A esperada ida do deputado Guilherme Boulos (PSol-SP) para a Secretaria-Geral da Presidência tem significados que vão para além das históricas vinculações do psolista com os movimentos sociais por habitação.
Embora, para algumas fontes, a indicação busque sanar a insatisfação de Lula com o trabalho do ministro Márcio Macêdo, interlocutores do presidente afirmam que ele enxerga em Boulos uma liderança promissora para o futuro da esquerda, com diálogo mais consolidado com a base social do presidente e categorias profissionais. Lula também vê no deputado uma capacidade maior do que a de Macêdo para inflamar a militância.
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Boulos já comunicou à direção do PSol que aceitará o convite e não deverá concorrer à reeleição no ano que vem. Isso gerou insatisfação no partido, porque ele é o maior “puxador de votos” em São Paulo. Outra consequência seria o deputado sair do xadrez eleitoral na montagem da chapa lulista que concorrerá ao governo paulista em 2026, uma vez que a nomeação estaria vinculada a ele não deixar o governo em abril, limite para desincompatibilização.
Falta só a data?
Ministros e secretários palacianos afirmam que a decisão de substituir Macêdo por Boulos já foi tomada, restando apenas o presidente escolher a data da troca. Enquanto uma parte defende que o anúncio deveria ser feito logo, outros acreditam que a troca só venha a ocorrer depois da COP-30, em novembro. O atual ministro é responsável pela COP Social em Belém e tem tido frequentes agendas relacionadas ao tema com Lula, dentro e fora de Brasília.
Macêdo, além disso, é um dos ministros mais próximos a Lula no campo pessoal. Mas o mesmo se dizia a respeito de Paulo Pimenta, deputado do PT gaúcho que deixou a Secom após meses de fritura, com queixas públicas do presidente sobre a comunicação do governo. Foi substituído pelo publicitário Sidônio Palmeira e voltou a exercer suas funções na Câmara, sem nenhum cargo na Esplanada.
Vai ficar até o fim mesmo?
Também há diferentes versões sobre o prazo de validade do mandato de Boulos como ministro. Há ceticismo entre alguns interlocutores do presidente quanto à promessa de Boulos de permanecer no cargo até o final do atual mandato.
Alguns deles avaliam que, dificilmente, ele deixará de disputar a eleição de 2026, seja como candidato ao Senado ou à Câmara, em São Paulo. Mas, para isso, teria que se desvincular do cargo em abril do ano que vem, permanecendo no posto por menos de seis meses.
Diálogo com entregadores e outras categorias
Apesar de ter sido egresso do movimento sem-teto, um trunfo de Boulos é conseguir ser escutado por categorias difusas, sem lideranças nem uma bandeira política/ideológica bem definida. Esse ativo, avaliam alguns aliados, faria bem à candidatura de Lula na eleição de 2026.
O governo permanece com dificuldades para dialogar com entregadores e motoristas de plataformas digitais. E, se nenhuma proposta for sancionada até o próximo pleito, Lula terá de responder por que não cumpriu promessas de campanha voltadas para tais segmentos.
Inimizade com plataformas
O deputado organizou um projeto de lei com pautas trazidas por entregadores, como a remuneração mínima de R$ 10 por corrida, e nomeou o iFood como o inimigo a ser combatido no Congresso.
Hoje, a comissão especial da Câmara que analisa uma proposta para regular trabalhos intermediados por aplicativos tem se detido mais a criticar os modelos de negócios de iFood e Uber —as maiores empresas de seus respectivos segmentos— do que a buscar uma saída consensual para as lacunas existentes no mercado como um todo.
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O tema está imerso em tamanha complexidade que Boulos, um dos poucos deputados atuantes na comissão, costuma fazer dobradinha com o bolsonarista Daniel Agrobom (PL-GO), parlamentar próximo aos motoristas plataformizados e que diz apoiar o projeto escrito pelo psolista com apoio dos entregadores.
Debate contaminado
A “fulanização” do debate regulatório já foi uma estratégia adotada no passado pelo Ministério do Trabalho, mas não surtiu os efeitos esperados. Luiz Marinho chegou a dizer que não se importaria com a saída da Uber do Brasil, sem, no entanto, atrair a simpatia dos motoristas vinculados às plataformas. No fim, o projeto de lei enviado pelo governo para regular o trabalho da categoria acabou contaminado politicamente, a ponto de o ministério não ter uma atuação efetiva na atual comissão especial da Câmara.
É digno de nota que, enquanto aliados atacam o iFood nominalmente, Lula posa para fotos anunciando investimentos chineses no setor de delivery. O presidente esteve com executivos da Meituan em maio, durante visita de Estado à China, e recebeu o CEO da 99 em seu gabinete, em setembro.
Acredita-se que a chegada da Meituan, dona do aplicativo Keeta, impactará profundamente o setor de delivery no Brasil, devido ao modelo de negócios agressivo da companhia, que visa à eliminação da concorrência praticada por empresas menores. Tais estratégias no exterior envolveram remunerações iniciais mais vantajosas para os trabalhadores, por meio de bonificações, e promoções chamativas para fidelizar clientes.