Após estresse por causa de Messias, Lula e Alcolumbre devem recolocar a bola no chão

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve entregar nos próximos dias a Davi Alcolumbre (União-AP) a mensagem que formaliza sua indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, ao Supremo Tribunal Federal (STF). Passado o estresse envolvendo a escolha para a Corte, com ambos os lados esticando a corda e trocando caneladas, os dois presidentes parecem entender que é hora de recolocar a bola no chão.

O recuo de Alcolumbre, que na última terça-feira (2/12) cancelou a sabatina de Messias marcada para 10 de dezembro, foi interpretado no Palácio do Planalto como um sinal claro de disposição ao diálogo — embora ele tenha recuado atirando no governo. Se estivesse disposto à guerra, poderia muito bem ter atropelado o regimento do Senado e mantido a sabatina sem que o governo lhe enviasse a mensagem com a indicação, em ambiente altamente hostil, com grandes chances de rejeição.

Conheça o JOTA PRO Poder, plataforma de monitoramento que oferece transparência e previsibilidade para empresas

Lula jogou parado e pagou para ver. No fim das contas, entre abrir uma crise sem precedentes com o Planalto e recomeçar o jogo do zero, Alcolumbre escolheu a segunda opção. No xadrez político em que se transformou o caso Messias, agora é a vez de o petista fazer um movimento.

Encontro nos próximos dias

A mensagem com a indicação está pronta na Casa Civil. Em um gesto ao todo poderoso senador amapaense, Lula quer se deslocar à Residência Oficial do Senado para fazer a entrega em mãos na semana que vem.

Interlocutores no Planalto e na Esplanada, líderes do governo no Congresso e senadores influentes já estão fazendo o meio de campo entre os dois, e o senador tem emitido sinais de que também está disposto a encerrar o conflito. Nesta sexta-feira (5/12), Alcolumbre participa de uma agenda com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em Macapá.

Se tudo correr como o planejado, a partir de agora a indicação de Messias será tratada com normalidade, o que inclui o tradicional “toma-lá-dá-cá” de Brasília.
Alcolumbre se mostrou indignado com vazamentos de que estaria pedindo alto em termos de cargos e emendas para usar seu poder em favor do AGU e as corriqueiras insinuações de bastidor de que “tudo com Davi tem um preço”. Mas a negociação entre os dois presidentes de Poder faz parte do jogo. E ela começará com o tão aguardado encontro.

Aliados na Corte

A descompressão gerada pelo recuo de Alcolumbre beneficia Messias. Além do tempo extra para fazer o beija-mão com os senadores, o AGU também conta com o apoio inusitado de alguns ministros do Supremo.

Um deles é André Mendonça. O ministro indicado por Jair Bolsonaro à Corte, e “terrivelmente evangélico” como Messias, tem telefonado para senadores de oposição defendendo sua candidatura.

Outro aliado é Gilmar Mendes. Interlocutores de Lula que conversaram com o ministro nos últimos dias afirmam que, embora tenha sido um dos entusiastas da indicação de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ele tem defendido nos bastidores a prerrogativa do presidente da República de fazer sua escolha.

Depois da decisão monocrática em que reduz os poderes do Senado para fazer o impeachment de ministros do STF, fica difícil saber se o apoio de Gilmar mais ajuda ou atrapalha o indicado de Lula.

Em um aceno aos senadores, o AGU pediu que o ministro reconsiderasse a decisão, o que foi prontamente negado por ele. Mas o movimento foi visto por algumas pessoas no governo e no Congresso como uma “jogada ensaiada”. A dúvida é se a coreografia, se é que houve uma, vai comover os senadores que Messias ainda precisa conquistar.

Generated by Feedzy