Chamada telefônica na noite de terça-feira (5/8) entre o assessor especial da Presidência da República, Celso Amorim, e o ministro de Assuntos Estrangeiros chinês, Wang Yi, é sinal de que tarifaço deve levar o Brasil mais para perto da China e do Brics, na contramão do que deseja Donald Trump. A conversa aconteceu horas antes de o Brasil ingressar com pedido de consulta aos Estados Unidos contra o tarifaço na OMC e reforçou união do Brics e laços comerciais entre os dois países.
Amorim ouviu do chinês que Pequim “se opõe à interferência externa irracional nos assuntos internos do Brasil”, que tem apoio firme para implementar o importante consenso alcançado pelos seus chefes de Estado para aprofundar a cooperação China-Brasil, enriquecer a substância estratégica da relação com um futuro compartilhado e combater conjuntamente as incertezas externas com a estabilidade e complementaridade da cooperação bilateral. O brasileiro disse que o país também está disposto a trabalhar com a China para implementar o consenso dos líderes e aprofundar a cooperação em comércio, finanças e outras
áreas.
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O conteúdo da chamada foi divulgado em nota da chancelaria chinesa e publicado na mídia local em periódico que é uma das vozes governo chinês. Esta foi até agora a manifestação mais forte de apoio de Pequim ao Brasil.
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A declaração de Yi também ocorre num momento em que a Índia é o segundo país do Brics a receber tarifa de 50% para suas exportações. Os indianos, que tinham ficado com tarifa de 25%, receberam mais 25% por conta de suas importações da Rússia. Este é risco que corre também o Brasil, que importa diesel e fertilizantes dos russos, como mostrou na semana passada o JOTA, que também alertou para a preocupação do governo brasileiro com projeto de lei em análise no Senado americano com penalidades para quem importa da Rússia. Fontes que acompanham a tramitação dizem que existe expectativa de válvulas de escape para outros países que importam dos russos, como os europeus.
Uma leitura que se pode fazer do momento é que todos os países do Brics teriam passado claramente a alvo da Casa Branca. Isso pode facilitar o argumento a parte da classe política que diverge da punição considerada abusiva que singularizava o Brasil, como têm denunciado parlamentares democratas.
A nota chinesa que reporta a ligação telefônica diz que “a China apoia firmemente o Brasil na consolidação da unidade e cooperação do Sul Global por meio do mecanismo BRICS e na promoção da força coletiva dos países em desenvolvimento. Usar tarifas como arma para reprimir outros países viola a Carta da ONU, mina as regras da OMC e é impopular e insustentável”.
A China também manifestou apoio à salvaguarda da soberania e dignidade do Brasil, à proteção de seus direitos e interesses de desenvolvimento e à “resistência ao uso intimidador de medidas tarifárias. E diz que “se opõe à interferência externa irracional nos assuntos internos do Brasil”.