O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, detalhou, em coletiva de imprensa realizada na tarde desta quinta-feira (2/10), as ações emergenciais do governo federal em resposta ao surto de intoxicação por metanol provocado pela ingestão de bebidas destiladas contaminadas. O principal tratamento para os casos é o etanol farmacêutico. Segundo Padilha, há um estoque de 4,3 mil ampolas disponíveis com os hospitais da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). Além disso, a pasta prepara uma compra emergencial de cinco mil tratamentos (que podem, em geral, exigir até 30 ampolas por tratamento) para
garantir um estoque estratégico nos Centros de Referência de Toxicologia (Ceatox).
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também mapeou 604 farmácias de manipulação em todo o país que têm condições de produzir esse antídoto, o que facilita a aquisição por gestores estaduais e municipais, caso não tenham estoque.
O Ministério da Saúde também está buscando o fomepizol, antídoto alternativo para o tratamento. Apesar de não ser registrada no Brasil, a substância tem maior eficácia em certos casos, sobretudo na utilização hospitalar de pacientes com quadro mais grave. Além disso, o manejo do fomepizol é considerado mais fácil de ser aplicado pelas equipes hospitalares. Por meio da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), o Brasil solicitou a doação imediata de 100 tratamentos e manifestou a intenção de compra de outros mil tratamentos do fomepizol, visando a construir um estoque no país. O MS também acionou as 10 maiores agências
reguladoras do mundo e associações nacionais de produtores para identificar fornecedores globais capazes de produzir ou ofertar o fomepizol.
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Padilha também atualizou os números relacionados à intoxicação. Os dados mais recentes apresentados pelo Ministério da Saúde indicam um total de 59 casos notificados, entre suspeitos e confirmados, no Distrito Federal (1 caso), em Pernambuco (5 casos) e em São Paulo, estado que concentra a maioria dos casos. Até o momento, 11 foram confirmados laboratorialmente.
Há ainda um óbito confirmado em São Paulo e outros sete sob investigação no país, sendo dois em Pernambuco (nas cidades de João Alfredo e Lagedo), três na cidade de São Paulo e dois em São Bernardo do Campo (SP). O aumento anormal do número de casos, historicamente baixo (média de 20 casos por ano em todo o Brasil nos últimos 10 anos), foi o que alertou o Ministério da Saúde para a anormalidade da situação há cerca de uma semana.
Orientação clínica
O ministro enfatizou que os profissionais de saúde devem iniciar o tratamento o mais rapidamente possível, assim que houver suspeita clínica por sintomas como dor abdominal e alterações visuais, que podem surgir de 12 a 24 horas após a ingestão. Não é necessário aguardar a confirmação laboratorial para começar a
condução terapêutica. A pasta também publicou uma nota técnica específica para orientar a investigação e a conduta clínica, disponível no site do Ministério da Saúde.
O Ministério também informou que está em contato permanente com os 32 Centros de Referência de Toxicologia existentes em todos os estados do país, com 9 centros especializados em São Paulo, o epicentro da situação.
Alerta à população
Padilha reiterou o pedido para que a população evite o consumo de bebidas destiladas, sobretudo as incolores, cuja origem não seja absolutamente confiável. Ele destacou que este é um produto de lazer e não essencial, e evitar o consumo não traz prejuízo à vida de ninguém. A recomendação é reforçada porque a adulteração com metanol está sendo identificada em destilados incolores, onde
a alteração é mais fácil de ser praticada do que, por exemplo, em cervejas seladas.
Para coibir o crime, foi estabelecida uma sala de situação coordenada pelo Ministério da Justiça, com a participação do Ministério da Saúde, da Polícia Federal (PF), da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) e de órgãos de defesa do consumidor. A Polícia Federal foi acionada para investigar todas
as hipóteses, mas o foco principal é a suspeita de um esquema criminoso com motivação econômica: aumentar o volume da bebida através da adulteração. A notificação imediata dos casos suspeitos é considerada crucial para o rastreamento da origem das bebidas adulteradas, auxiliando o trabalho da PF.