Como furar bolhas em tempos de polarização e isolamento

Vivemos um tempo em que conversar se tornou mais difícil. E mais urgente. O mundo está polarizado, as instituições enfrentam uma crise de confiança e a solidão virou uma epidemia silenciosa. Em um cenário assim, furar bolhas não é apenas um desafio da comunicação. Acima de tudo, é uma necessidade social.

Durante a palestra que dei no Hacktown, em Santa Rita do Sapucaí (MG), falei sobre a arte de comunicar com as bolhas. Porque, sim, estamos todos vivendo dentro de bolhas – culturais, ideológicas, afetivas e digitais. E elas não são necessariamente ruins. O problema é quando viram muros.

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Hoje, só 4 em cada 10 brasileiros confiam nas notícias que consomem. O Índice de Confiança Social caiu quatro pontos em relação ao ano anterior, aprofundando a sensação de desinteresse e ceticismo. A confiança nas instituições não para de cair, especialmente desde a pandemia. Enquanto isso, o Brasil segue entre os cinco países que mais consomem redes sociais no mundo, num ambiente onde os algoritmos reforçam o que já acreditamos e evitam o contraditório.

Não é por acaso que tanta gente se sente só, mesmo conectada. As bolhas isolam e, ao mesmo tempo, dão conforto. Elas reforçam nossas crenças, estimulam o viés de confirmação e reduzem a empatia. Quando só escutamos o que queremos, deixamos de exercitar a escuta ativa, e isso empobrece o debate público e as relações interpessoais.

Furar bolhas, hoje, exige mais do que estratégia de comunicação. Exige presença real, escuta genuína, abertura para o diferente. É preciso adotar uma dieta de comunicação consciente: diversificar fontes, verificar a origem das informações e compartilhar apenas o que for verdadeiro. Parece simples, mas é transformador.

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Mais do que falar com bolhas, precisamos falar com pessoas dentro das bolhas. Comunicar não é sobre performance, é sobre conexão. Não é só sobre o que você diz ou faz, mas sobre como você faz o outro se sentir. Empatia, proximidade e adaptabilidade não são adereços e sim forças estratégicas.

Na prática, isso significa escutar mais do que emitir. Significa reconhecer a dor do outro, buscar consensos possíveis, participar das conversas com humildade. Porque não se influencia uma comunidade sem fazer parte dela. E ninguém fura bolhas apontando o dedo. Só com escuta, presença e coragem para sair do próprio ponto de vista.

Como comunicadora, busco ser cada vez mais observadora e crítica. Só assim é possível entender as nuances do que está por trás das bolhas – e encontrar caminhos reais de diálogo e transformação.

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