As energias renováveis consolidaram o último ano como liderança global em custos de geração elétrica, com 91% dos novos projetos entregando eletricidade mais barata do que qualquer alternativa fóssil. Apesar do avanço, o estudo mais recente da Agência Internacional para Energias Renováveis (IRENA) alerta para entraves que podem comprometer o ritmo da transição energética, especialmente em mercados emergentes.
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No Brasil, o avanço renovável manteve o país como destaque no cenário global. Quarto colocado mundial em novas adições de fontes renováveis em capacidade no último ano – atrás apenas de China, Estados Unidos e União Europeia –, o país continua sendo um dos mais competitivos em custos de geração. A energia eólica onshore alcançou custos médios de US$ 30 MWh, praticamente empatando com a China, enquanto a solar fotovoltaica atingiu US$ 48 MWh, reforçando a competitividade frente a combustíveis fósseis.
A matriz elétrica brasileira ainda é dominada pela hidrelétrica, que responde por mais de 50% da geração, mas solar e eólica ganham espaço. Esse avanço está associado a políticas de contratação estáveis, como os leilões de contratos a longo prazo indexados, que reduzem riscos cambiais e de execução contratual, permitindo custos de financiamento mais baixos. A previsibilidade regulatória é apontada como essencial para manter o fluxo de capital estrangeiro em mercados emergentes como o Brasil.
Contudo, o país também enfrenta desafios para a integração das renováveis. A agência internacional observa que o armazenamento e a flexibilidade de rede ainda estão em fase inicial, elementos que serão cruciais para evitar atrasos na conexão de novos projetos e otimizar o despacho em um sistema cada vez mais dependente de fontes variáveis. Investimentos em modernização e expansão de redes serão determinantes para sustentar o ritmo acelerado da transição.
O relatório destaca os benefícios não contabilizados nos leilões e seus contratos, como ganhos de saúde pública e segurança energética. Segundo os dados do estudo da IRENA, o Brasil economizou no ano passado US$ 28,3 bilhões em custos de combustíveis fósseis e US$ 3,9 bilhões em danos evitados por poluição atmosférica. Esses números reforçam o valor estratégico das renováveis não apenas para o combate às mudanças climáticas, mas também para a economia e o bem-estar social.
Expansão mundial de renováveis e custos em queda encontram desafios estruturais
A expansão das renováveis em 2024 foi recorde, com 582 GW de capacidade adicionada globalmente – um aumento de quase 20% em relação ao ano anterior. Impulsionada sobretudo pela solar fotovoltaica, responsável por 77% desse crescimento, a matriz elétrica mundial atinge agora 4,4 mil GW de capacidade renovável instalada.
Os custos médios nivelados de eletricidade (LCOE, na sigla em inglês) continuaram a cair: projetos eólicos onshore ficaram 53% mais baratos que as alternativas fósseis mais econômicas, enquanto a solar PV apresentou preços 41% inferiores.
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A análise da IRENA aponta, no entanto, um cenário heterogêneo. Embora Ásia, África e América do Sul apresentem espaço para reduções de custo mais expressivas, Europa e América do Norte enfrentam desafios estruturais, como gargalos de licenciamento, custos de infraestrutura e tarifas comerciais.
Geopolítica e tensões nas cadeias de suprimento – com destaque para a concentração produtiva na China – são fatores adicionais de risco de alta de custos no curto prazo.
Além dos custos de geração, surgem como barreiras os investimentos em infraestrutura para integração das renováveis. A necessidade de redes elétricas mais flexíveis e sistemas de armazenamento para acomodar fontes variáveis como solar e eólica é um dos pontos críticos destacados no relatório.
A queda de 93% no preço de baterias desde 2010 é positiva, mas o ritmo de implantação de soluções híbridas e digitalização ainda é insuficiente frente à meta global de triplicar a capacidade renovável até 2030, estabelecida no COP28.
Globalmente, o relatório chama a atenção para o papel das tecnologias capacitadoras, como sistemas híbridos (solar e baterias) e ferramentas digitais com inteligência artificial para gestão em tempo real.
Estas soluções podem mitigar custos adicionais de integração, que em mercados de alta penetração renovável já chegam a US$ 0,03/kWh, segundo o estudo. Além disso, políticas industriais estratégicas, como o Inflation Reduction Act nos EUA e o Green Deal Industrial Plan da UE, mostram impacto positivo ao atrair investimentos, apesar de custos marginais mais elevados.
A IRENA reforça que, embora os custos de geração sigam em queda no longo prazo, o futuro próximo demandará atenção redobrada a fatores macroeconômicos e de mercado. Em regiões com maiores riscos percebidos, o custo de capital continua sendo um obstáculo: na África, por exemplo, o Custo Médio Ponderado de Capital (WACC, na sigla em inglês) alcança 12%, contra 3,8% na Europa.
Essa diferença amplifica o peso do financiamento no custo da energia e evidencia a importância de instrumentos como contratos de longo prazo para reduzir a percepção de risco.