As chances de o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, vir a ser o candidato a presidente da República pelo campo da direita em 2026 estão em cerca de 75%, segundo amostragem de 40 pessoas entre operadores políticos em Brasília e São Paulo, líderes partidários, auxiliares do presidente Lula e especialistas em eleições consultados pelo JOTA.
Cada entrevistado, de forma anônima, atribuiu uma nota de 0 a 10 para essa chance. O exercício permite transformar percepções subjetivas em dados quantificáveis sobre expectativas e cenários futuros — técnica conhecida como elicitação de probabilidades. Vale ressaltar que entre os participantes da amostragem estão fontes com amplo acesso a informação e importantes observadores e atores da cena política, muitos dos quais participam das costuras político/eleitorais que envolvem o futuro de Tarcísio e o jogo eleitoral.
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As notas revelam tanto a intensidade quanto a dispersão das expectativas sobre a decisão do governador. Do ponto de vista quantitativo, a média registrada entre o grupo de políticos (7,5) não difere de forma estatisticamente significativa da média observada entre especialistas em eleições (7,8). Entre os consultados, houve apenas uma nota abaixo de 5 — de uma pessoa com acesso ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Prós e contras para Tarcísio ser o candidato
A dependência da decisão pessoal de Bolsonaro, a dificuldade de um governador abrir mão da reeleição em seu estado e a incerteza diante de julgamentos ou conjunturas ainda voláteis, natural pela distância até o pleito, são elementos que pesam contra uma maior certeza sobre a candidatura de Tarcísio, e isso foi mencionado por alguns respondentes voluntariamente. Para eles, a candidatura só se concretizará se houver acomodação institucional e cálculo político mais claro.
Por outro lado, a percepção de que Tarcísio já atua como pré-candidato, conta com apoio de partidos de centro-direita e do mundo financeiro e tende a se tornar um nome competitivo caso Bolsonaro o endosse são elementos que impulsionaram as notas mais altas.
O contraste evidencia que, embora a expectativa média seja favorável à candidatura, a decisão final ainda é percebida como condicional a fatores externos.
Imprevisibilidade de Bolsonaro
Nesse contexto, é importante ponderar a alta imprevisibilidade de Jair Bolsonaro, que ora demonstra a interlocutores disposição de apoiar o governador e ora mostra convicção de carregar até o fim seu plano de levar sua candidatura até o limite, como fez o presidente Lula em 2018, o que inviabilizaria o caminho do governador do maior estado do país.
Tarcísio sabe que suas chances de chegar ao Planalto diminuem sensivelmente se não contar com a benção formal e comprometida de seu padrinho político. Por outro lado, tem de tentar manter a aura de direita moderada, que o tem colocado como o favorito da “Faria Lima”.
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É uma situação dúbia em que o governador às vezes veste a roupa de bolsonarista raiz, como nos ataques ao STF no 7 de setembro e nas articulações pela anistia, e em outras submerge no cenário nacional, negue intenções de concorrer ao Planalto e diga que busca a reeleição ao Palácio dos Bandeirantes, como fez nessa semana.
Governo federal vê Tarcísio como o representante da direita
Em meio a essa indefinição, no governo federal boa parte dos consultados considera muito alta as chances de o adversário da aliança governista ser Tarcísio. Em público, o próprio presidente Lula já trata o governador como o adversário, embora nesse caso, para além da percepção de que a direita moderada estaria se aglutinando em torno dele, há uma estratégia de tentar instigar os ataques do bolsonarismo e de suas alas mais radicais.
Como mostraram os ataques dos filhos do ex-presidente ao governador, boa parte do bolsonarismo ainda sonha com a candidatura do seu “capitão” ou no máximo de um membro de sua família que garanta por mais um bom tempo o poder político e simbólico do sobrenome.
É nesse contexto que discussões como o projeto da anistia e agora sua versão light, que trata de abrandamento de penas, têm se intensificado no Congresso.
Por isso, a despeito da chance majoritária apontada no levantamento feito pela equipe do JOTA — que envolveu o trabalho dos analistas de política Beto Bombig e Fabio MuraKawa, das repórteres Mariana Ribas e Mariah Aquino, além do cientista de dados, Daniel Marcelino, e do analista-chefe, Fabio Graner —, a realidade é que o cenário está envolto em elevado grau de incerteza. E que ainda é preciso acompanhar as idas e vindas da política, que como diz o ditado, é como nuvem. E na atual conjuntura, de um céu bem nublado.