A estratégia do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) para o Brasil se divide em duas frentes principais: de um lado, aprofundar o papel de “banco das cidades” e de outro integrar mais as empresas brasileiras ao ecossistema de negócios da região latino-americana.
Em entrevista ao JOTA durante as reuniões anuais do FMI e do Banco Mundial, o vice-presidente de setor privado da instituição multilateral, Antônio Henrique Silveira, que já foi ministro dos Portos, diz que a ideia, quando se fala das empresas brasileiras, não é só promover o comércio, mas também investimentos e a atração de capital estrangeiro para a região, especialmente em infraestrutura.
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Segundo ele, atualmente, a carteira desembolsada para o setor privado no Brasil é de aproximadamente US$ 600 milhões. A CAF quer ampliar esse volume, mas, explica, está mais preocupada com os impactos efetivos dos empréstimos do que nos volumes financeiros. “A gente está tomando uma série de iniciativas para maximizar o impacto dos empréstimos que a gente concede”, disse, destacando que o Brasil é quem mais tem tido aprovações de operações na região.
Reforçar “empréstimos A/B” para catalisar recursos
Silveira destaca o empréstimo do tipo A/B, que deve ser reforçado para ampliar a atuação com o setor privado brasileiro.
Nessa modalidade, a CAF atua como o “emprestador A”, ficando como a contraparte direta do tomador de crédito, mas sem aportar todo o valor do crédito. O restante dos recursos para a operação vem de um pool de bancos comerciais ou investidores, os “emprestadores B”, que se beneficiam das imunidades e privilégios da CAF como instituição multilateral, entre eles o status de credor preferencial. Isso, explica, reduz riscos e viabiliza financiamentos que de outra forma não ocorreriam.
Com este modelo, a CAF consegue mobilizar um volume de capital muito superior ao seu próprio aporte. Um exemplo prático foi uma operação de US$ 200 milhões com o BDMG, na qual a CAF entrou com apenas 20% do valor, catalisando os 80% restantes de outros bancos para financiar iniciativas de mobilidade urbana e economia verde em Minas Gerais.
Novo fórum para interlocução empresarial
Dentro desse esforço de integrar a mais o setor privado da região, Silveira destaca que foi criado o “Fórum Empresarial CAF”, adotado pelo Panamá e cuja próxima edição está marcada para 28 e 29 de janeiro de 2025 e, segundo ele, deve contar com a presença do presidente Lula.
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Silveira aponta que o evento, apelidado de “Davos Tropical”, visa se tornar a principal plataforma de interação do setor privado na região. A próxima edição incluirá uma grande rodada de negócios para conectar vendedores da América Latina com mais de 200 empresas compradoras dos EUA e Europa, com foco em setores como agronegócio, mineração, software e moda. A visão é que, até 2030, a CAF seja uma das principais plataformas de atração de capital para a América Latina e o Caribe.
Discussão fiscal e espaço para investimento público
Silveira destaca que o Brasil vive uma discussão fiscal intensa, mas ele vê com relativa tranquilidade o quadro atual, ainda que com alguns desafios. Entre eles, a questão do investimento público. “Particularmente na questão do investimento público em infraestrutura, que, sim, é um tremendo desafio. Dá para abrir espaço entre gastos obrigatórios e o orçamento total, ou seja, o gasto discricionário ter a capacidade de guiar investimento público, especialmente na área de infraestrutura, porque não dá para depender só do setor privado”, defendeu.
Mesmo assim, diante da restrição fiscal, o desafio de ampliar os investimentos também passa pela questão de se buscar mais financiamento e atuação privada. “O Brasil é um caso exemplar de uma visão suprapartidária no sentido de ter investimento privado em infraestrutura e ter os mecanismos privados para viabilizá-los”, disse.