A prisão preventiva de Jair Bolsonaro (PL) terá efeito direto na pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ao Palácio do Planalto. Ao longo dos últimos dias, o filho mais velho do ex-presidente avançou em seu projeto de concorrer contra Lula (PT), em 2026, como representante da família no processo eleitoral.
Se, de um lado, a decisão deverá gerar comoção de apoiadores em torno de Flávio Bolsonaro, de outro, ela pode provocar avarias na imagem de “moderação” do senador e até arrastá-lo para o epicentro de uma investigação criminal. Chama a atenção de aliados da família Bolsonaro o fato de determinação do ministro ter ocorrido ao final de uma semana na qual o manto da pré-candidatura presidencial foi oferecido ao primogênito Flávio, de 44 anos.
Em entrevista exclusiva ao JOTA na sexta-feira (21/11), o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) chancelou a pré-candidatura do irmão, demonstrando que a família começava a formar um consenso em torno dele. “O Flávio, que tem o perfil mais moderado, mais político, mais articulador, da família, tem a possibilidade de aderir outros partidos de centro-direita e de centro nessa campanha dele. É uma candidatura muito competitiva”, afirmou ele.
A decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, no entanto, atinge frontalmente Flávio Bolsonaro e pode, segundo advogados e até aliados dele ouvidos pelo JOTA, ensejar uma investigação criminal. “O senador da República faz uso do mesmo modus operandi, empregado pela organização criminosa que tentou um golpe de Estado no ano de 2022, utilizando a metodologia da milícia digital para disseminar por múltiplos canais mensagens de ataque e ódio contra as instituições”, escreveu o ministro na decisão que determinou a prisão de Jair Bolsonaro.
Outro aspecto importante da decisão está no fato de o ministro contrariar justamente o “perfil moderado” de Flávio apontado por Eduardo na entrevista ao JOTA. “Quanto ao ponto, verifica-se que as manifestações do filho do réu no referido vídeo revelam o caráter beligerante em relação ao Poder Judiciário, notadamente o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, em reiteração da narrativa falsa no sentido de que a condenação do réu JAIR MESSIAS BOLSONARO seria consequência de uma ‘perseguição’ e de uma ‘ditadura’ desta SUPREMA CORTE”, escreveu o magistrado.
Em vídeo publicado em suas redes sociais, Flávio Bolsonaro convocou uma vigília de apoiadores em frente ao condomínio onde o pai se encontrava em prisão domiciliar, em Brasília. O senador usou termos religiosos e patrióticos, dizendo frases como “vamos invocar o senhor dos exércitos! A oração é a verdadeira armadura do cristão” e também apelou à militância: “Você vai lutar pelo seu país ou assistir tudo do celular aí da sua casa”.
Além de ter se colocado como pré-candidato ao Planalto, o senador também passou a ser cotado para ocupar a vice em eventual chapa com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP). Também nesse aspecto a decisão de Moraes deve afetar, ao menos por ora, as negociações.
Segundo aliados de Tarcísio, a decisão de Moraes ocorre justamente em um momento no qual o governador vem tentado distensionar suas relações com o STF, após ter criticado o ministro em setembro deste ano. Na avaliação de interlocutores de Tarcísio, Flávio entrou na “alça de mira” do Supremo. No entanto, eles ressaltam que é preciso aguardar a repercussão mais ampla da prisão porque entendem que ela deve causar uma comoção em torno de Flávio.
Tarcísio tinha uma visita a Jair Bolsonaro marcada para o dia 10 de dezembro, mas ela foi cancelada por Moraes. Havia grande expectativa entre os aliados do governador de que o ex-presidente sinalizaria ao governador o desejo de ter Flávio como candidato a presidente ou mesmo vice.