Após queda da Magnitsky, Lula aposta em ‘química’ com Trump para encerrar tarifaço

A exclusão de Alexandre de Moraes e de sua esposa da lista de sancionados pela Lei Magnitsky retirou o maior “bode na sala” nas relações entre o Brasil e os Estados Unidos. E reforçou a convicção no Palácio do Planalto de que somente a diplomacia presidencial será capaz de dar fim ao tarifaço de 40% que ainda afeta mais de um quinto das exportações brasileiras para o mercado americano.

A medida foi anunciada exatos dez dias após um telefonema entre Lula e Donald Trump. E foi vista como o ponto mais alto de um processo de aproximação iniciado no encontro de poucos segundos entre os presidentes nos bastidores da Assembleia-Geral das Nações Unidas, em setembro.

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A “química” entre os dois presidentes, propalada pelo americano em seu discurso, abriu para Lula as portas da Casa Branca, até então fechadas sobretudo por influência da ala liderada em Washington pelo secretário de Estado, Marco Rubio.

Foi somente após esse episódio que órgãos de perfil mais técnico, como o Departamento de Comércio e o USTR, se sentiram intitulados a negociar para valer com suas contrapartes brasileiras, sob a liderança do vice-presidente Geraldo Alckmin. 

O entendimento cristalizado no Planalto é o de que é preciso manter reuniões periódicas entre os dois presidentes para “reenergizar esse mandato” de dialogar com o Brasil que Trump concedeu aos seus subordinados. Com um canal aberto, Lula telefonará para o americano a cada vez que o governo sentir que as negociações esfriaram ou perderam fôlego.

Uma visita do petista aos Estados Unidos, cogitada tanto em Brasília como em Washington, ainda não está no horizonte. Auxiliares do presidente defendem que ela só aconteça se for para anunciar o grande acordo comercial que colocará fim ao tarifaço.

Medo de interferência nas eleições

Os EUA já derrubaram grande parte das tarifas adicionais impostas ao Brasil por razões políticas – ainda que mais por conta de temas internos, como a inflação de alimentos, do que por um gesto diplomático ao Brasil. Mas o fim da Magnitsky contra Moraes tira do foco as questões da política brasileira e recoloca as negociações com Washington em termos comerciais e econômicos, como Lula sempre defendeu.

Isso não significa que os problemas políticos entre os dois governos acabaram de vez. Ainda há preocupação em Brasília sobre a possibilidade de interferência de setores da gestão Trump, quando não do próprio presidente, na eleição brasileira.

O americano já condicionou um socorro cambial à Argentina à vitória do grupo político de Javier Milei nas eleições de meio de mandato. Também declarou apoio ao candidato presidencial de extrema direita Nasry “Tito” Asfura em Honduras.  Agora, sinaliza a disposição de derrubar o regime de Nicolás Maduro, com uma grande operação naval no Caribe e a possibilidade real de bombardeios ao território da Venezuela.

O Planalto acredita que a “química” entre os dois presidentes contribui para que Trump ao menos não faça declarações hostis a Lula ao longo do processo eleitoral de 2026, mas ainda não está totalmente convencido de que isso acontecerá. 

Também há grande desconfiança em relação ao grupo de Rubio, apelidado em Brasília de “turma da Flórida”. Além de abrir caminhos em Washington para Eduardo Bolsonaro, esse setor, altamente ideológico, agora empurra Trump para uma ação armada contra o governo venezuelano. 

Inflexão de Trump

A inflexão de Trump mostra que nem todas as decisões tomadas contra o Brasil partiram da Casa Branca, na opinião de fontes em Brasília.

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Cinco meses após a postagem na rede Truth Social que deu início ao tarifaço contra o Brasil, em 9 de julho, houve um amadurecimento gradual na relação entre os dois governos, acreditam as fontes. Apesar disso, ainda tem muita gente em Washington querendo jogar água nesse chope. 

A “química” entre Lula e Trump é um ativo importante. E a derrubada da Magnitsky contra Moraes foi recebida como uma grande vitória da diplomacia brasileira. Mas não há dúvidas no Planalto de que esse processo pode ser volátil, com muitas idas e vindas. Ainda não dá para baixar a guarda.

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