Os investidores fora da curva e as leis no novo contexto econômico

Vivemos uma época de transformações constantes e cada vez mais rápidas: uma nova ordem econômica global reorganiza o comércio mundial e fluxos de capitais, conflitos geopolíticos seguem no horizonte, reformas e novas regulações estão sendo impostas a todo o momento e a tecnologia ganhou novos contornos com inteligência artificial, que já reorganiza o mercado de trabalho e modelos de negócios. Para investidores e empreendedores, o jogo talvez nunca tenha sido tão desafiador.

Somado a esse cenário de incertezas e mudanças, o mundo dos investimentos também se tornou cada vez mais complexo nos últimos anos, com novos produtos e mercados sendo estruturados, trazendo alternativas não imaginadas no passado. Tudo isso faz com que sejam poucos os que conseguem se destacar e seguir consistentes ao longo dos anos.

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Nesse ambiente, quem quiser aprender e ser um investidor fora da curva precisa mais do que dominar técnicas financeiras e ter faro para perceber os movimentos do mercado — precisa compreender o impacto direto da legislação e da regulação em cada decisão tomada.

A experiência de outros investidores também pode dar mais pistas de como se comportar e tentar decifrar o movimento da lei em momentos de turbulência, mas mantendo um alto desempenho.

Ao organizar o livro Fora da Nova Curva, ao lado da jornalista Giuliana Napolitano e do gestor Florian Bartuck, que traz 13 depoimentos de grandes investidores e empreendedores brasileiros, foi possível perceber que embora cada história seja única, há pontos em comum: a ousadia, a persistência e a capacidade de enxergar oportunidades onde a maioria só via risco.

Porém, a obra (nas livrarias em novembro pela Portfolio-Penguin) mostra que além da identificação dessas características há uma lição nas entrelinhas: não existe investimento sustentável sem segurança jurídica, sem atenção ao que a lei já determina e, principalmente, ao que ainda pode vir a determinar.

É impossível, por exemplo, dissociar o avanço de setores inteiros de seus respectivos marcos regulatórios. O crescimento do mercado de capitais dependeu de normas de transparência impostas pela CVM; o florescimento do venture capital ganhou fôlego com o Marco Legal das Startups; a expansão dos fundos imobiliários só se consolidou graças à organização de regimes tributários e às regras de incorporação. Em todos esses casos, o Direito não foi mero coadjuvante, mas o alicerce que permitiu o amadurecimento de práticas e novas estratégias.

O sucesso de um investidor não está apenas em enxergar oportunidades, mas em buscar se antecipar à direção da lei. Antecipar regulações tributárias pode ser o diferencial entre um fundo altamente rentável e outro fadado ao insucesso. Compreender como órgãos de defesa da concorrência vão atuar pode ser a chave para estruturar uma fusão ou aquisição. Saber como serão desenhadas as normas ambientais ajuda a avaliar a viabilidade de projetos de infraestrutura ou energia.

Mais do que isso, investidores institucionais de grande porte muitas vezes não apenas se adaptam às regras: eles também participam do debate público sobre sua formulação. A interlocução com governos, reguladores e legisladores tornou-se parte do trabalho estratégico. É um movimento natural, porque os recursos que administram não se aplicam no vazio: precisam de estabilidade, clareza e confiança nas instituições.

O cenário internacional também reforça esse ponto. O capital estrangeiro só aporta em larga escala em países que oferecem previsibilidade legal. Se as regras mudam de forma constante ou arbitrária, se contratos deixam de ser cumpridos, os fluxos de investimento se retraem. Por isso, segurança jurídica é fator de competitividade global. Não basta oferecer retorno financeiro; é preciso garantir que esse retorno não será corroído por mudanças repentinas de interpretação ou por instabilidades regulatórias.

Essa dinâmica se torna ainda mais sensível diante de transformações tecnológicas, como a revolução da Inteligência Artificial, a digitalização de serviços financeiros e a ascensão de novos modelos de negócios sustentáveis. Todos esses campos caminham lado a lado com discussões regulatórias: da proteção de dados pessoais, do uso ético de algoritmos à tributação de plataformas digitais. O investidor que ignora esses debates corre o risco de ficar para trás.

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Assim, a lição central dos investidores fora da curva é clara: a rentabilidade financeira não nasce apenas da genialidade individual, mas da capacidade de ler o ambiente institucional em que se opera. Ousadia, persistência e autoconhecimento continuam a ser características indispensáveis, mas precisam vir acompanhadas de atenção ao Direito — seja para se proteger, seja para se posicionar de forma estratégica diante das inevitáveis mudanças.

No fim, ser um investidor diferenciado significa aceitar que o risco é inseparável da atividade, mas que esse risco só pode se transformar em retorno quando encontra uma moldura jurídica que assegure previsibilidade. As janelas de oportunidade se abrem e se fecham de acordo com os rumos da lei. Aqueles que sabem interpretá-las, ou até mesmo influenciá-las, tendem a permanecer relevantes por mais tempo.

É essa combinação de visão, disciplina e capacidade de antecipação que faz de alguns poucos nomes referências no mercado. Mais do que fórmulas prontas, suas trajetórias oferecem uma reflexão: em um mundo em constante mutação, é preciso ter os olhos voltados tanto para as variáveis financeiras quanto para o movimento — muitas vezes silencioso, mas decisivo — da legislação.

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