Em sua primeira entrevista ao vivo após eleição para a presidência do Partido dos Trabalhadores (PT) nesta terça-feira (8/7), o novo presidente eleito, Edinho Silva, fez uma avaliação crítica sobre o imbróglio das emendas parlamentares e o embate entre Legislativo e Executivo pelo orçamento.
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“Existe uma confusão institucional no país que, na minha avaliação, se deve muito à descaracterização do presidencialismo. A Constituição estabelece que o Brasil é um regime presidencialista […] Do governo Temer ao governo Bolsonaro nós tivemos um avanço das atribuições do Legislativo sobre o Executivo”, afirmou em entrevista aos assinantes do JOTA PRO Poder, conduzida pelos jornalistas Naira Trindade e Fabio MuraKawa. “O Congresso executa mais de R$ 52 bilhões do orçamento. Isso não é mais presidencialismo”, completou.
Para ele, os governos anteriores “abriram mão de suas atribuições”, algo que o presidente Lula não fez e não fará. Para Edinho, isso cria uma contradição estrutural que está por trás da crise institucional hoje.
“O debate hoje no Congresso não é como vamos fazer transição energética, como vamos tratar a margem equatorial, como vamos lidar com a PEC da Segurança Pública […] O que predomina no Congresso hoje é se executa emenda individual ou se não executa. Não temos uma agenda nacional”, disse, salientando que o problema não é conjuntural e sim estrutural.
Nesse contexto, aponta, emerge o Supremo Tribunal Federal (STF) exercendo um papel de “poder moderador”, como no caso do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), em disputa na Corte.
Edinho considera que a nova campanha do governo sobre “ricos vs pobres” ocorre como resposta, uma reação do governo em uma matéria importante para o Executivo. Segundo ele, diante da derrota imposta pelo Congresso, o governo não tinha outra alternativa a não ser abrir o debate com a sociedade. “Não podemos fazer desse processo de chamar a sociedade para debater temas um método de interrupção e que interdite o diálogo”.
Agenda econômica do governo
Edinho defendeu a manutenção do arcabouço fiscal ou na meta de resultado primário, apontando a necessidade de garantir estabilidade e previsibilidade para a economia.
Sobre as demandas do mercado por ajustes do lado do gasto, o dirigente petista mostrou que o partido tem dificuldades com uma agenda mais agressiva. Ele afirmou que não tem problema em fazer qualquer revisão de despesas, mas, seguindo a tônica do governo, puxou a conversa para a redução de benefícios tributários.
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“Temos que cortar R$ 20 bilhões de saúde e educação, e não vamos discutir as desonerações? E não vamos debater renúncia fiscal? R$ 860 bilhões de renúncia fiscal é um tema intocável?”, provocou.
Sobre a política monetária e a relação com o Banco Central, afirmou que “o último aumento da Selic talvez não fosse necessário, na minha opinião pessoal”. Porém, reforçou que há “total voto de confiança ao Galípolo”.
Eleições de 2026
Edinho defende que o PT converse e dialogue com aqueles que não votaram em Lula em 2022 para tentar superar a polarização política na próxima eleição.
Ele salientou que “Lula é o candidato” em todos os cenários e evitou dizer quem seria o adversário preferido para enfrentar no próximo pleito. “Não existe isso de candidato ideal. Você tem que estar preparado para qualquer adversário”, disse.
Edinho afirma que Lula hoje é a única liderança capaz de juntar partidos políticos, representantes da sociedade civil, judiciário e propor uma concertação “nessa desorganização” que o país está vivendo. “Temos lideranças no Brasil, preocupadas com o país, com condições de sentar à mesa, construir soluções pensando no país”, afirmou.
O presidente do PT se disse otimista com o cenário para a reeleição de Lula e deve chegar muito forte em 2026, com apoio político e partidário. “É muito difícil nascer um outro Lula. Se o partido estiver forte, organizar. Nossa prioridade, falo como presidente do PT, além de construir essa agenda toda, é preparar a reeleição do presidente Lula”.
Ex-prefeito de Araraquara e ex-ministro da comunicação do governo Dilma, o presidente eleito do PT contou com o apoio do presidente Lula durante sua candidatura e é um aliado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Seu mandato na presidência do partido inicia em agosto e irá até julho de 2029.