Polarização 2.0: desafios das chapas presidenciais de 2026

A polarização deve continuar marcando o cenário político brasileiro em 2026. É o que mostra pesquisa Datafolha divulgada neste mês pelo jornal Folha de S.Paulo.

De acordo com a pesquisa, em cinco dos seis cenários pesquisados para o 1° turno, o presidente Lula (PT) tem a liderança de intenções de voto. Em um desses cenários, entretanto, ele empataria com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), inelegível até 2030.

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Já no segundo turno, o atual mandatário empataria tecnicamente com Bolsonaro e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). A pesquisa mostra que enquanto Lula mantém a liderança na maioria das simulações de cenários de primeiro turno, ele perdeu força nos de segundo turno.

No campo da esquerda, Lula segue sendo o único nome competitivo, com hegemonia sobre a base progressista. Quando foi eleito em 2022, havia uma percepção de que ele preparava Fernando Haddad para sucedê-lo, mas, passados três anos de governo, essa hipótese perdeu força –  sua posição como ministro da Fazenda o colocou na linha de frente de decisões econômicas complexas e, muitas vezes, impopulares.

A busca pelo equilíbrio fiscal, as discussões sobre a reforma tributária e a gestão de expectativas em um cenário de inflação e juros altos são temas que, inevitavelmente, geram desgaste político, especialmente para quem busca uma projeção eleitoral mais ampla. Como saldo, Haddad sai enfraquecido do Ministério da Fazenda, com sua imagem pública desgastada. Além disso, ele não conta com apoio unânime dentro do próprio PT, o que adiciona uma camada de dificuldade à sua viabilidade como candidato.

O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), mantém o tom diplomático e diz que o “candidato natural” em 2026 é Lula. Questionado se deve repetir a chapa com o petista no ano que vem, Alckmin disse que ainda é cedo para uma decisão. Hoje, a leitura predominante é que Lula será o nome da esquerda em 2026, e não há, até o momento, alternativa visível a isso.

Na direita, o cenário é o oposto. Há muitos nomes disputando o espaço, divididos basicamente em dois grupos. O primeiro é o grupo com apoio direto de Jair Bolsonaro, que já sinalizou preferência por candidaturas próximas à família, como a da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro ou do deputado Eduardo Bolsonaro.

O segundo grupo é composto por nomes competitivos da direita institucional, com trajetórias próprias e base eleitoral consolidada: Eduardo Leite (PSD), Ratinho Júnior (PSD), Ronaldo Caiado (União Brasil), Romeu Zema (Novo) e Tarcísio.

O governador de São Paulo, embora tenha autonomia política e mantenha uma postura mais técnica, ainda é visto como próximo de Bolsonaro, por ter sido eleito com apoio do ex-presidente e seguir alinhado em pontos estratégicos. No entanto, do ponto de vista de Bolsonaro, qualquer nome fora da família ou do círculo de confiança representa um risco — especialmente considerando que a pauta da anistia a ele e seus aliados estará em jogo em 2026. Isso faz com que a definição da candidatura da direita passe, em parte, por esse cálculo de segurança pessoal do ex-presidente.

A grande questão, portanto, é quem será o candidato da direita e como será composta essa aliança sem que haja fragmentação da força política. A dúvida central está em saber se a liderança dessa chapa será de um bolsonarista com um vice de centro-direita ou se será o inverso: um nome da centro-direita com o apoio explícito de Bolsonaro.

Hoje, a fórmula que mais se desenha como competitiva contra Lula é a de Tarcísio como cabeça de chapa, com Michelle ou Eduardo como vice. Nesse arranjo, o comando da candidatura ficaria mais próximo do centrão, ainda que mantendo a benção bolsonarista. Apesar do alinhamento com Bolsonaro, Tarcísio conseguiu construir pontes com legendas como PP, Republicanos e o PSD de Gilberto Kassab — o que o posiciona como um nome mais palatável e de maior convergência entre forças de centro e direita.

Até 2024, Lula vinha com favoritismo contra qualquer outro candidato, mas em 2025, especificamente, houve uma queda acentuada na aprovação do governo. A rejeição subiu para 57%, puxada por uma série de fatores. Entre as medidas impopulares destacam-se a reforma do ensino médio, que gerou forte resistência de estudantes e educadores, a política de preços dos combustíveis, que manteve a alta percebida pelo consumidor, e a dificuldade em controlar a inflação em setores essenciais.

Os problemas de comunicação institucional do governo também contribuíram para essa percepção negativa, com falhas na articulação e na explicação de políticas públicas, deixando o Executivo vulnerável a narrativas adversas. Paralelamente, houve uma ofensiva mais articulada da oposição, que passou a criticar abertamente e com constância a gestão federal, capitalizando sobre as fragilidades e as insatisfações populares.

No caso de Tarcísio, existe um dilema claro. Como governador de São Paulo, ele está em posição confortável para buscar a reeleição — não há, hoje, um nome competitivo o suficiente para ameaçá-lo no estado. Por outro lado, se optar por não disputar a Presidência agora, corre o risco de perder a janela de oportunidade que se abriu em 2026. Em 2030, o cenário pode estar mais fragmentado ou mais fechado, e a chance de enfrentar outro candidato com chances reais de vitória pode não se repetir.

No campo do centrão, a disputa interna por uma candidatura própria ainda está em andamento. O PSD, por exemplo, tem dois nomes se movimentando: Eduardo Leite e Ratinho Júnior. Já o União Brasil mantém Ronaldo Caiado como pré-candidato, apesar de ele não contar com consenso interno. À medida que o calendário avança, é provável que essas pré-candidaturas se reorganizem.

Muitos dos nomes hoje colocados como candidatos podem acabar compondo alianças, retirando suas pré-candidaturas em troca de espaço em uma chapa ou de apoio programático. Também existe a possibilidade de todos esses nomes irem até o primeiro turno, mas já comprometidos a declarar apoio à direita — especialmente à eventual chapa formada por Tarcísio, Michelle ou Eduardo Bolsonaro — em um segundo turno contra Lula. Até as eleições de 2026 a única certeza que se mantém é de que a polarização será o centro das atenções.

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