O envelhecimento da população brasileira, aliado ao crescimento das doenças crônicas e complexas, pressiona como nunca a sustentabilidade do sistema de saúde. A longo prazo, essas doenças se tornam não apenas onerosas à qualidade de vida dos pacientes, como também pressionam os custos do sistema de saúde.
Nesse cenário, como garantir que as inovações em saúde cheguem efetivamente aos brasileiros? Fortalecer a colaboração público e privada e atualizar condutas regulatórias estão entre os possíveis caminhos para melhorar o acesso da população às novas opções terapêuticas.
“A pesquisa clínica e a inovação são muito importantes para o Brasil. Temos uma grande diversidade populacional, um número grande de pacientes e há a possibilidade de utilizar uma série de novas terapias por aqui. Isso representa um afluxo de recursos essenciais, novas tecnologias e pesquisas valiosas para o país”, diz o médico Giovanni Cerri, presidente da Comissão de Inovação e do Conselho Diretor do Instituto de Radiologia Hospital das Clínicas da USP.
Desafios atuais
Um relatório da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) publicado no ano passado revela que, além do aumento da expectativa de vida nas Américas, também houve o crescimento dos indivíduos que têm doenças crônicas não transmissíveis. De acordo com o órgão, essas condições são a principal causa não só de morte nesses países, como também de limitações no cotidiano e incapacidade.1
“O envelhecimento populacional, na verdade, é fruto de uma dinâmica e de um hábito de vida que nos permite ter uma longevidade muito maior do que antigamente. Isso, obviamente, traz outros tipos de enfrentamentos de doenças que não víamos antes”, disse Larissa Andrade, gerente de Acesso da AbbVie.
“Precisamos sentar à mesa com todos os integrantes desse cenário para tomar uma decisão em conjunto. Os mecanismos e formas de metodologia de ação de avaliação podem sim ser revisados de uma maneira que possa ponderar a necessidade médica não atendida, também com as metodologias existentes”
Larissa Andrade, diretora associada de Acesso Estratégico da AbbVie.
Apenas no Brasil, essas condições foram responsáveis por 54,7% do total de mortes, sendo que 41,8% desse total ocorreu de modo prematuro, ou seja, em pessoas entre 30 e 69 anos.2
Contudo, essas doenças não atingem apenas os indivíduos mais longevos. Pesquisa realizada pela UFMG e Unifesp concluiu que 81% dos adolescentes brasileiros têm dois ou mais fatores de risco para o desenvolvimento dessas doenças crônicas, como obesidade, problemas cardiovasculares e câncer.3
Por isso, o investimento em inovação para as faixas etárias de crianças e adolescentes é tão primordial quanto para acometimentos frequentes em adultos e idosos. A AbbVie, por exemplo, possui 30 marcas que tratam mais de 60 condições que se manifestam de crianças a idosos.
No país, são cerca de 45 estudos, que envolvem mais de 170 centros de pesquisa distribuídos em diversas regiões brasileiras. As pesquisas são separadas em grandes especialidades como imunologia, oncologia, oftalmologia e neurociência. No país, os estudos realizados pela empresa são voltados particularmente às áreas de reumatologia, gastroenterologia, oncologia, hematologia, virologia e estética médica. Esses campos refletem mapeamento epidemiológico de forma a responder às necessidades de saúde não atendidas dos pacientes brasileiros.
Avanços no campo da saúde
As inovações no campo da saúde têm se mostrado capazes de mudar não apenas o prognóstico dos pacientes – bem como da própria sustentabilidade do sistema público e privado de saúde. A Organização Mundial da Saúde aponta que países que investem em prevenção e tratamento precoce veem significativa redução de internações.
“As terapias inovadoras ajudam a evitar custos futuros ao prevenir complicações, reduzir internações e permitir que os pacientes retomem suas atividades de um jeito mais rápido”, explica Cerri, da USP. Ainda que nem sempre essas economias em recursos de saúde compensem integralmente os custos dos medicamentos, os benefícios clínicos e funcionais para os pacientes são inegáveis e trazem impactos ao sistema a longo prazo.
Essa perspectiva amplia o conceito de valor em saúde. Ao invés de avaliar as novas terapias apenas pelo seu custo inicial, é preciso considerar seus impactos no controle da doença, na autonomia dos pacientes e no bem-estar de famílias e cuidadores. Esses são alguns ganhos indiretos para o paciente, para o sistema de saúde e para a sociedade como um todo.
