Pacheco tem simpatia de ministros do STF e de Alcolumbre, mas desconfiança dentro do governo

Questionado sobre a futura indicação à vaga aberta no Supremo Tribunal Federal (STF) durante visita em Roma, na Itália, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva optou por modular o discurso —disse que não vai indicar um amigo, que procura uma pessoa gabaritada e que ainda precisa “conversar com muita gente”. A postura mais moderada do presidente indica que ele sabe que o nome do advogado-geral da União (AGU), Jorge Messias, apontado como favorito por interlocutores do Planalto, tem resistências.

Uma das resistências seria do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), que prefere que o posto seja ocupado pelo senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Pacheco também conta com a simpatia de uma ala do Supremo para ocupar a vaga aberta pela saída do ministro Luís Roberto Barroso —neste grupo estão nomes como o de Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes, Flávio Dino e Cármen Lúcia, conforme apontam interlocutores.

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Existe uma leitura dentro desse grupo que Pacheco é um bom nome porque é ponderado, qualificado e foi leal à Corte durante os ataques sofridos na gestão de Jair Bolsonaro e nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2025.

Entretanto, alguns no Palácio do Planalto interpretam o vazamento de informações de que há “resistências” a Messias como indícios de pressão pelo nome favorito de Alcolumbre e de ministros da Corte, não necessariamente como um veto absoluto ao nome do atual AGU.

Outras fontes ponderam que Lula viajou no sábado para Roma com uma comitiva restrita e deixou poucas pistas sobre a indicação antes de embarcar. Assim, atribuem a especulações as informações surgidas ao longo do fim de semana sobre nomes mais ou menos cotados para o posto. A expectativa é que haja novas informações mais concretas quando Lula retornar de viagem.

Um auxiliar direto de Lula na Esplanada tem dito a interlocutores nos últimos dias que ao indicar Pacheco para o Senado, o presidente estaria entregando o posto ao Centrão —ou seja, a um grupo político que na visão dele apoia apenas circunstancialmente a atual gestão. Essa visão encontra ressonância entre fontes do Palácio do Planalto.

Lula sabe que é importante o apoio de Alcolumbre neste processo — quando Jair Bolsonaro indicou André Mendonça, em 2021, o senador era presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que sabatina o candidato do STF. Como não era a favor do nome, tentando conseguir uma alteração, ele demorou 3 meses para marcar a sabatina.

Pacheco tem aliados de peso frente ao favoritismo de Messias —que está entre os cotados desde a indicação de Flávio Dino para o STF. Mas a sua indicação também cria um problema quanto à sucessão em Minas Gerais. Enquanto isso, Pacheco faz seus acenos —nesta segunda-feira (13/10) foi visto cumprimentado o presidente do STF, Edson Fachin, na residência oficial do Senado.

A cena ocorreu depois de uma reunião com Fachin, Alcolumbre, Herman Benjamin, presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e com o procurador-geral da República, Paulo Gonet, para falarem da tramitação do projeto de lei (PL 429/2024) que cria o Fundo Especial da Justiça Federal (Fejufe) e prevê a distribuição de percentuais das custas judiciais. Pacheco participou a convite de Alcolumbre, segundo fontes informaram ao JOTA.

Assim, Lula terá que fazer ponderações em sua escolha neste xadrez, uma vez que o apoio de Alcolumbre e de ministros do Supremo é importante. Ao mesmo tempo, como diz o ditado, “gato escaldado tem medo de água fria”. O presidente aprendeu muito sobre as indicações a ministros em seus mandatos e, neste terceiro, tem priorizado aqueles com maior lealdade pessoal e ideológica e menos suscetíveis à opinião pública. Depois da Lava-Jato, escolher um ministro do STF ficou ainda mais complexo.

(Colaborou Lucas Mendes)

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