A solidez de um mercado não se mede apenas por suas métricas de retorno e risco. Em um mundo atravessado por transformações geopolíticas, climáticas e sociais cada vez mais intensas, investidores e gestores são desafiados a olhar além da planilha e considerar fatores como resiliência, externalidades — positivas e negativas — e sustentabilidade de longo prazo. O investimento de impacto nasce desse chamado, não como contraponto à racionalidade financeira, mas como uma ampliação necessária de sua lente.
Nos últimos anos, o ecossistema de impacto no Brasil passou por um processo de consolidação que traz consigo inevitáveis tensões, críticas e revisões. Esse amadurecimento é natural e necessário para qualquer setor que evolui com seriedade. Estamos falando de uma abordagem técnica, orientada por evidências e cada vez mais estruturada em métricas, arcabouços regulatórios e mecanismos de accountability.
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O investimento de impacto parte da mesma lógica risco-retorno que rege o mercado tradicional. O que o diferencia é a incorporação intencional de uma terceira dimensão: o impacto socioambiental positivo, mensurável e diretamente relacionado às decisões de alocação de capital. Trata-se de uma abordagem que amplia o escopo analítico, sem enfraquecer os fundamentos econômicos. Risco e retorno continuam a ser avaliados com rigor — o que muda é a lente adicional com a qual os ativos são analisados, considerando também sua contribuição para a sociedade e o meio ambiente.
Essa distinção é fundamental para não confundir impacto com externalidade. Externalidades são efeitos indiretos — positivos ou negativos — decorrentes da atividade de uma empresa. Impacto, por sua vez, é resultado pretendido e mensurado, pois houve intencionalidade na estratégia de alocação de capital através do modelo de negócio selecionado. Impacto, diferentemente de externalidade, requer clareza de propósito, previamente definido, com base no tripé impacto-risco-retorno. A confusão desses conceitos, ainda frequente no mercado, compromete a qualidade das decisões de investimento.
Essa lente mais abrangente não ignora a complexidade envolvida na mensuração de impacto. Assim como risco e retorno não são conceitos absolutos, impacto também requer análise contextual, metodologias em constante evolução e transparência nas limitações de cada indicador. O campo vem se sofisticando com rapidez, com ferramentas que buscam oferecer comparabilidade, rastreabilidade e rigor técnico. Isso não elimina desafios, mas fortalece a credibilidade de uma estratégia que ganha tração no Brasil e no mundo.
O impacto não deve ser tratado como narrativa ou consequência indireta. Ele exige intencionalidade. Investir com impacto é, antes de tudo, tomar uma decisão estratégica e consciente de alinhar retorno financeiro com resultados positivos para a coletividade. Isso implica em escolhas, sobre onde investir, em que setores atuar, quais práticas fomentar e quais evitar. Trata-se de uma lógica de coerência, não de renúncia. Muitas vezes, ela permite a identificação de riscos invisíveis à análise tradicional, ao mesmo tempo em que revela novas oportunidades de criação de valor sustentável.
Há setores e modelos de negócio que, por definição, não se alinham a esse propósito. Isso não os invalida como opções de investimento sob outras teses, mas os exclui de uma abordagem comprometida com impacto mensurável e transformador. Essa clareza sobre limites e critérios é o que fortalece a identidade e a eficácia do campo de impacto. Em vez de prometer soluções universais, o setor se compromete com decisões baseadas em contexto, evidência e propósito.
No Brasil, diversas iniciativas vêm reforçando essa construção: o avanço do blended finance, os marcos da Enimpacto, o fortalecimento de plataformas como a Eco Invest e a atuação de investidores que alinham retorno e impacto mostram que essa agenda é viável, escalável e alinhada às exigências do nosso tempo. Mais do que uma vertente alternativa, o impacto se consolida como uma estratégia relevante para a resiliência do sistema econômico.
A Aliança pelo Impacto atua há mais de uma década nesse campo, promovendo conexões entre mercado, sociedade civil, políticas públicas e regulação. Nosso compromisso é com a consolidação de uma abordagem técnica, transparente e legítima, capaz de contribuir com as transformações que a sociedade brasileira demanda.
Acreditamos que o impacto não substitui a lógica de mercado, mas a complementa e, cada vez mais, se mostra indispensável para sustentar o valor no longo prazo. O investimento de impacto não é antagônico ao mercado. Ele é parte da sua evolução.