Nesse sentido, olhar para a saúde como um setor prioritário de investimento — e não somente como despesa — é um passo fundamental para garantir inovação, qualidade de vida e eficiência nos sistemas públicos e privados. O foco deve estar em soluções que promovam desfechos positivos, com ganhos duradouros para o indivíduo e para o coletivo.
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Nesse contexto, a Saúde Baseada em Valor, do inglês Value-Based Healthcare (VBHC), surge como uma abordagem com objetivo de reorganizar os sistemas de saúde para reorganizar os sistemas de saúde focando em resultados que realmente importam para o paciente, como qualidade de vida, eficácia do tratamento e redução de complicações a longo prazo.
Dessa forma, considera-se resultados clínicos, qualidade de vida e redução de complicações, a fim de possibilitar os melhores resultados para a população. O conceito também vislumbra associar cuidado de alta qualidade e uso de recursos de maneira eficiente, sendo o acesso ampliado à inovação para doenças complexas como uma necessidade ainda longe de ser atendida por completo.
Redução de hospitalizações, aumento de sobrevida, melhor controle de doenças e suas comorbidades associadas, melhora da qualidade de vida a longo prazo são alguns dos possíveis desfechos para pacientes com acesso a novas opções de tratamento eficazes para o controle de suas doenças.
“O custo de saúde vai muito além do medicamento per se. Para além disso, mesmo quando pensamos em inovação, tem todo um olhar para o sistema como um todo que precisa ser bastante mais ampliado”, analisa Larissa, da AbbVie.
Ao mesmo tempo, percebe-se a oportunidade de criar mecanismos inovadores de promoção e saúde com o aumento da capacidade tecnológica e farmacêutica. O uso da inovação se torna, portanto, essencial para incentivar pesquisas clínicas, novas opções de medicamentos e terapias para condições que, até então, não tinham alternativas de tratamento viáveis no sistema público ou privado.
Inovações em oncologia, neurologia e imunologia
As áreas de oncologia, neurologia e imunologia se destacam, pela quantidade alta de doenças associadas, avanços em tratamentos de última geração, diagnósticos e pelo potencial de gerar ganhos de eficiência para os sistemas de saúde, com benefícios a pacientes e sociedade.
“A oncologia é o ambiente de maior revolução nos últimos 10 anos, especialmente porque as terapias alvo, com a tecnologia de medicina de precisão, estão bastante correlacionadas à oncologia. Este ano, por exemplo, a AbbVie pretende lançar uma terapia alvo voltada ao tratamento de câncer de ovário para pacientes, com um inibidor do receptor alfa de folato. Uma terapia inovadora e voltada às pessoas que não têm opção de tratamento para a doença”, revelou Andrade.
O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima 704 mil novos casos de câncer por ano no Brasil4 entre 2023 e 2025. Mama, próstata, cólon, reto e pulmão são os tipos mais prevalentes. Dentre as inovações tecnológicas para o tratamento dessas condições, estão as terapias alvo-moleculares, imunoterapias (com uso dos chamados checkpoint inhibitors) e testes genéticos para personalização de tratamento. Esses avanços são impulsionados por pesquisas clínicas, que são trabalhadas com intuito de ofertar opções terapêuticas eficazes e específicas para essas doenças.
“As doenças oncológicas são umas das que mais afetam a população mundial e têm um impacto grande no custo-benefício e de tratamento. Muitas vezes, trata-se de uma doença que afeta um grupo pequeno, mas somado, esse número é grande devido ao tamanho continental do Brasil”, ponderou Cerri, da USP.
Dentre os exemplos na área, a medicina de precisão está em evidência para os próximos anos no campo da inovação. Nesse cenário, a AbbVie investe em tecnologias voltadas à genética e genoma, convergência de dados, degradação de proteínas direcionadas, conjugado anticorpo-droga e moléculas biespecíficas para tumores. Essas ferramentas inovadoras de tratamento são voltadas a soluções para condições de saúde complexas e que acometem milhões de brasileiros.
Algumas inovações recentes ilustram bem como os avanços científicos têm ampliado as possibilidades terapêuticas, como o epcoritamabe, o primeiro anticorpo biespecífico aprovado no Brasil para o tratamento do linfoma difuso de grandes células B, um tipo agressivo de câncer hematológico. A terapia representa uma nova abordagem ao engajar simultaneamente as células tumorais e as células T do sistema imunológico.
Outro exemplo é o venetoclax, indicado para determinados tipos de leucemia. Diferentemente dos tratamentos contínuos, ele pode ser administrado por um período fixo de tempo. Dessa forma, possibilita que alguns pacientes não precisem de tratamento por um intervalo prolongado – isso representa um avanço não só clínico, mas também do bem-estar do paciente e na previsibilidade do cuidado.
