O presidente da Argentina, Javier Milei, foi rápido e claro ao reconhecer a derrota de sua coalizão (La Libertad Avanza) nas eleições legislativas da província de Buenos Aires, ainda na noite de domingo (7/7). Com 89% das urnas apuradas, a oposição peronista (Fuerza Patria) liderava com mais de 13 pontos de vantagem, o equivalente a mais de um milhão de votos. Ao lado de Karina Milei, Santiago Caputo, Patricia Bullrich e outros membros do governo, Milei resumiu: “Sofremos uma derrota clara. Devemos aceitar os resultados.”
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Buenos Aires concentra o maior colégio eleitoral do país, com 38% do total de eleitores. Uma derrota ali enfraquece politicamente o governo e indica dificuldades para avançar com sua agenda. Bons resultados poderiam dar mais fôlego para implementar reformas e medidas liberais. A derrota, no entanto, expõe os limites do apoio popular ao seu projeto — dois anos após a eleição — e deve levar a uma recalibração da estratégia de pressão da oposição kirchnerista sobre a base parlamentar frágil que Milei governa.
A declaração de Milei também ecoa fora da Argentina. No Brasil, soa como um recado ao bolsonarismo, que em situações de revés eleitoral costuma contestar a legitimidade das urnas. Diferentemente, a primeira reação do presidente argentino foi enfatizar a importância de compreender o recado da maioria dos eleitores, respeitar o processo democrático e preservar a estabilidade institucional, em vez de tentar corroê-la.
Pela frente, a tendência de baixa de Milei na Argentina deve reduzir o potencial de inspiração e dificultar o reaproveitamento de seu modelo político e econômico como referência para candidatos no Brasil nas próximas eleições.
Pesquisas indicavam empate técnico, mas eleição mostrou cenário diferente
As pesquisas falharam ao projetar os resultados das eleições legislativas na província de Buenos Aires, favorecendo o oficialismo. As sondagens mais precisas indicavam uma vitória do peronismo por uma margem estreita, de cerca de 3 pontos, enquanto algumas chegaram ao extremo de prever uma vantagem de até 10 pontos para a aliança de Milei.
As últimas sondagens apontavam um cenário mais polarizado, com empate técnico entre o peronismo e a aliança de Milei, diferente do resultado confirmado nas urnas. Na média das seis últimas pesquisas realizadas nas últimas duas semanas, entre 25 de agosto e 3 de setembro (a divulgação na Argentina é proibida nos dias que antecedem a eleição), a oposição Fuerza Patria aparecia com 40,3% contra 38,6% de La Libertad Avanza (LLA) de Milei, diferença de 1,7 ponto, tecnicamente empate. Com 5,1% de indecisos.