A primeira vez em que vi um solo erodido, pensei: “essas coisas devem ser normais”. Afinal, era comum observar pequenos sulcos e escorregamentos nas viagens de família pelo interior de Goiás. Anos depois, vi uma voçoroca. Era tão grande e tão próxima das casas que percebi que não se tratava de algo tão comum assim. Algo tão extremo não poderia existir em muitos lugares, certo?
Mas afinal, o que é uma voçoroca? O solo é um dos principais recursos naturais do Brasil. Na escola, aprendemos que a água é a fonte da vida – e de fato é –, mas não podemos esquecer que o recurso sob os nossos pés é tão fundamental quanto.
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A erosão, isto é, a remoção de solo causada pela ação da água ou do vento, é um processo natural, mas pode ser agravada pelo uso inadequado da terra, como o desmatamento, as queimadas frequentes, a ausência de cobertura entre os cultivos e o manejo inadequado do solo.
Tudo começa com pequenos canais formados pela chuva em um solo desprotegido. Se nada for feito, esses sulcos vão aumentando, a água abre caminho cada vez mais fundo, e a cicatriz no terreno cresce. Quando esse processo atinge dimensões maiores, formando enormes “cânions” no solo, temos a chamada voçoroca, que também é conhecida como vossoroca ou boçoroca em algumas regiões.
Independentemente do nome, é um problema grave de perda de solo, trazendo consequências como a redução da fertilidade, queda de produtividade e perda de biodiversidade, além do risco direto para as residências, estradas e vidas.
Se engana quem pensa que as voçorocas se restringem ao meio rural. Recentemente, Buriticupu, no Maranhão, ganhou destaque na imprensa pelo grande número de voçorocas que atingem a zona urbana, afetando mais de 800 pessoas. No município, há praticamente uma voçoroca no fim de cada rua. Casos assim mostram que estamos diante de uma situação real e urgente, que exige políticas públicas de prevenção e, principalmente, de mitigação, já que a economia brasileira depende fortemente de solos saudáveis.
Mas, para mitigar, primeiro é preciso conhecer. Hoje, não temos dados suficientes para dizer com clareza quantas voçorocas existem no Brasil, nem onde estão localizadas. Alguns pesquisadores e municípios conhecem suas realidades locais, porém ainda não existe uma rede ou instituição que concentre e organize essas informações para embasar políticas públicas efetivas no tema. Temos no Brasil 50 voçorocas? 100 mil? 1 milhão? Ainda não sabemos, mas queremos saber!
Em agosto de 2025, a rede MapBiomas, da qual o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) faz parte, anunciou uma nova iniciativa: receber e reunir informações, registros e indícios sobre a localização das voçorocas no país. É um verdadeiro “Caça-Voçorocas”. Queremos saber onde estão, quando surgiram, qual a sua extensão. Como verdadeiros detetives, buscamos pessoas e instituições que já tenham mapeado ou georreferenciado essas feições para compartilhar seus dados.
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Nosso objetivo é formar a primeira base nacional de informações sobre voçorocas e, a partir dela, avançar para o mapeamento em escala nacional e temporal. Assim, poderemos medir o impacto real desse fenômeno e pensar em soluções efetivas. Então, se você tem dados, registros ou informações sobre voçorocas em qualquer lugar do Brasil, entre em contato pelo e-mail contato@mapbiomas.org.br e ajude a ampliar esse conhecimento coletivo.
Porque onde existem voçorocas, nosso papel é pôr no mapa.