Lula chama Tarcísio para a briga e tenta forçá-lo a ‘descer do umbuzeiro’

O presidente Lula apontou nesta semana Tarcísio de Freitas como seu oponente na eleição presidencial de 2026. Em reunião ministerial na terça-feira, disse na fala fechada (sabendo do futuro vazamento) ter certeza de que o governador de São Paulo concorrerá ao Planalto. Nesta sexta, voltou à carga contra Tarcísio, em entrevista.

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Interlocutores avaliam que uma das principais razões para os movimentos de Lula é colocar mais lenha na fogueira da divisão do campo bolsonarista. A cada aparição do governador como presidenciável, seja em artigos da mídia, análises ou falas de políticos, Tarcísio recebe uma batelada de críticas da ala mais radical do bolsonarismo, encabeçada por Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Este, aliás, não só reforçou as críticas ao governador como ainda deixou clara a disposição de disputar a eleição do ano que vem, mesmo que virtualmente.

Expatriado nos Estados Unidos, onde encabeça o lobby por sanções ao Brasil e às autoridades brasileiras por conta da situação jurídica do pai, o deputado luta para ser o escolhido por Jair Bolsonaro para substituí-lo nas urnas em 2026.

Eduardo perde terreno

Com os movimentos para insuflar o presidente Donald Trump contra o Brasil, Eduardo perdeu terreno nas prévias da família Bolsonaro. Outros candidatos, como o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e a ex-primeira-dama Michelle, também despontam como possíveis presidenciáveis, diante da dificuldade que se vislumbra para reverter a inelegibilidade do ex-presidente.

No campo da direita, mas fora do núcleo familiar, os governadores Ratinho Junior (PSD-PR), Romeu Zema (Novo-MG) e Ronaldo Caiado (União-GO) disputam com Tarcísio a primazia nas pesquisas e o apoio do ex-presidente. Os quatro chefes de governo estaduais foram chamados de “ratos” por outro filho do ex-presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), por pleitearem o lugar que seria do chefe do clã.

Tarcísio no umbuzeiro

A fala de Lula na reunião ministerial reflete a visão do Planalto de que Tarcísio está tentando se proteger do fogo cruzado. Uma comparação ouvida no Palácio é a história do ex-presidente Getúlio Vargas, que na infância se escondeu por mais de 24 horas na copa de um umbuzeiro para escapar de uma surra, após ter estilhaçado uma obra de arte do pai, o general Manuel do Nascimento Vargas. Só desceu dali quando a raiva do patriarca arrefeceu, e levou a lição para sua vida política: não descer do umbuzeiro antes da hora.

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“Quando a circunstância não se mostrar garantida, o melhor a fazer é esperar, resistir, e transformar o tempo em aliado”, relata o biógrafo de Getúlio, Lira Neto. O que Lula busca agora é forçar Tarcísio a “descer do umbuzeiro”, com dois objetivos principais. O primeiro é expô-lo às críticas de Eduardo, Carlos e seu grupo. O segundo é começar um processo de colar no governador, que tenta se projetar como um moderado de direita, a rejeição a Bolsonaro, que foi decisiva para a vitória do petista em 2022. Uma situação curiosamente ambígua, mas que reflete exatamente a confusão no campo da direita, que Lula quer estimular.

Nesta sexta-feira, em entrevista à Rádio Itatiaia, o presidente voltou a se referir a Tarcísio. O presidente disse que o governador “faz o que Bolsonaro quiser” e que “não é nada” sem o ex-presidente. Isso mostra a estratégia do petista de tentar cristalizar no eleitorado a percepção de que Tarcísio é um “poste” de Bolsonaro – assim como Haddad foi classificado como “poste do Lula” em 2018.

A recente alta nas pesquisas deixou o presidente mais confiante na reeleição. No início do ano, com a popularidade em baixa recorde, havia dúvidas no governo e na oposição até mesmo sobre se Lula concorreria. Segundo interlocutores, o presidente precisava de duas coisas para virar esse capítulo: ganhar alguns pontos de popularidade e deixar claro que será ele o candidato. Foi o que aconteceu.

Por outro lado, os ataques que Lula desfere em Tarcísio também indicam que o atual chefe do Planalto enxerga com preocupação o adversário, hoje o preferido do establishment econômico e de parte relevante do Centrão. Vale lembrar que o governador, até por ser menos conhecido, tem rejeição bem menor que a do seu padrinho político. E menor que a de Lula também.

Racha na oposição pode chegar às urnas

No campo da oposição, por outro lado, a indefinição prossegue sobre quem será o anti-Lula em 2026. Jair Bolsonaro tenta manter a primazia de fazer a escolha, apresentando-se como dono dos votos da direita. Mas começa a surgir a possibilidade de que o racha dentro de seu campo político se estenda para o período eleitoral.

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E o filho Eduardo parece empenhado em evitar a união precoce em torno de qualquer um que não seja ele mesmo. Nesta sexta-feira, em entrevista ao portal Metrópoles, afirmou que ele e a família deixarão o PL caso o governador de São Paulo se filie à legenda. O deputado tem demonstrado, até, disposição para concorrer ao Planalto mesmo se o pai escolher Tarcísio.

“Qualquer pessoa que esteja apta, com seus direitos políticos, consegue concorrer. Como você iria fazer a campanha, são outros quinhentos. Talvez, a primeira campanha virtual da história do país. Mas acredito que até lá teremos aprovado uma anistia para corrigir essa injustiça”, disse ele na entrevista ao Metrópoles.

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