A direção dos Correios apresentou nesta quarta-feira (15/10) um plano emergencial de reestruturação financeira que inclui a solicitação de um empréstimo de R$ 20 bilhões, com aval do Tesouro Nacional. As negociações pelo crédito estão sendo conduzidas entre o Tesouro e um sindicato de bancos, formado por Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e instituições privadas. A operação, ainda em fase de negociação, é considerada essencial para garantir a continuidade das atividades da estatal até 2026.
“A gente precisa recuperar a liquidez da empresa para que a gente possa, por exemplo, ter capacidade de pagar o Plano de Demissão Voluntária (PDV). Estamos fazendo uma operação com bancos para a realizar uma operação de tomada de recursos”, afirmou o presidente dos Correios, Emmanoel Schmidt Rondon, que assumiu o cargo há apenas 21 dias.
Assine gratuitamente a newsletter Últimas Notícias do JOTA e receba as principais notícias jurídicas e políticas do dia no seu email
A proposta já foi apresentada ao Conselho de Administração da estatal, mas ainda aguarda deliberação final. A resposta oficial do colegiado deve sair até a sexta-feira da próxima semana, dia 24 de outubro.
O plano de reestruturação dos Correios está estruturado em três pilares: corte de despesas, diversificação de receitas e recuperação da saúde financeira do caixa. O objetivo é reequilibrar as contas da empresa, que acumula prejuízo de R$ 4,3 bilhões apenas no primeiro semestre de 2025 — mais que o triplo do registrado no mesmo período de 2024 (R$ 1,3 bilhão).
“Estamos passando por uma negociação com um sindicato de bancos, a operação está sendo colocada dentro de condições adequadas, mas que também seja viável para fazer o cumprimento do contrato de crédito que a gente vai assinar”, disse Rondon. “A operação está sendo negociada, sim, com garantia da União.”
Segundo ele, o crédito será usado para recompor o caixa, financiar medidas de ajuste fiscal e operacional e garantir estabilidade à estatal nos próximos dois anos. O governo federal deve exigir contrapartidas como digitalização de serviços, revisão de contratos, venda de imóveis ociosos e mudanças no plano de saúde dos empregados.
Entenda as três frentes
A primeira fase do plano de reestruturação traz três conjuntos de medidas:
Corte de despesas operacionais e administrativas – Inclui a abertura de um novo plano de demissão voluntária (PDV), ainda sem detalhes anunciados. O último PDV, encerrado em maio, teve adesão de 3.500 funcionários. A empresa também colocará à venda imóveis ociosos e renegociará contratos com grandes fornecedores, “sem colocar em risco a segurança jurídica das operações”.
Diversificação de receitas e recuperação da geração de caixa – A empresa buscará ampliar a oferta de produtos e serviços, com foco em inovação e digitalização. Foi citada a recente parceria com a Infracommerce para o lançamento de um marketplace. Os novos produtos ainda não foram detalhados pela atual gestão.
Recuperação da liquidez da empresa – Trata-se da própria operação de crédito de R$ 20 bilhões. “Esse programa ele está sendo tratado de forma bem cuidadoso pra gente enxergar onde tem deficiência e ociosidade”, disse Rondon.
Crise se aprofunda
A estatal acumula resultados negativos. No segundo trimestre de 2025, o prejuízo líquido foi de R$ 2,64 bilhões; no primeiro, R$ 1,72 bilhão. Em 2024, o déficit totalizou R$ 2,6 bilhões. A empresa admitiu, em notas explicativas de suas demonstrações financeiras, que tem feito pagamentos apenas conforme as “disponibilidades financeiras”.
Diante da deterioração fiscal, a nova gestão tenta evitar que a estatal seja classificada como dependente do Tesouro — o que exigiria sua inclusão no Orçamento Geral da União (OGU) e limitaria ainda mais o espaço para gastos discricionários sob o arcabouço fiscal. O valor do empréstimo solicitado equivale praticamente ao faturamento total da empresa em 2024 (R$ 18,9 bilhões).
Mesmo com juros possivelmente elevados, a área econômica do governo avalia que a operação é necessária para evitar que os prejuízos da estatal passem a impactar diretamente o resultado primário do governo federal.
Transição e metas
A mudança de comando na empresa foi formalizada em setembro. O então presidente Fabiano Silva foi substituído por Emmanoel Rondon, economista e servidor de carreira do Banco do Brasil. A nomeação foi aprovada pelo Conselho de Administração no dia 19 de setembro, e a posse ocorreu no dia 26.
Desde que assumiu, Rondon tem reiterado que sua gestão tem prazo para apresentar resultados e que o plano emergencial visa recolocar os Correios no azul até 2027.
Inscreva-se no canal de notícias do JOTA no WhatsApp e fique por dentro das principais discussões do país!
“O que a gente está discutindo é reestruturação da empresa”, disse. “Receitas vêm caindo ano a ano. Porém, as despesas estão subindo. O aumento de despesa, analisado ano por ano, vem na faixa de 6%. O que está faltando a gente fazer é colocar as medidas para reduzir as despesas.”
Para o presidente, tornar a empresa mais eficiente e capaz de competir no mercado requer uma revisão do modelo operacional. Ele citou exemplos de correios estatais da França, Japão e China como casos de diversificação bem-sucedida de portfólio e recuperação financeira.
“Dentro desse cenário, o objetivo é tornar a empresa mais eficiente, com novo ambiente de senso operacional e capacidade de competir no mercado”, afirmou.