O Judiciário brasileiro vive um momento de profunda transformação. Com 99% dos novos processos sendo processados eletronicamente, segundo o relatório Justiça em Números 2024, o país figura como líder global em justiça digital. O setor tem incorporado tecnologias emergentes com uma velocidade e amplitude surpreendentes, e a inteligência artificial desponta como protagonista dessa transformação, impulsionando eficiência, acessibilidade e inovação no ecossistema judicial.
A IA tem potencial para reconfigurar completamente a forma como o Judiciário opera. Ao automatizar tarefas administrativas, a tecnologia pode acelerar significativamente a tramitação dos processos, o que é essencial em um país com mais de 83 milhões de processos em andamento.
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Além disso, ao fornecer encaminhamentos preditivos com base em precedentes e padrões, a tecnologia pode auxiliar os servidores dos tribunais que trabalham na análise dos processos a serem mais assertivos, com a formulação de documentos processuais mais céleres e consistentes.
Ferramentas de IA também são capazes de detectar padrões em grandes volumes de dados, auxiliando na prevenção de fraudes e na identificação de comportamentos anômalos. Esse tipo de análise preditiva pode gerar economias substanciais ao reduzir litígios desnecessários e antecipar a resolução de conflitos.
Entre as aplicações mais promissoras da IA, destaca-se a automatização de tarefas repetitivas, como análise documental, triagem de casos, busca de jurisprudência e gestão de prazos. Segundo estudo do McKinsey Global Institute, cerca de 25% do trabalho de um advogado pode ser automatizado, o que pode significar uma redução de até 13% nas horas de trabalho com atividades operacionais. Ao assumir tarefas que demandam tempo, mas não necessariamente julgamento e avaliação humanas, a IA libera os profissionais para atividades estratégicas e analíticas.
A inteligência artificial também amplia a capacidade de análise do Judiciário. Com algoritmos treinados em grandes volumes de dados, é possível identificar padrões de comportamento, prever desfechos de processos e até sugerir decisões com base em jurisprudência consolidada, sempre com supervisão humana. Essa assertividade e consistência nas decisões judiciais tem o potencial de aumentar a confiança da população na Justiça e reduzir desigualdades no tratamento de casos similares.
Embora as oportunidades sejam imensas, os desafios também se impõem, especialmente quando pensamos em uma adoção ética e segura dessas tecnologias. É preciso garantir que os algoritmos sejam transparentes, auditáveis e livres de vieses, princípios fundamentais para manter a credibilidade e legitimidade de qualquer sistema.
Como alavancar os ganhos de produtividade sem colocar em risco direitos fundamentais, como a privacidade e imparcialidade? A resposta passa por uma combinação de governança robusta, supervisão humana, educação digital, segurança e transparência.
Empresas de tecnologia têm atuado não apenas como fornecedoras de soluções, mas como parceiras do Judiciário na construção de um futuro digital mais justo, investindo em tecnologias seguras e escaláveis e colaborando com os tribunais para desenvolver IAs explicáveis, transparentes e éticas.
E um dos caminhos mais promissores para isso é a adoção de modelos de IA de código aberto. Essa abordagem oferece uma alternativa econômica, flexível e personalizável às soluções proprietárias, o que é essencial no setor público, onde os recursos são limitados e a segurança dos dados é crítica. Além disso, o código aberto estimula a colaboração com a comunidade técnica, gera mais transparência e permite melhorias contínuas sem aprisionar os tribunais a contratos caros ou fechados.
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A segurança da informação é outro aspecto crítico nesse processo. A adoção da IA no Judiciário exige robustez técnica e proteção reforçada contra ameaças cibernéticas. A manipulação de dados sensíveis, muitas vezes confidenciais, impõe uma responsabilidade adicional às instituições públicas e aos fornecedores de tecnologia.
A criptografia avançada e os sistemas de defesa digital são exigências fundamentais para preservar a integridade do sistema. Outro ponto que deve ser levado em consideração é a adoção de nuvem e a escolha por provedores confiáveis, com adoção de mecanismos de criptografia robustos e que garantam a integridade do sistema.
O uso da IA no Judiciário representa uma grande oportunidade para reduzir a fila processual, tornar a justiça mais acessível, célere, bem como de oferecer decisões assertivas, e o Judiciário brasileiro já demonstra ser capaz de liderar globalmente sua adoção. Agora, o desafio é consolidar esse protagonismo com ética, inclusão e inovação sustentável. O futuro da justiça não é apenas digital — é também humano, transparente e colaborativo.