O “ruído externo” provocado pelo tarifaço de Donald Trump ainda repercute entre os brasileiros, mas seu efeito positivo sobre a aprovação de Lula já mostra sinais de desgaste, aponta a pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta terça-feira (17/9). Para o Planalto, o dado reforça a avaliação de que, para manter e ampliar o apoio, será essencial combinar resultados domésticos com as preocupações em alta na cabeça dos brasileiros.
Ao mesmo tempo, a política do presidente dos Estados Unidos – interpretada como tentativa de influenciar o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos e três meses em 11 de setembro – enfrenta rejeição crescente. Atualmente, 73% dos brasileiros desaprovam a medida (alta de 2 pontos), enquanto apenas 20% a apoiam.
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A rejeição é mais intensa entre eleitores lulistas e da esquerda não lulista (91% em ambos os grupos), mas também cresce entre independentes, que representam 31% da amostra. Entre esses independentes, a parcela que considera a medida errada subiu de 80% em julho para 85% atualmente, enquanto o apoio caiu de 11% para 9%.
O apoio à medida de Trump diminui até entre eleitores bolsonaristas (13% da amostra). Em agosto, 54% defendiam a iniciativa; agora são 50%. Já a rejeição passou de 36% para 41%. Entre a direita não bolsonarista, que representa uma parcela maior de eleitores (21% da amostra), a tendência se repete: a parcela que desaprova a medida subiu de 48% para 53%, enquanto o apoio recuou de 43% para 40%.
Paralelamente, a percepção de que Lula e o PT estão agindo corretamente no contencioso com os EUA segue crescendo, embora em ritmo mais lento. Em julho, 44% dos eleitores compartilhavam essa avaliação; em agosto, subiu para 48%; e atualmente chega a 49%. A análise por posicionamento político mostra que o avanço foi puxado principalmente pelos independentes, cuja aprovação da postura do governo passou de 37% em julho para 45% em agosto, e 49% agora.
Planalto mira consolidar visão nacionalista para atrair eleitores de volta
A tendência é de que o tema internacional mantenha relevância no debate público, mas com impacto limitado sobre a popularidade de Lula. Ainda assim, o governo pretende manter a estratégia vigente. No círculo próximo ao presidente, há a percepção de que o Brasil está conseguindo impor sua narrativa, encarando o cenário como um jogo de cartas marcadas, com o calendário eleitoral definido.
Como o JOTA mostrou, o ex-presidente Jair Bolsonaro ainda é o candidato com o qual a administração Trump 2.0 estaria comprometido. No governo, a avaliação é de que esse embate se estenderá até as eleições. Assim, questões como a soberania nacional e a garantia da transição democrática – prioridade já antes da posse de Trump – continuam no topo da agenda, superando até mesmo temas como o tarifaço.
Diante desse cenário, o desafio imediato do Planalto é “bring voters home” – trazer os eleitores para casa: consolidar o apoio entre eleitores centrais e independentes, grupo decisivo não apenas para impulsionar a popularidade do presidente, mas também para garantir vantagem na corrida eleitoral de 2026.
A pesquisa ouviu presencialmente 2.004 pessoas entre 12 e 14 de setembro. A margem de erro é de 2 pontos percentuais.