Por mais que as autoridades brasileiras tentem minimizar o que tem sido chamado de crise de hospedagem para a COP30, a pouco mais de cem dias do evento em Belém, cresce a pressão das delegações pela solução do problema.
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Tornou-se questão política a ofuscar os temas de substância que precisam ser destrinchados até lá. Muitas ainda não têm acomodação, e teme-se que a ausência de representantes de governos e da sociedade civil prejudique, ou até mesmo inviabilize, os resultados da convenção, que a presidência da COP30 quer transformar em uma grande plataforma de implementação e ação coletiva.
Esta semana, negociadores de 25 países convocaram reunião de emergência do Büro da Convenção-quadro das Nações Unidas para Mudança do Clima (UNFCCC) para manifestar preocupação e pedir que o governo brasileiro mude sede da convenção, ainda que parcialmente. Era um encontro fechado. Mas próprias delegações resolveram reportar o que acontece à imprensa. A maior queixa é o que têm afirmado ser os preços abusivos para a hospedagem, muito acima dos valores inflacionados das COPs anteriores.
“A COP30 vai ser em Belém. O encontro de chefes de Estado vai ser em Belém. Não tem plano B”, disse o embaixador André Correa do Lago, presidente designado da COP30. A hospedagem virou questão política ao ser levantada oficialmente pelos países. A questão atingiu uma dimensão ao ser formalizada na reunião do Büro, o que tem impacto sobre a negociação. Um tema tem interferência sobre o outro.
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Como antecipou o JOTA em junho, já na última grande reunião técnica pré-COP em Bonn, na Alemanha, a sensação de revolta já estava clara, com discursos inflamados por parte dos negociadores internacionais a portas fechadas e em um briefing aberto sobre a logística da COP30. E já havia o temor sobre uma queixa formal. Em Bonn, membros de delegações de alguns países africanos e das Filipinas disseram que não iam mandar ninguém ao evento diante das condições que se apresentavam.
A insatisfação é maior entre as nações de baixa renda, sobretudo países africanos e insulares. Na reunião, em junho, a sociedade civil também havia alertado que, pelos preços de hospedagem e condições que estavam sendo oferecidas, esta não poderia ser uma COP de todos, como gostaria o Brasil.
Embora reconheçam os esforços do país para preparar a cidade, os grupos afirmam que é preciso ter condições adequadas, o que significa ter acesso à acomodação acessível e à segurança de transitar entre os pavilhões e a hospedagem de maneira fluida e segura inclusive tarde da noite, quando os representantes dos países costumam deixar a mesa de negociações nestes eventos. A questão não seria o número de acomodações, mas de preço, que está nitidamente acima do que esses países mais pobres podem pagar.]
“Quando você olha para as Nações Unidas, dos 198 países, mais de dois terços são consideravelmente mais pobres do que o Brasil”, afirmou o embaixador, que, ainda assim, está confiante em uma solução para o problema.
A decisão final é do Brasil. E o presidente Lula bateu o pé e já disse que tudo acontecerá em Belém.
“Não tem plano B, porque o governo acredita no plano A. A ideia é fazer uma COP emblemática em Belém”, reitera Ana Toni, CEO da COP30.
Nesta sexta-feira (1/8), foi aberta ao público a consulta à plataforma lançada a pedido da Secretária Extraordinária da COP30, ligada à Casa Civil, que é responsável pela organização logística. Quem consulta o site enfrenta longa fila de espera. O JOTA começou na posição de número 803. Uma das opções mais baratas oferecia um quarto com banheiro a US$ 7.000 pelo período de 20 dias, o que equivale a uma diária média de US$ 350, ou R$ 1.938,58 . Além disso, ao se tentar fechar uma operação, o site sai do ar, o que obriga o usuário a se conectar novamente e voltar ao final da fila.