No campo da neurologia, por exemplo, recente pesquisa estima que mais de 500 mil brasileiros acima dos 50 anos convivem com a Doença de Parkinson. No estudo, a projeção é que o número possa ultrapassar 1,2 milhão de casos até 20605, uma condição neurodegenerativa, progressiva e sem cura até o momento.
Enquanto isso, o acidente vascular cerebral, popularmente conhecido como AVC ou derrame, configura-se como a segunda maior causa de morte no país. Ambos acometimentos têm, entre muitos itens em comum, o fato de serem potencialmente incapacitantes para o indivíduo.
Nesses cenários, uma das principais oportunidades de inovação está justamente na construção de linhas de cuidado mais estruturadas e integradas, que garantam diagnóstico precoce, acesso contínuo a terapias, reabilitação e suporte multidisciplinar.
Apesar de avanços tecnológicos promissores – como o uso de inteligência artificial para o rastreio de demência e o desenvolvimento de terapias celulares específicas –, o grande salto está na organização de redes assistenciais mais resolutivas, ao colocar o paciente no centro do cuidado e com menor fragmentação do sistema.
“Já é visto que alguns algoritmos de IA são usados para o diagnóstico ao ajudar, por exemplo, o médico a identificar uma hemorragia intracraniana seja pelo quadro clínico ou em um exame de imagem, como tomografia computadorizada ou ressonância magnética. Sabemos que, quando essa condição não é diagnosticada, há sérias consequências para o paciente”, exemplifica o médico.
O Programa Mais Acesso a Especialistas, do Ministério da Saúde, também pode ser citado como exemplo que visa a integração de ferramentas tecnológicas estratégicas ao sistema de saúde. O intuito é oferecer consultas com especialistas e acesso a exames com menor burocracia, de forma mais rápida, integrada e digital. As especialidades contempladas até o momento são oncologia, oftalmologia, cardiologia, ortopedia e otorrinolaringologia. A previsão é que mais de 8,8 milhões de brasileiros sejam beneficiados pelo programa.
As doenças autoimunes e imunomediadas, incluídas no rol da imunologia, também devem se beneficiar das inovações tecnológicas aplicadas à saúde. Estima-se mais de 80 doenças autoimunes reconhecidas pela medicina, sendo que próximo de 4% da população mundial convive com alguma doença desse perfil, segundo dados do National Institutes of Health (NIH).6
O investimento em pesquisa clínica e em tecnologia estimula o desenvolvimento de novos remédios biológicos e terapias moduladoras do sistema imune, determinantes para o curso dessas doenças como artrite reumatóide, Crohn, psoríase e lúpus. Apenas no Brasil, estima-se que o lúpus acometa entre 150 e 300 mil pessoas.7
A AbbVie tem uma série de tratamentos voltados às condições incluídas nessas categorias, de forma a procurar por opções que tragam benefícios a longo prazo: “Temos buscado, de fato, olhar para os medicamentos e patologias possamos fazer diferença tanto para a população quanto para o sistema de saúde”, diz a gerente da empresa. Nessa perspectiva, há o reforço sobre a abordagem a partir do modelo de Saúde Baseada em Valor.
O papel da colaboração público-privada
Para isso, os especialistas pontuam a importância de uma colaboração público-privada com intuito de possibilitar a ampliação do acesso às soluções terapêuticas avançadas pela população. Hospitais, clínicas, indústrias farmacêuticas, universidades aliadas às esferas governamentais têm o potencial de elevar o acesso tanto a medicamentos quanto a tecnologias por meio de parcerias estratégicas com foco em oferecer as melhores opções aos pacientes.
“Precisamos sentar à mesa com todos os players desse cenário para tomar uma decisão em conjunto. Os mecanismos e formas de metodologia de ação de avaliação podem sim ser revisados de uma maneira que possa ponderar a necessidade médica não atendida, também com as metodologias existentes”, observa Andrade, da AbbVie.
Cerri também pontua na questão da regulação desses recursos inovadores, de forma que as agências reguladoras têm de revisar e atualizar suas diretrizes: “É importante criar marcos regulatórios para novas tecnologias, os processos regulatórios têm que ser ágeis para se adequarem à nova realidade. Não se pode demorar muito para avaliar, principalmente na área da saúde. Esse é um processo dinâmico e é possível se dar mais eficiência a ele. Afinal, há pessoas que dependem disso para seus tratamentos e melhoria da qualidade de vida”, reflete o médico.
