População negra é minoria em cargos mais altos do serviço público federal, diz estudo

A população preta e parda segue sub-representada nos postos mais altos e mais bem remunerados do serviço público. Apesar do crescimento geral registrado nos últimos, a administração pública a nível federal ainda tem o menor índice de servidores negros e o menor avanço nos últimos 12 anos: a proporção passou de 37,6% em 2013 para 42,6% em 2025, mostra levantamento do Instituto República.org. O patamar ainda é distante dos 56,7% que esse grupo representa na população brasileira.

Nas esferas subnacionais, os municípios apresentam os índices mais próximos da população brasileira, com 56,9% de servidores negros (ante 51,2% em 2013), enquanto nos Estados o percentual subiu de 42,9% para 49,6% no mesmo período. No conjunto geral, a proporção total de servidores negros (pretos e pardos) passou de 46,1% em 2013 para 52,9% em 2025.

Quer acompanhar os principais fatos ligados ao serviço público? Inscreva-se na newsletter Por Dentro da Máquina. É grátis!

O estudo também mostra expansão na presença de mulheres negras, que passaram de 25,2% para 30,2% do total de servidores de 2013 para 2025. Elas aumentaram sua participação em cargos de liderança, de 11,6% para 15,4%. Ainda assim, continuam sendo o grupo mais mal pago no setor público.

Medianas salariais em 2025:

Mulheres negras: R$ 2,8 mil
Homens negros: R$ 3,4 mil
Mulheres brancas: R$ 3,8 mil
Homens brancos: R$ 5 mil

Já o percentual de servidores negros com ensino superior passou de 41,8% para 59,3% no mesmo período. O levantamento associa esse crescimento à ampliação do acesso das pessoas negras ao ensino superior através de políticas de ações afirmativas e à criação e expansão de sistemas de cotas raciais nos concursos públicos.

“A sub-representação de pessoas negras no serviço público indica a importância de avançar na continuidade e no aprimoramento dessas políticas, para que a administração pública reflita o perfil demográfico do país”, afirma Ana Paula Sales, analista de dados da República.org.

Políticas de cotas avançam em concursos e cargos de liderança

A organização destaca que o governo federal aprimorou o arcabouço de ações afirmativas nos últimos anos, tanto no ingresso quanto na ocupação de cargos de direção. Na seleção, a nova Lei 15.142/2025 ampliou a reserva para 30% das vagas em concursos públicos e contratações temporárias, além de expandir o alcance para indígenas e quilombolas. Também passou a exigir  comissões de heteroidentificação e mecanismos para evitar a fragmentação das vagas.

O Estudo Panorama de Gestão de Pessoas (PGP), também da República.org, divulgado em outubro desde ano, considera como um marco inédito no alto escalão burocrático o Decreto 11.443/2023, que determina que 30% das posições comissionadas (níveis 1 a 17) sejam ocupadas por pessoas negras até dezembro de 2025.

Por outro lado, o PGP aponta falhas no monitoramento de desigualdades dentro da carreira pública. Um dos principais gargalos é a ausência de registros sistemáticos da avaliação de desempenho com recortes de raça e gênero, o que impede identificar e corrigir eventuais vieses. Entre as recomendações, a Republica.org indica o desenvolvimento da capacitação obrigatória sobre vieses inconscientes para lideranças, a permissão da desagregação racial e de gênero no sistema eletrônico de avaliação e integração de dados de raça às estatísticas de progressão e remuneração.

Generated by Feedzy