Oposição vê CPMI do INSS como palco de desgaste a Lula para 2026

Num primeiro recado claro ao governo Lula e às presidências da Câmara e do Senado, a federação União Brasil-PP articulou para assumir o controle da CPMI do INSS. Nas mãos da ala oposicionista dos partidos recém-federados, a lógica é tentar desgastar o governo Lula como ocorreu na CPI da Covid com o governo de Jair Bolsonaro.

É difícil que a nova investigação tenha o mesmo impacto político da CPI da Covid em 2021, já que agora não há o isolamento social que amplificava o efeito das sessões televisionadas sobre o governo Bolsonaro. Mas a inesperada perda de controle do colegiado é um mau sinal para o governo e não só teve efeitos imediatos como viabiliza um palco de desgaste para a administração Lula por diversos meses, em meio à aproximação do cenário eleitoral.

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A derrota ainda pode se arrastar se as ameaças dos membros de abandonar o colegiado se concretizar. Segundo fontes, os governistas Omar Aziz, Renan Calheiros e Eduardo Braga podem pedir para serem substituídos do colegiado.

O impacto da derrota do Planalto na escolha do presidente e do relator da CPMI mexeu com o tabuleiro de votações tanto na Câmara quanto no Senado. Diante do risco de não ter votos necessários, Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP) decidiram tirar da pauta de votações propostas importantes para o governo, como a PEC dos Precatórios e a urgência do Imposto de Renda.

O clima era de perda de controle dos parlamentares. No governo, chegou-se a temer a derrubada das novas regras para contabilização dos precatórios, que viabiliza ao governo fechar o PLDO e o PLOA de 2027 sem maiores dificuldades.
Unificação da direita na mira

A articulação da reviravolta na comissão foi rapidamente associada aos presidentes da federação, Antônio Rueda (União) e Ciro Nogueira (PP-PI), que ontem atacaram o governo Lula em discursos duros anunciando um eventual desembarque.

Os ataques ao governo Lula fazem parte da estratégia de unificar uma candidatura única da direita com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Juntos, os dois partidos — com 110 deputados e 15 senadores — têm quatro ministérios no governo Lula, o comando da Caixa Econômica Federal, cargos em estatais. Apesar dos ataques, nenhum dos cargos deve ser entregue no curto prazo. A tendência é que um desembarque real do governo só ocorra no fim do ano, quando esperam obter o apoio formal de Bolsonaro em torno do candidato da direita.

Inelegível e em prisão domiciliar, Bolsonaro tem resistido a um gesto claro temendo perder prestígio e capital político. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que discursou no evento da federação e foi bastante aplaudido, é o favorito do grupo para disputar contra Lula.

Em conversas reservadas, o petista também tem admitido enxergar Tarcísio como única opção viável da direita. Lula diz apostar todas as fichas que o governador de São Paulo será alçado pelo grupo e com o apoio de Bolsonaro. Vislumbrando esse cenário, a oposição construiu na CPMI do INSS o primeiro palanque rumo às eleições.

“Roubo a velhinhos”

As investigações vão mirar o desgaste do governo Lula com a narrativa do “roubo a velhinhos” e potencial convocações de personagens, como o irmão de Lula. Considerada “um grande circo”, como vem ocorrendo com as últimas CPIs, a comissão pode devolver protagonismo político aos seus integrantes. A exemplo do que ocorreu com Omar Aziz na CPI da Covid, cuja reeleição é atribuída às aparições diárias na TV.

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Recém-eleito presidente da CPMI do INSS, Carlos Viana busca protagonismo para conquistar mais um mandato de senador por Minas Gerais. Já Alfredo Gaspar (União-AL), eleito relator, mira o Senado por Alagoas, estado em que Arthur Lira (PP) e Renan Calheiros (MDB) também pretendem disputar espaço no Salão Azul.

Preocupação no Planalto

A derrota na CPMI pegou o governo de surpresa e gerou uma crise na articulação política, comandada pela ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) e operacionalizada no Congresso pelo líder Randolfe Rodrigues (PT-AP).

No início da tarde, ela promoveu uma “reunião de cobrança” com deputados da base, segundo um dos presentes. No encontro, chegou-se à conclusão óbvia de que um “cochilo” do Planalto e seus aliados permitiu entregar o comando do colegiado ao bolsonarismo.

O governo também terá que reformular toda a sua estratégia para mitigar os efeitos da CPMI, que até ontem parecia sob controle e tinha tudo para ser morna sob o comando de Aziz, mais amigável ao Planalto.

Agora, entre os alvos do colegiado, por exemplo, deve estar Frei Chico, um dos irmãos de Lula, ligado a uma das organizações que supostamente fazia descontos indevidos. Nas redes sociais da direita, é frequente a menção a ele, com acusações relacionadas ao episódio do INSS.

Em busca de um plano B

Uma estratégia discutida com Gleisi e, depois, em uma reunião na Liderança do PT na Câmara, é a formação de uma “bancada” dentro do colegiado para barrar convocações como as de Frei Chico. E, também, tentar aprovar um relatório paralelo ao de Viana.

Fontes no governo e aliados dizem acreditar que a maioria da composição da CPMI ainda se alinha mais ao governo do que à oposição. Mas pessoas dentro do próprio Planalto têm dúvidas sobre esse cálculo, depois da acachapante derrota sofrida na manhã de hoje.

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Também há questionamentos no Planalto sobre o papel de Alcolumbre nesse episódio. Para alguns, o presidente do Senado tomou uma rasteira dos próprios colegas e, assim como Motta, recebeu uma “demonstração de força” da oposição. Para outros, ele agiu nos bastidores para enfraquecer o governo e, consequentemente, se empoderar. E há quem creia que o senador amapaense simplesmente “lavou as mãos”.

Seja como for, o estrago para a administração Lula não é desprezível e torna o clima mais adverso para matérias mais polêmicas que o Executivo quer avançar no Parlamento, como a MP 1303. Mesmo assim, vale lembrar que, como ocorreu no episódio do IOF, o governo tem capacidade para recuperar, pelo menos em parte, o terreno cedido para seus adversários.

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