O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, voltou a ser ouvido no Supremo Tribunal Federal (STF) na ação sobre a tentativa de golpe de Estado, em 2022, no Brasil. Nesta segunda-feira (14/7), o colaborador foi ouvido na condição de informante dos outros núcleos denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Antes, ele tinha sido ouvido como colaborador, pela Polícia Federal (PF) e no Supremo, e no interrogatório, como réu. Ele está sendo ouvido como informante e não como testemunha por também ser réu.
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Cid reforçou os principais pontos que vem dizendo em sua delação: a existência da minuta golpista, o pedido de financiamento das ações golpistas, a suposta entrega de dinheiro por Braga Netto, a ideia do senador Marcos Do Val de tentar gravar o ministro Alexandre de Moraes, a reunião de Bolsonaro com a deputada Carla Zambelli e o hacker Walter Delgatti e a cogitação de trocar comandantes a favor da ruptura institucional.
Cid voltou a detalhar que o ex-presidente Jair Bolsonaro recebeu o ex-assessor Filipe Martins e um jurista em novembro de 2022 no Palácio do Alvorada para discutir a minuta golpista. Segundo o colaborador, Bolsonaro não só leu a minuta golpista, como deu sugestões. Inclusive, tirando do texto a possibilidade de prisão de ministros do STF. O ex-presidente teria deixado apenas a prisão de Alexandre de Moraes. “Ele enxugou o documento”, reforçou.
O militar contou que foram feitas reuniões em que a minuta golpista foi levada ao ex-presidente. O texto teria duas partes: uma inicial, com “considerandos” levando em conta as interferências do STF e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no governo Bolsonaro e nas eleições; e uma segunda parte mais jurídica, trazendo opções de estado de defesa, de sítio, prisão de autoridades, além da criação de um conselho eleitoral para refazer as eleições que seriam anuladas.
Ele também afirmou que houve um encontro de Bolsonaro com o hacker Walter Delgatti, intermediado pela deputada Carla Zambelli (PL-SP), no Palácio da Alvorada, em 2022. O colaborador disse ainda que o Major Rafael Oliveira pediu o monitoramento de Moraes e ele perguntou para o militar Marcelo Câmara se era possível.
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Cid também citou que Marcos Do Val propôs gravar o ministro Alexandre de Moraes porque eles seriam próximos. O ex-ajudante de ordens também destacou que a cúpula do governo de Bolsonaro chegou a cogitar trocar os comandantes após o general Freire Gomes e o brigadeiro Baptista Jr negarem qualquer ruptura institucional.
Reunião em Goiânia
O ex-ajudante de ordens relatou que, em uma reunião em Goiânia, militares indignados com a derrota de Bolsonaro nas urnas pediram a ele para marcar um encontro com o general Braga Netto para pensarem em algo. Depois, esses militares se encontraram no apartamento do general, em Brasília (DF). Eles eram integrantes dos kids pretos, esquadrão de elite das Forças Armadas. Segundo a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), os kids pretos tinham planos de sequestrar e matar autoridades e tomar o poder.
Cid afirmou que o Major Rafael Oliveira pediu dinheiro para as ações golpistas e ele brincou: “R$ 100 mil?”. Depois, contou novamente que o Partido Liberal negou o dinheiro. Então, o ex-ajudante de ordens confirmou que recebeu do general Braga Netto dinheiro dentro de uma sacola de vinho para que fosse repassado ao major do Exército Rafael de Oliveira, integrante dos kids pretos, mas ele disse que não sabia precisar os valores.
Os depoimentos das testemunhas e do informante Mauro Cid estão ocorrendo por videoconferência com a participação de réus, advogados, membros do gabinete de Moraes e da PGR. Jornalistas credenciados estão acompanhando em uma sala do STF. Gravações estão proibidas.