‘A prioridade é identificar o que não é TDAH’, defende psiquiatra

O aumento de casos de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) no país tem preocupado especialistas da área devido ao uso de terapias sem eficácia comprovada para a enfermidade. “A grande maioria [dos tratamentos] não tem fundamentação científica sólida. Porém, pela lei atual, apenas com a indicação do médico o plano de saúde já é obrigado a fornecê-las”, destacou o psiquiatra Paulo Mattos, professor da UFRJ e pesquisador do Idor, durante o XLII Congresso Brasileiro de Psiquiatria (CBP), realizado no Rio de Janeiro (RJ).

Para o especialista, é necessário conhecer os transtornos e evitar que tratamentos ineficazes tragam prejuízos, em vez de melhoras. “Isso não chama a atenção do grande público, mas é essencial saber o que não é TDAH, porque isso evita danos aos próprios pacientes. Infelizmente, muitos atores acabam se beneficiando dessa cadeia”, frisou Mattos.

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Dados da Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA) estimam que entre 5% e 8% da população brasileira tenha TDAH, o que corresponde a cerca de dois milhões de crianças e adolescentes. As estatísticas revelam que a prevalência do transtorno subiu de 6,1% para 10,2% em um período de 20 anos.

No caso do autismo, não existem estudos recentes, mas estimativas sugerem que aproximadamente dois milhões de pessoas estão no espectro autista, representando cerca de 1% da população.

Diagnóstico

O professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e especialista no tema, Luis Rohde, acredita que um diagnóstico correto deva ser prioridade na saúde pública. “Nós temos que capacitar nossos profissionais de saúde da atenção básica para que eles conheçam esses transtornos, porque temos uma falha atual quando se trata dessa avaliação”, destacou.

Rohde defende que também cabe aos profissionais indicar o melhor tratamento, com base em validade científica. “Muitas vezes as intervenções são montadas a partir das preferências pessoais, e não pelo que é baseado na ciência, por isso é necessário esse conhecimento aprofundado”, detalhou.

Os especialistas também alertam sobre os riscos do conteúdo online. “Temos estudos que mostram que mais de 50% desses conteúdos difundidos em plataformas digitais apresentam informações errôneas”, frisou Mattos. “Estão criando diagnósticos a partir de traços de autismo e TDAH, que toda a população apresenta em algum momento, mas essa avaliação está errada, e ocorre muito por meio das mídias sociais”, complementou.

Tratamento

A identificação da enfermidade precisa ser feita por um profissional, mas professores também podem ajudar, defendem os psiquiatras. “Temos muitos estudos mostrando que a identificação por professor é mais fidedigna do que a do pai e da mãe, porque eles têm experiência com crianças e um contato direto”, disse Mattos.

Os especialistas ressaltam ser essencial dar prioridade aos tratamentos que têm validade científica antes de explorar novas alternativas. “Temos dados que começam a mostrar a eficácia de algumas práticas, como musicoterapia, equoterapia e outras, entretanto ainda é cedo para ter uma confirmação”, frisou Rohde. “Sabemos que o que é eficaz são os medicamentos e também a terapia. Isso deve ser priorizado”, acrescentou Mattos.

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