De acordo com Andrade, da AbbVie, os processos regulatórios são essenciais nesse processo de incorporação de uma terapia ao sistema de saúde público e suplementar.
Para a aprovação de um novo tratamento, o caminho é longo e fragmentado. No Brasil, o medicamento deve passar primeiro pela avaliação da Anvisa. Após a liberação, está apto para ser incluído no rol de medicamentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), tornando-se acessível ao setor privado.
Vale lembrar que os preços dos medicamentos no país são definidos e regulados pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), vinculada à Anvisa. Esse processo considera, entre outros fatores, o valor terapêutico da molécula, sua inovação frente a opções existentes e benchmarks internacionais — o que significa que os valores não são fixados unilateralmente pela indústria, mas seguem critérios técnicos estabelecidos pelo governo.
Após uma série de etapas desse processo, que pode levar até 270 dias entre a avaliação da Anvisa e a recomendação da Conitec, a trajetória até o paciente é grande.
No caso de medicamentos adquiridos via compras centralizadas, é preciso aguardar também os processos de aquisição e distribuição da medicação. “Quando olhamos no cenário do sistema público, por exemplo, pode-se levar de dois a três anos para um medicamento estar disponível ao paciente, mesmo após aprovação da Anvisa e recomendação positiva da Conitec”, diz a executiva.
Essa realidade é ainda mais desafiadora em áreas como a oncologia, hematologia, neurologia e outras especialidades, cujas aquisições nem sempre seguem o modelo de compra centralizada, o que pode gerar desigualdade de acesso entre as regiões do país.
Segundo relatório publicado pela Fifarma em 2024, os pacientes latino-americanos aguardam, em média, quase cinco anos pelo acesso a um medicamento inovador. Na média, os pacientes esperam cerca de três anos pela aprovação do medicamento e, após esse período, mais dois anos para o acesso. Geralmente, esse acesso é iniciado por meio do setor privado. No levantamento, foram considerados oito países da América Latina, sendo o Brasil um deles.
Nesse sentido, o diálogo e o foco nos benefícios para o paciente são aspectos fundamentais para vencer os obstáculos no campo da saúde. Para isso, Andrade sinaliza a importância do investimento em saúde de forma a beneficiar tanto o paciente quanto a sociedade, com os menores impactos possíveis ao sistema de saúde.
Frente a longevidade e as doenças crônicas complexas, integrar esforços entre inovação e acesso será determinante para construir um futuro mais sustentável para o cuidado em saúde no Brasil. “Precisamos olhar para a saúde como um investimento, não como um gasto”, finaliza Andrade.
Material para público geral. BR-ABBV-250270. Julho/2025
Referências:
Disponível em https://www.paho.org/pt/noticias/28-6-2024-relatorio-da-opas-mostra-que-dcnts-continuam-sendo-principal-causa-morte-e. Acesso em junho de 2025.
Disponível em. https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2021/setembro/saude-apresenta-atual-cenario-das-doencas-nao-transmissiveis-no-brasil. Acesso em junho de 2025.
Disponível em https://oglobo.globo.com/saude/noticia/2024/07/24/81percent-dos-adolescentes-no-brasil-tem-dois-ou-mais-fatores-de-risco-para-doencas-como-cancer-saiba-quais.ghtml. Acesso em junho de 2025.
Disponível em https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/noticias/2022/inca-estima-704-mil-casos-de-cancer-por-ano-no-brasil-ate-2025. Acesso em junho de 2025.
Disponível em https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2025/04/13/brasil-pode-ter-mais-de-1-milhao-de-pessoas-com-parkinson-em-2060-aponta-estudo.ghtml. Acesso em junho de 2025.
Disponível em https://nationalstemcellfoundation.org/glossary/autoimmune-disease. Acesso em junho de 2025.
Disponível em https://fifarma.org/pt/waitindicator2024/. Acesso em junho de 2025.
Disponível em https://www.paho.org/annual-report-2017/Portugues.html#:~:text=Onze%20pa%C3%ADses%20elaboraram%20estruturas%20normativas,contabilidade%20nacional%20para%20a%20sa%C3%BAde. . Acesso em julho de 2025.
Disponível em https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/a/avc. Acesso em julho de 2025.
Disponível em https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC10953738/. Acesso em julho de 2025.
Disponível em https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/saps/redes-de-atencao-a-saude#:~:text=A%20Rede%20de%20Aten%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0,Linhas%20de%20Cuidado%20uma%20delas. Acesso em julho de 2025.