Precisamos falar sobre o futuro da educação digital

A nova política de educação à distância (EAD), formalizada pela Portaria MEC 1.081/2024, traz avanços importantes ao debate sobre a educação digital. Ao definir percentuais mínimos de carga horária síncrona e aulas presenciais para cada modalidade de curso, busca garantir um padrão de qualidade para os estudantes – algo essencial em nosso país, onde 65% dos ingressantes no ensino superior optam pelo ensino remoto.

É inegável que o EAD e o ensino digital trouxeram inclusão. Anualmente, 3,3 milhões de estudantes ingressam em cursos à distância, segundo o Inep. Para muitos deles, essa é a única chance real de cursar uma graduação.

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O Brasil tem cerca de 32 milhões de jovens, dos quais 21% são NEETs (sigla em inglês para quem não estuda nem trabalha, em tradução livre) e 40% ocupam postos de baixa qualificação. Apenas 27% dos concluintes do ensino médio ingressam no ensino superior no ano seguinte, e a evasão nos cursos é alarmante. Isso tudo em um país onde o ensino superior ainda multiplica a renda média em até 2,5 vezes. Temos o desafio de aumentar a produtividade e a competitividade perante os mercados globais.

É urgente uma agenda que caminhe junto com a revolução tecnológica em andamento, favorecendo a inclusão dos futuros profissionais no mercado de trabalho ou os preparando para empreender. Para isso, o diálogo direto entre universidades e o mercado deve ser cada vez mais encorajado, sintonizando o ensino com os sonhos e urgências de uma juventude conectada, cada vez mais consciente de que teoria e prática devem caminhar juntas na formação profissional.

Devemos nos perguntar quais conhecimentos e habilidades os estudantes estão adquirindo no ensino superior. Estamos formando cidadãos conscientes e, ao mesmo tempo, preparados para ingressar no mundo do trabalho? As respostas a estas questões independem da modalidade de ensino.

O próximo passo desse debate deveria mirar mais alto: o redesenho dos próprios programas de graduação. A estrutura atual ainda reflete um modelo engessado, em muitos casos excessivamente teórico e pouco conectado ao dinâmico mundo do trabalho atual.

É preciso romper com o modelo dos quatro anos fechados e construir trilhas formativas mais modulares, que permitam ao aluno escolher disciplinas que combinem hard e soft skills conforme avança no curso. Esse conteúdo precisa estar constantemente atualizado, sintonizado com o mercado de trabalho. Algumas instituições de ensino já têm iniciativas nesta direção, com perspectivas promissoras.

Vale pensarmos na atualização das Diretrizes Curriculares Nacionais, com mais flexibilidade e foco em competências e empregabilidade, e na maior integração entre academia, empresas, terceiro setor e plataformas digitais, encurtando a distância entre formação e ocupação.

E aqui entra um ponto importante: o investimento social privado precisa ter um papel mais ativo nesse ecossistema, fomentando soluções educacionais de qualidade e de acesso gratuito ou acessível. Não se trata de substituição da universidade, mas de buscar uma complementaridade inteligente.

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Tecnologias digitais, de videoconferência a inteligência artificial, passando por simuladores e ferramentas adaptativas, oferecem um arsenal que pode enriquecer tanto a aprendizagem quanto a docência. Plataformas digitais, formações técnicas e cursos livres podem e devem ser grandes aliados na busca por qualidade na educação. Se bem utilizados, ampliam o acesso, personalizam a experiência e dão escala à nossa capacidade de formar bons profissionais.

O apoio à inclusão digital, com qualidade, deve ser visto como uma alavanca para produtividade e justiça social. E a educação à distância, com qualidade, não deve ser vista como apenas um formato, mas como parte da estratégia para construirmos o país que queremos.

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