectiva de alteração da sede da COP30. A escolha de Belém, capital do Pará, tem sido questionada em razão da crise de hospedagem, com aluguéis cobrados a preços até 15 vezes maiores que o habitual. “O Plano B é Belém. B de Belém”, disse Lago aos deputados. O embaixador foi convidado para falar sobre os desafios do governo para a edição brasileira da cúpula do clima, a ser realizada em novembro de 2025.

Os caminhos para o financiamento

O embaixador falou sobre a resistência dos países ricos em financiar economias emergentes. O principal exemplo é o Fundo Verde do Clima, que arrecada cerca de US$ 10 bilhões por ano, valor considerado muito aquém das necessidades reais. “O que a gente está vendo é que, se for esperar doação de países desenvolvidos, não virá”, disse o presidente da COP.

O cenário torna pouco promissora qualquer aposta na via das doações voluntárias. Por isso, segundo o embaixador, a ausência dos Estados Unidos do Acordo de Paris não deve impactar significativamente o financiamento. A saída, segundo ele, inclui um conjunto articulado de instrumentos financeiros, envolvendo desde reformas nos bancos multilaterais até mecanismos como troca de dívida por ação climática, revisão do risco-país climático e taxações internacionais sobre passagens aéreas de luxo.

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Por outro lado, ele sinalizou otimismo em relação ao Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês), voltado à preservação de florestas tropicais. Uma das principais apostas do Brasil na COP30, de acordo com o embaixador, o fundo traz uma perspectiva diferente que deve promover uma evolução em relação aos outros fundos, que falharam em reunir recursos necessários.

“O TFFF é um fundo muito particular, inclusive porque ele rende. Quem colocar recursos no TFFF vai ter um rendimento. É uma coisa muito inovadora e muito adaptada à realidade”, declarou.

Plano B de Belém

O embaixador reconheceu que há a preocupação de que a questão dos preços das hospedagens afete as negociações. Ele chamou a questão de “complexa”. Na terça-feira (5/8), o presidente da Áustria, Alexander Van der Bellen, disse que não virá ao Brasil para a COP30 por conta dos altos custos da viagem.

Mas o presidente da COP30 disse que o assunto está sendo conduzido “de forma clara” pelo Secretária Extraordinária para a COP30 (SECOP), sob responsabilidade do Ministério da Casa Civil, que junto com a Procuradoria-Geral do Estado do Pará estuda soluções legais para a questão.

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André Corrêa do Lago reforçou que não há qualquer perspectiva de transferir a sede do evento para outra cidade e que a escolha de Belém representa um grande simbolismo.

“Nós temos em Belém uma cidade que representa a realidade da esmagadora maioria do mundo. Nós queremos mostrar os desafios que ainda temos pela frente e ter uma conferência em um lugar que não é decorativo de férias, em que as pessoas estão lá pra passar um bom momento. É uma negociação muito séria e tem que ser num espirito muito sóbrio”, afirmou. “A maioria das cidades do mundo são infinitamente mais desafiadores que Belém”, disse.

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