Saúde: motor econômico e desafio brasileiro

Frequentemente negligenciada no debate econômico, a saúde se apresenta como uma área econômica propulsora do desenvolvimento nacional. Setor complexo, responde por 10% a 12% do PIB e gera 32 milhões de empregos. E dados do Ipea demonstram que cada real investido retorna R$ 1,70 ao PIB. Como ignorar este potencial econômico?

A saúde enfrenta um antigo paradoxo: demanda crescente versus investimentos finitos. Subfinanciamento público, aumento dos planos privados e baixa remuneração aos prestadores de serviço persistem. Soma-se a alta incidência de doenças crônicas, causas externas e desafios ligados ao envelhecimento populacional.

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Dados do DataSUS, analisados pelo Ipea, revelam que, em 2024, o SUS despendeu R$ 449 milhões com internações de vítimas de acidentes de trânsito no Brasil. Esse montante abrange desde o atendimento emergencial até a reabilitação prolongada, incluindo o fornecimento de órteses e próteses, evidenciando o alto custo social e econômico dos acidentes.

Soma-se aos crescentes custos do setor a judicialização: em 2024, o Ministério da Saúde gastou R$ 3,2 bilhões com ações relacionadas a medicamentos, representando 33% dos gastos estaduais com esse tipo de demanda. Enquanto a saúde suplementar previu que foi onerada em R$ 6,8 bilhões, em quase 300 mil ações judiciais, apresentando 28% de crescimento em comparação ao ano anterior, segundo o Valor Econômico.

As taxações e impostos são impactantes e decisivos custos ocultos que pressionam a operação do ecossistema da saúde. O Brasil se destaca como um dos países que mais tributam a saúde, o que penaliza toda a cadeia produtiva, dificulta o acesso aos serviços e aumenta as desigualdades.

Essa alta tributação limita os recursos disponíveis para investimentos e avanços no complexo econômico e industrial da saúde. A Fiesp destaca que o investimento em saúde e inovação é decisivo para oferecer novas oportunidades para:

Atração de investimentos estrangeiros: Desenvolvimento de tecnologia local e geração de empregos qualificados.
Redução da dependência externa: Proteção contra crises de abastecimento e promoção da autossuficiência.

Estamos num grande impasse social. A saúde clama por uma agenda propositiva que a eleve à prioridade nas políticas de Estado, transformando-a no propulsor do desenvolvimento socioeconômico. Torna-se imperativo encontrar modelos de investimento que melhorem as condições de vida e reduzam o adoecimento da população. Somente assim será possível manter um sistema de saúde que garanta segurança, justiça social e a geração de riquezas a longo prazo.

Mas como encontrar este equilíbrio entre os recursos financeiros finitos e a necessidade crescente da população? Como garantir uma população saudável e produtiva, assegurando crescimento econômico sustentável do país? 

A proposta

A saúde é um conceito dinâmico e multidimensional, que evolui para refletir as complexidades do ambiente, das tecnologias e das sociedades humanas. Apresenta-se três conceitos atuais que ilustram diferentes perspectivas e estratégias para promover o bem-estar e a qualidade de vida. Sugiro uma abordagem integrada e contemporânea

1. Saúde única

O conceito de Saúde Única (One Health), reconhece a interdependência entre saúde humana, saúde animal e o meio ambiente. Destaca a importância de um enfoque integrado, colaborando entre diferentes setores para prevenir doenças e proteger recursos naturais.

2. Cidades saudáveis

Espaços urbanos projetados de forma a promover o bem-estar e a inclusão social de seus habitantes, com acessibilidade a serviços básicos, áreas verdes, saneamento e transporte eficiente. Investimentos em espaços públicos, acessibilidade, iluminação eficiente, e programas de incentivo à prática de atividades físicas.

3. Cidades inteligentes

Cidades que adotam tecnologias, dados e inovação para melhorar a gestão urbana, eficiência de serviços públicos e qualidade de vida. Implica no uso sistemas de gestão integrados para otimizar recursos e melhorar a qualidade de vida do cidadão.

Mesmo que estas três referencias não dialoguem diretamente, a compreensão desses conceitos demonstra que a promoção da saúde vai muito além do cuidado individual, envolvendo ações em ambientes urbanos, políticas ambientais e uso inteligente de tecnologia.

É importante notar também, que nos trazem de forma clara que os impactos reais em saúde não acontecem somente com os recursos efetivos da saúde. Integrar esses aspectos é fundamental para construir sociedades mais saudáveis, sustentáveis e resilientes.

O enfrentamento de problemas sociais complexos exige uma estratégia que integra temas ou ações de diversas áreas e setores, promovendo ações coordenadas e simultâneas para alcançar objetivos comuns, uma política transversal. Ela busca romper com a visão fragmentada e isolada das políticas públicas, promovendo integração e foco em temas que afetam diferentes setores da gestão pública do Estado (Laurell, 2001; Dahlgren, 2009).

A política transversal atua como um mecanismo de integração que une diferentes áreas e setores, garantindo que ações relacionadas à saúde, sustentabilidade, tecnologia, urbanismo e outros temas sejam coordenadas, complementares e articuladas, promovendo assim um impacto mais amplo e efetivo na vida das pessoas.

Defende-se aqui que a saída deste impasse é um Pacto Nacional de Sustentabilidade em três dimensões:

a manutenção da autonomia do Poder Executivo frente aos recursos da saúde;
o fortalecimento da gestão municipal como uma oportunidade de atender melhor a população aumentando a assertividade nos investimentos e resultados para o cidadão;
com transformações através da implementação da saúde como política transversal.

Considerando os métodos e conceitos contemporâneos já consolidados na administração pública, a estratégia de cidades inteligentes oferece um caminho para aprimorar a governança e as decisões de investimento nos municípios. Além de impulsionar a saúde pública com tecnologia, a cidade inteligente pode ser a base de um plano de desenvolvimento municipal integrado, em que os dados de saúde alimentam, permeiam e conectam as decisões para os projetos urbanos.

Estabelecer esta agenda tem o objetivo de fortalecer a cooperação e governança entre as diferentes áreas de gestão dos investimentos públicos, reconhecendo que os impactos reais em saúde não são somente com os recursos efetivos da saúde, mas intersetorial.

Esta é uma nova forma de pensar a saúde e planejar o Estado, numa busca de melhor aplicar e equilibrar os recursos existentes. Numa jornada de construção de um país mais saudável, mais justo e que, através de políticas públicas bem formuladas e implementadas, atenda às reais necessidades da população e assegure desenvolvimento e crescimento econômico para o Brasil.

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