‘Brasil vai fazer o seu road map’ para reduzir combustíveis fósseis, diz presidente da COP

Minutos antes de embarcar de volta para Brasília, o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, afirmou que, se o road map de redução dos combustíveis fósseis defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tivesse sido colocado na agenda de negociações mandatadas, não teria sido aprovado. Afinal, tudo precisa de consenso e este é assunto que nunca teve. Mas, para ele, não se pode esperar por consenso para agir. “O Brasil vai fazer o seu road map“, garantiu.

No balanço final destes 13 dias de negociações, ficou evidente que o tema ganhou destaque nunca visto em uma COP. Em entrevista ao JOTA, o embaixador admite que o número de países que manifestou publicamente pela transição dos combustíveis fósseis o surpreendeu. Mas também lhe causou surpresa o número daqueles que são contra. No mais, ele fez um balanço positivo da COP30, que disse ser a demonstração da irreversibilidade da agenda climática.

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Veja os principais trechos da entrevista.

Quais foram as maiores surpresas positiva e negativa desta COP na floresta para o senhor?

A positiva foi o número de países que se manifestaram publicamente pela transição para o afastamento dos combustíveis fósseis. E a negativa foi exatamente o número de países que é contra.

Mas o tema entrou na pauta e isso é um sinal para os mercados e investidores, não?

Tivemos, sim, importantes sinais para o setor privado no mundo e no Brasil. Vemos pela agenda de ação, a participação ativíssima do setor privado, a liderança da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a agricultura absolutamente comprometida. Foi um grande sinal para a transição brasileira.

Acho que ainda podemos destacar a importância do TFFF e a grande coalizão aberta para mercados de carbono regulado. Foi absolutamente incrível. As iniciativas brasileiras com participação, interesse e forte atuação do setor privado.

Ou seja, para quem investe está dada a direção para o futuro?

Sem dúvida. Vamos lembrar da gloriosa frase do presidente chinês Xi Jinping, que usamos em uma das nossas cartas da presidência sobre a irreversibilidade da agenda. E a COP30 é a demonstração da irreversibilidade da agenda, por mais que os EUA tenham saído do acordo de Paris ou tenham prejudicado os avanços da decisão da IMO (a sigla em inglês da Organização Marítima Internacional). Vemos avanços importantes na agenda de combate à mudança do clima.

Não foi surpresa que o road map para a redução da dependência dos combustíveis fósseis tenha ficado fora, não é?

Nunca poderia ser aprovada por consenso. Não teria entrado na agenda. Se tivéssemos colocado o road map na agenda, ela não teria sido aprovada (a agenda mandated foi aprovada no primeiro dia da COP pela primeira vez em quatro anos), porque não tinha apoio. Quem conhece o processo sabe. Mas foi colocada de maneira política na agenda. Teve impacto positivo sobre a conferência e aumentou o interesse sobre o tema.

Mas como ele pode entrar na agenda, ser tratado de fato daqui para frente na COP31 na Turquia, ou na COP32, na Etiópia?

Vai depender da nossa capacidade de promover documentos que permitam a maturidade do tratamento do que se tem nas conferências. De repente, na próxima, se consegue colocar uma ou mais frases. O ponto central é que ficou patente que, se levarmos em consideração a emergência e (a questão da necessidade de) consenso, que é um obstáculo, é preciso agir em outras frentes, como aconteceu. Não se pode esperar por consenso para agir. O Brasil vai fazer o seu road map.

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