Horizonte de curto prazo contamina avaliação da disputa presidencial

A avaliação de que a política brasileira é polarizada tornou-se lugar comum. Essa polarização, contudo, é bastante sui generis, dado que um dos polos não possui direitos políticos por conta de condenação pela Justiça Eleitoral.

Assim, um dos debates mais importantes da conjuntura é a busca pelo nome capaz de representar o antipetismo na eleição presidencial de 2026. A temporada de especulações está em pleno vapor e elas costumam estar associadas à quase antecipação do resultado eleitoral.

Conheça o JOTA PRO Poder, plataforma de monitoramento que oferece transparência e previsibilidade para empresas

A leitura da disputa presidencial antes da celeuma entre Brasil e EUA era de que o governo não conseguiria se reeleger. A despeito do quadro econômico, especialmente do crescimento da renda e do mercado de trabalho, a avaliação de governo permanecia negativa, o que resultava em constantes derrotas no Legislativo e movimento de abandono dos partidos da centro-direita da coalizão de governo. Uma leitura da apreciação do real frente ao dólar atribuía esse movimento ao otimismo dos agentes econômicos com a quase certa derrota do lulismo em 2026.

As divisões no interior da direita agravadas com a celeuma em torno de Donald Trump reverteram as previsões para quase vitória garantida do governo. A direita estaria travada na escolha do seu candidato, dados os dilemas do ex-presidente Jair Bolsonaro entre o núcleo familiar que aposta no tensionamento institucional e o pragmatismo do centrão que prefere um projeto construído pela política tradicional.

Uma hora, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) já seria a cabeça da chapa presidencial após possível migração para o PL, movimento que só precisaria do aval do ex-presidente Bolsonaro. Em paralelo, caso esse plano seja escolhido, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) anuncia que disputará a eleição presidencial. Em meio às complexidades da engenharia política por trás da candidatura de oposição, o nome do governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), cresceu nas bolsas de apostas.

O destino de Tarcísio personifica, nesse sentido, a avaliação sobre a impossibilidade de vitória da direita. Preso entre a necessidade de obter a “benção” do ex-presidente e o aceno a uma candidatura moderada, Tarcísio teria desistido da disputa diante da força do presidente Lula e, especialmente, pelo custo reputacional mais alto a partir do aumento da rejeição bolsonarista.

Essa perspectiva mais desafiadora para a direita resulta no boom de especulações em torno de nomes para enfrentar Lula. As evidências, contudo, sugerem peso secundário do candidato, diante de um quadro de cristalização das preferências eleitorais. O argumento do texto é de que os fatores ambientais são mais importantes para definir o sucesso do projeto da oposição em 2026.

Esse efeito contágio é consequência direta da cristalização do eleitorado. O patamar de rejeição de um candidato não se dá apenas em função de algum atributo individual, mas da posição que ele ocupa na competição política. Em uma lógica de bipolaridade, qualquer nome percebido como rival de Lula irá herdar apoio dos antilulistas e rejeição dos governistas.

Quando sobe a rejeição daquele que representa o polo antipetista, há um natural desgaste dos demais nomes, ainda que esse efeito aconteça em momentos diferentes. Ele é obviamente mais forte quando existe maior proximidade política, mas deve afetar a todos os nomes.

Não por acaso, a celeuma em torno da segurança pública pode trazer sinais mais positivos para o antipetismo. A operação policial no Rio de Janeiro quebrou o bom momento do governo. A oposição ficou presa à pauta mais bolsonarista colecionando derrotas e posições políticas minoritárias. Além disso, a estratégia de tributação do “andar de cima” resgatava a imagem do lulismo como força política em defesa da justiça social.

O tema da segurança inverte a correlação de forças. O governo passa a defender posições minoritárias da sociedade. A rotulação das organizações como PCC e Comando Vermelho como organizações terroristas recebem amplo apoio da sociedade. A esquerda não tem respostas claras para oferecer ao eleitorado que demanda reforço de punição e de ação policial. O debate sobre segurança pública pode aumentar a rejeição ao petismo, aproximando mais uma vez da rejeição ao bolsonarismo.

Assine gratuitamente a newsletter Últimas Notícias do JOTA e receba as principais notícias jurídicas e políticas do dia no seu email

Se esse cenário se confirmar, a tendência é que todos os nomes simulados pela direita deverão ter melhoria nas pesquisas, independentemente de qualquer atributo individual.

Essas idas e vindas do cenário, contudo, não alteram a estrutura esperada da campanha de 2026: tendência de eleição em dois turnos com margem bem pequena para o vencedor.

Generated by Feedzy