Lobistas na COP30: problema ou parte da solução?

Algumas organizações internacionais têm manifestado preocupação — e, em muitos casos, críticas — sobre a presença de lobistas nas negociações climáticas, especialmente daqueles vinculados direta ou indiretamente às cadeias de petróleo, gás e carvão.

Segundo levantamento da coalizão Kick Big Polluters Out (KBPO), 1.602 delegados associados a esses segmentos circularam pela COP30, número frequentemente apresentado como evidência de uma “captura corporativa” do debate climático.

Conheça o JOTA PRO Energia, monitoramento jurídico e político para empresas do setor

Embora o número apresentado seja relevante e mereça atenção, tratá-lo como evidência automática de influência indevida ou de um suposto retrocesso nas negociações em prol da agenda ambiental significa reduzir a complexidade de um ecossistema de governança climática que é, por essência, multissetorial e interdependente.

Excluir determinados segmentos das discussões — sobretudo aqueles cuja transformação é indispensável para o cumprimento das metas globais — acaba sendo uma resposta simplista para um desafio que exige coordenação institucional, soluções tecnológicas e mobilização financeira em larga escala.

A realidade é que uma parte relevante das cadeias de produção, transporte e serviços ainda depende de combustíveis fósseis, já que alternativas integralmente viáveis, acessíveis e escaláveis não estão plenamente disponíveis. Justamente por isso, o engajamento desses setores nas negociações internacionais não é um obstáculo à transição: é uma condição para acelerá-la com responsabilidade, previsibilidade e impacto real.

Se é verdade que “é preciso uma vila inteira para criar uma criança”, também é verdade que será necessária uma sociedade inteira para garantir uma trajetória climática sustentável. Isso implica reconhecer que nenhuma nação, setor econômico ou comunidade poderá enfrentar isoladamente a crise climática.

A construção de coalizões amplas, a pactuação de acordos realistas, a elaboração de políticas públicas eficazes e a criação de regulamentações que promovam inclusão em escala global são elementos centrais para que os compromissos da COP30 sejam implementáveis e não deixem nenhum país à margem desse processo.

Do mesmo modo, a participação qualificada do setor privado é essencial para “fechar a conta” financeira da transição — um valor que inevitavelmente recairá sobre todos os governos e representantes da sociedade. A transformação dos sistemas produtivos, energéticos e logísticos exige investimentos massivos, previsibilidade regulatória e capacidade de inovação, dimensões nas quais o setor privado desempenha papel decisivo.

Assine gratuitamente a newsletter Últimas Notícias do JOTA e receba as principais notícias jurídicas e políticas do dia no seu email

Nesse contexto, a presença de profissionais que atuam na intermediação entre empresas e governos — lobistas — não deve ser vista como um entrave, mas como um canal legítimo para construir convergências, alinhar expectativas e viabilizar soluções concretas. Eles contribuem para que as transições necessárias sejam negociadas com base em informações técnicas, transparência e compromissos que possam ser cumpridos no mundo real — e não apenas no papel.

A transição climática não será bem-sucedida se for construída contra ninguém; ela só terá força se for construída com todos. Em vez de demonizar a presença de atores estratégicos, o verdadeiro desafio é garantir que sua atuação ocorra sob regras claras, com transparência, integridade e responsabilidade pública.

A Conferência das Partes, em especial sua 30ª edição, deve ser lembrada não como o encontro que tentou excluir vozes, mas como aquele que soube organizar a diversidade de interesses em direção a um objetivo comum: acelerar, de forma justa e viável, a descarbonização do planeta. Esse é o caminho para transformar ambição em implementação — e promessa em resultado.

Generated by Feedzy